O Amor verdadeiro

O Amor verdadeiro

Enquanto apresentava um estudo bíblico para um grupo de pessoas, um jovem fez uma declaração que me deixou pensativo: “Os adventistas são doutores em teologia, mas acho que ainda falta-lhes entender o real sentido do amor”. Ao dirigir-me para casa, lembrei-me das palavras de outros irmãos que igualmente alegavam haver falta de amor na Igreja. Imediatamente fui à Bíblia e li o “salmo do amor” – 1 Coríntios 13 – em busca de uma resposta à pergunta: O que é esse amor que, dizem, falta-nos?

Pela enésima vez li aqueles 13 versículos tão profundos. Três verdades se destacaram de imediato: (1) no verso 2 é dito que, ainda que possuamos qualquer dom espiritual, muito conhecimento cientí co e uma fé capaz de transportar montanhas, sem amor, de nada valem essas virtudes; (2) no verso 3, Paulo diz que, mesmo que distribuamos todos os nossos bens aos pobres e sejamos martirizados, sem amor, isso tudo de nada aproveita; (3) no nal do capítulo, o apóstolo termina dizendo que o amor é maior que a fé e a esperança. No entanto, o que realmente me chamou a atenção foram os versos 4 a 7. Há muitas semelhanças entre eles e o fruto do Espírito de Gálatas 5:22. Vejamos:

1 Coríntios 13 – O amor: é benigno, não se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, regozija-se na verdade, tudo suporta, tudo crê, tudo sofre, tudo espera. Gálatas 5:22 – O fruto do Espírito é: benignidade, domínio próprio, bondade, longanimidade/mansidão, delidade, paz/domínio próprio.

O próprio amor é a virtude que encabeça a lista de Gálatas 5:22. E se o amor é um dos “gomos” do fruto do Espírito Santo, mesmo que nos esforcemos, jamais poderemos fabricá-lo. Não existem estratégias ou métodos que nos façam sentir amor pelos irmãos.

O amor provém do Espírito de Deus. Sem comunhão com Deus, portanto, não pode haver amor. O correto não seria dizer: “A Igreja precisa de mais amor”. Nossa maior necessidade é a presença do Espírito Santo na vida. De nada adianta uma adoração “animada” por palavras de ordem, ou barulho; assim como de nada adianta uma simpatia forçada de uns pelos outros, ao convite de “vamos apertar a mão de quem está ao nosso lado”. A alegria do louvor e a simpatia entre os irmãos só existirão na medida em que cada um buscar o Espírito de Deus.

Muitos abandonam a Igreja alegando falta de amor por parte dos irmãos. Outros dizem que a Igreja é “parada”, “desanimada”, “morna”. Não se daria o caso de haver falta do fruto do Espírito em suas vidas?

Precisamos do Espírito Santo habitando o templo do nosso coração. Mas como fazer isso? O discípulo do amor nos dá a resposta. Em sua terceira carta, João refere-se a Gaio, exemplo de fidelidade e amor aos membros da Igreja, um homem que andava “na verdade” (verso 3). João menciona, também, Demétrio, de cuja vida a própria verdade dava testemunho (verso 12). Numa carta que trata da aplicação prática do cristianismo na vida individual, João associa o amor à verdade.

Isso é evidência inquestionável de que não pode haver amor na desobediência deliberada aos princípios bíblicos. Cristo mesmo disse: “Se Me amardes, guardareis os Meus mandamentos” (João 14:15). Veja: amor e obediência à verdade, uma vez mais, de mãos dadas. A verdade sem o amor é fria e formal, correta mas não cativante. O amor sem a verdade é mal orientado e desonesto. Por isso, como escreveu Ellen White, “o mais forte argumento em favor do evangelho é um cristão que sabe amar e é amável” (A Ciência do Bom Viver, p. 470).

Obediência mediante a comunhão com Cristo: eis o segredo. Mantendo uma relação viva com Jesus, tornamo-nos participantes da natureza divina (1 Pedro 1:4), o que nos dá a capacidade de sentir um amor puro e desinte-

ressado pelos outros. “Caso exista no coração a divina harmonia da verdade e do amor, resplandecerá em palavras e ações” (O Lar Adventista, p. 426).

“O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as nossas mãos tocaram, isto proclamamos com respeito ao Verbo da vida” (1 João 1:1). Neste texto, o verbo “contemplar” (Theomai) é diferente do verbo “ver” (Horao). Contemplar aqui signi ca uma experiência compenetrada para descobrir algo ou alguém. Portanto, precisamos contemplar a Cristo mais do que fazemos, para que o Espírito de Deus tome posse de nosso coração e transforme-nos a vida. Assim, “os pensamentos pecaminosos são afastados, renunciadas as más ações; o amor, a humildade e a paz tomam o lugar da ira, da inveja e da contenda. A alegria substitui a tristeza, e o semblante re ete a luz do Céu” (O Desejado de Todas as Nações, p. 173). Esse é o segredo do verdadeiro amor.