8 de março de 2017

Sermão: Quem é meu próximo?

Sermão: Quem é meu próximo?

Quem é o meu próximo?

 

Texto bíblico: “Ora aquele que possuir recursos deste mundo, e vir a seu irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o coração, como pode permanecer nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade. E nisto conheceremos que somos da verdade, bem como, perante ele, tranquilizaremos o nosso coração”. (I João 3:17-19)

 

INTRODUÇÃO

Dados sobre a fome no mundo:

  • De acordo com a ONU, cerca de 900 milhões de pessoas no mundo passam fome diariamente.
  • Cerca de 24 mil pessoas morrem de fome todos os dias no mundo. Este número é assustador, pois são quase 9 milhões de pessoas por ano. Isto representa 17 pessoas por minuto, em sua maioria crianças de 0 a 5 anos.
  • Ao mesmo tempo, o equivalente a 750 bilhões de comida, vão parar no lixo todos os anos, mais do que suficiente para alimentar estes 900 milhões de pessoas. Isto significa que mais 1/3 da comida produzida no mundo vai para o lixo.
  • Eu tenho um problema com as estatísticas, porque elas reduzem as pessoas a números. Nesta manhã, eu quero te convidar a olhar muito além dos números. O que você vê? Eu vejo pessoas, pessoas como você e eu, pessoas pelas quais o Senhor Jesus deu a sua vida; pessoas muito preciosas aos olhos de Deus. Se as pessoas são especiais para Deus, elas deveriam ser especiais para nós também.
  • Estou aqui dando apenas um exemplo, que é o da fome. Poderíamos dar muitos outros exemplos que ilustram que vivemos em um mundo repleto de necessidades, físicas, emocionais e espirituais.
  • Mahatma Gandhi escreveu o seguinte: “O planeta tem o suficiente para saciar as necessidades dos seres humanos, mas não para as suas ambições”.

 

PARTE I – E aí, qual deve ser nossa reação?

 

  • Qual é a sua reação quando você ouve sobre estes números assustadores? Eu sugiro ao menos três reações prováveis:
  • Indignação por não concordar e por não aceitar tamanha desigualdade e injustiça.
  • Incapacidade por não poder resolver o problema. O problema é muito maior do que minhas possibilidades. O Pr. Paulo Lopes, diretor da ADRA DSA, trabalhou em Angola, África durante a guerra civil no início da década de 90. Ele conta de sua frustração ao ver tanta miséria, morte e dor ao seu redor e não ter a capacidade de fazer mais para ajudar as pessoas. Ele fala que esta incapacidade o fazia sentir-se culpado até mesmo por ter suficiente comida na mesa todos os dias, enquanto tantos estavam passando fome e sofrendo por causa da guerra naquele país.
  • Omissão e indiferença: Ignorar que o problema existe, achar que não é seu problema, que é um problema do governo, das organizações humanitárias, ou até mesmo, dos pobres. Em outras palavras, desculpas, desculpas e mais desculpas. Para mim, esta é a pior das reações.
  • Convido-vos a ler Tiago 4:17: “Portanto aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz, nisso está pecando”. De que pecado fala Tiago? Do pecado da omissão, da indiferença. O pecado de saber o que dever ser feito e não fazer.
  • Será que este não é mesmo um problema nosso, seu, meu, da igreja? Se você estudar atentamente a sua Bíblia, você vai encontrar mais de 2 mil textos onde Deus trata o assunto da pobreza e da injustiça social, sempre convidando o seu povo para ser parte da solução para estes problemas. Se este é um tema tão exaustivo na bíblia, é porque ele é muito importante para Deus, portanto, deveria ser muito importante para a igreja, para você e para mim, porque nós somos a igreja.
  • Já ouvi muitas vezes dizer que a igreja tem responsabilidade social, mas não estou de acordo com este termo. As empresas têm responsabilidade social, mas não a igreja. Queridos, a responsabilidade de cuidar de nosso próximo sofredor, de nosso irmão que passa necessidade é uma responsabilidade espiritual. Nunca se esqueçam disto. Nossa religião resume se em duas coisas: amar a Deus sobre todas as coisas e ao nosso próximo como a nós mesmos.
  • Em linha com o texto de Tiago 4:17, notem o que a escritora Ellen White escreveu: “Os que são indiferentes às necessidades dos desvalidos (sofredores) serão considerados mordomos infiéis, sendo registrados como inimigos de Deus e dos homens”. (Beneficência Social p.19). Forte não, eu não gostaria de ser inimigo de Deus e tenho certeza que você também não. Portanto, cuidemos de nosso próximo sofredor.

 

PARTE II – Indiferença e omissão versus compaixão. De que lado você está?

  • O que diz mesmo Tiago 4:17? Este, queridos, é o pecado da omissão, da indiferença. O pecado de saber o que se deve fazer, mas não o fazer.

Vamos abrir agora nossa Bíblia em Lucas 10:1-37 e analisar esta história para ilustrar tudo que falamos até aqui. É uma história muito conhecida de todos nós.

  • Esta história fala de 4 personagens principais: o sacerdote, o Levita, o homem que foi atacado por bandidos, e o Bom Samaritano.
  • A pergunta que fazemos sobre esta história é a seguinte: Qual foi o pecado cometido pelo sacerdote e o Levita? Foram eles que atacaram aquele homem, que o roubaram e o abandonaram para morrer naquele caminho? Eles sabiam ou não sabiam o que deveria ser feito quando viram o homem caído no caminho?
  • Muitas vezes nos concentramos na ideia do pecado como sendo algo mal que fazemos, como fazer mal para uma outra pessoa por exemplo. Entretanto, tão pecado quanto fazer o mal, é deixar de fazer o bem que sabemos devemos fazer. É disto que fala Tiago 4:17. Deixar de fazer o bem que sabemos que devemos fazer. E isto tem nome: indiferença e omissão.
  • Este foi o pecado cometido pelo sacerdote e o Levita e este é o pecado que cometemos todas as vezes que ignoramos as necessidades de nosso próximo.

 

Vamos tirar algumas outras lições importantes dessa história:

 

  • A história começa com uma pergunta, a pergunta mais importante que o ser humano pode fazer a Deus: “Mestre, que farei para herdar a vida eterna? “ Jesus responde com uma outra pergunta: “Que está escrito na Lei? “ Ama a Deus e ama ao seu próximo.
  • Depois o jovem faz uma segunda pergunta. Para mim, a segunda pergunta mais importante que devemos fazer a Deus: “Quem é o meu próximo? “
  • O Pr. Paulo Lopes fala de seu trabalho na Índia onde ele viveu com sua família por 5 anos. Ele conta das dificuldades de as vezes entender o que ele estava fazendo naquele país, ajudando hindus e muçulmanos. Pessoas que não compartem nossa fé. No caso dos hindus, um povo idólatra e que não crê no Deus que nós cremos. Até que ele se deparou com a seguinte citação de Ellen White: “Mostrou que nosso próximo não significa unicamente alguém da igreja ou da fé a qual pertencemos. Não faz referência a raça, cor ou distinção de classe. Nosso próximo é toda pessoa que carece de nosso auxílio”. (Beneficência Social p. 43).

 

Que é o meu próximo, quem é o teu próximo? Esta é a grande pergunta do sermão desta manhã.

 

  • Mais uma citação de Ellen White nos ajuda a responder esta pergunta: “Qualquer ser humano que necessite de nossa simpatia e de nossos préstimos é nosso próximo. Os sofredores e desvalidos de toda classe são nosso próximo; e quando suas necessidades são trazidas ao nosso conhecimento, é nosso dever aliviá-los tanto quanto nos seja possível”. (Beneficência Social p. 45).

 

Uma outra lição muito importante é sobre a atitude do Bom Samaritano

 

  • Vejamos o que diz Lucas 10:33 – “Certo samaritano, que seguia o seu caminho, passou lhe perto e, vendo-o, compadeceu-se A chave para a atitude do samaritano está na palavra COMPAIXÃO.
  • No Latim, compaixão é formada por duas palavras: CUM (com) PATIRE (sofrer). Ou seja, compaixão significa sofre com a outra pessoa. Como é que sofremos com a outra pessoa? Para sofrer com a outra pessoa, você precisa se colocar “dentro do sapato dela”.
  • Existe uma diferença entre compaixão e empatia. Empatia é reconhecer o sofrimento da outra pessoa. Compaixão por sua vez, tem um significado muito mais profundo, pois mais que reconhecer, é sentir o sofrimento da outra pessoa. É colocar-se literalmente dentro do sapato da outra pessoa.
  • Muitas vezes reconhecemos o sofrimento das pessoas e até sentimos pena delas. Mas muitas vezes o máximo que fazemos é dizer: vou orar por você. Queridos, orar é muito bom e importante, mas as pessoas necessitam mais do que nossas orações.
  • A empatia é passiva, a compaixão é ativa. A empatia sente pena, a compaixão nos leva a fazer alguma coisa a respeito do sofrimento do outro de uma forma concreta.
  • Exemplos de compaixão: Marcos 6:34 e Lucas 7:13. Nos dois casos Jesus reconhece o sofrimento e a necessidade das pessoas, ele sente compaixão por elas. Nos dois casos, a compaixão o leva a fazer algo concreto para solucionar o problema – curar e alimentar a multidão e ressuscitar o filho da viúva. Nunca se esqueçam: a compaixão é sempre ativa, ela sempre nos leva a fazer algo a respeito.

 

O que a compaixão faz – atitudes do samaritano (analisar o texto):

 

  • Parou – indica que ele teve que reconsiderar e reordenar suas prioridades. Ele abriu mão de suas prioridades. Para ajudar o próximo, temos de abrir mão de nossas prioridades, sejam elas quais forem. Abrir mão de nossas prioridades, significa colocar o outro no centro das atenções (altruísmo). Significa tirar o foco de nós (egoísmo e egocentrismo).
  • Inclinou-se – considerando que o homem estava ferido caído no caminho, o texto nos dá a entender que o samaritano teve que inclinar-se para poder ajudá-lo. Para ajudar o nosso próximo, temos de nos inclinar, ou seja, estar no mesmo nível do outro. O ajudar não nos faz melhores nem mais importantes do que o outro. Para inclinar-se, temos de abrir mão de nossos preconceitos, de nosso senso de superioridade em relação ao outro.
  • Cuidou – ele mesmo cuidou das feridas do outro. Ele não chamou o serviço de emergência. Madre Tereza de Calcutá é um grande exemplo de serviço. Ela pessoalmente limpava as feridas dos leprosos que eram trazidos aos seus cuidados. Um dia um homem importante estava visitando sua instituição de caridade na cidade Calcutá, Índia e ao ver a madre limpando as feridas dos leprosos ele perguntou a ela: “como você é capaz de tocar a um leproso? e acrescentou: eu não faria isto nem por muito dinheiro”. Ela sorriu para ele e disse: “eu também não o faria por dinheiro, mas todas as vezes que o faço, é como se eu estivesse fazendo para o Senhor Jesus”.
  • O levou com ele – ele o levou para uma hospedagem em seu próprio animal e cuidou dele, ou seja, passou tempo com ele. Para cuidar de nosso próximo, temos de abrir mão de nosso tempo e dar tempo e atenção para os outros. Quantos de nós estamos dispostos a fazê-lo?
  • Deu do seu dinheiro – no dia seguinte deixou dois denários com o hospedeiro e prometeu pagar a diferença caso necessário. Ou seja, para ajudar o nosso próximo, temos de abrir mão de nossos recursos, do nosso dinheiro. Quanto de dinheiro você separa para ajudar as pessoas?

 

Queridos, as pessoas não estão tão interessadas naquilo que temos de dizer ou pregar para elas. Não me compreendam mal, não estou dizendo que pregar não é importante. O que estou dizendo é que muitas vezes as pessoas necessitam de coisas muito mais concretas que simplesmente palavras ou nossas orações. Elas estão mais interessadas no quanto nos importamos com elas, com suas necessidades físicas, emocionais e espirituais. Somente depois, elas abrirão o coração para ouvir o que temos de dizer. Este foi o método de Jesus. Ele se misturava com as pessoas como alguém que queria o seu bem, ajudava-os em suas necessidades, ganhava a sua simpatia e depois os convidava para seguí-lo.

 

Agora, isto exige de nós abrir mão de nossas prioridades, de nosso tempo, de nossos preconceitos e de nossos recursos. Estamos dispostos a fazê-lo?

 

CONCLUSÃO

 

  • É muito fácil criticar a atitude do sacerdote e do levita da parábola, mas será que não fazemos exatamente o mesmo todos os dias quando ignoramos as necessidades de nosso próximo.
  • Para ajudar o nosso próximo, temos de abrir mão de nossas prioridades, nosso tempo, nossos preconceitos e nossos recursos.
  • A compaixão é ativa e sempre nos leva a buscar a solução para o problema. Não basta reconhecer a necessidade do próximo. Temos de fazer algo a respeito.
  • O meu próximo, é todo aquele que necessita de mim e não importa sua cor, raça, religião ou preferência política.

 

Finalmente,

 

  • Por favor, não pensem que estou pregando salvação pelas obras nesta manhã. A salvação sempre foi e sempre será pela fé e pela graça do Senhor Jesus. Entretanto, não nos esqueçamos que embora a salvação seja pela fé, seremos julgados pelas nossas obras, pois a fé que não opera, é uma fé morta. Se você tem dúvidas disto, leia Mateus 25:31-46.
  • A resposta para as duas perguntas feitas no início da história contada por Jesus: ou seja, o que devo fazer para ter a vida eterna e quem é o meu próximo? encontram sua resposta em Mateus 25:31-46 – “porque tive fome, e me destes de comer, tive sede, e me destes de beber, era forasteiro (refugiado) e me hospedastes, estava nu, e me vestistes, preso, e fostes ver-me. “
  • Em Mateus 25 vemos duas classes de pessoas: os que fizeram e os que não fizeram, aquilo que sabiam que deveriam ter feito. Vemos também dois resultados diferentes: salvação e perdição eterna.

 

Quem é o teu próximo? A qual destes dois grupos de Mateus 25 você quer pertencer?

 

Que Deus te abençoe

 

 

Pr. Paulo Lopes

Diretor da ADRA Divisão Sul Americana

28/07/2016