Está bem claro na Palavra de Deus que a prioridade do trabalho ministerial é desenvolver habilidades e competências nos membros da igreja para a obra do ministério segundo os dons (Ef 4:11-16). Todos os que fazem parte do corpo de Cristo devem unir seus esforços com os dos pastores e oficiais da igreja na missão de ir e fazer discípulos (Mt 28:18-19).
O pastor deve ser um especialista no evangelismo pessoal. Espera-se que, sob o seu comando, os membros se envolvam em diligente serviço de conquista de almas para Cristo. Esse é o grande desafio do ministério ao longo dos séculos: gerar novos discípulos que se reproduzam em outros discípulos – tarefa atribuída a todos aqueles que receberam a salvação em Cristo.
Para que a igreja experimente um crescimento qualitativo e quantitativo se faz necessário compreender as razões para o baixo envolvimento.
Apresentaremos dicas práticas que auxiliarão o pastor no recrutamento, envolvimento e capacitação da igreja, bem como atividades diversas em que os membros poderão se envolver. Também citaremos alguns conselhos do Espírito de Profecia quanto ao trabalho do pastor.
Compreendendo o baixo envolvimento
Estudos realizados na Igreja Adventista em várias regiões do mundo indicam que o envolvimento dos membros em projetos missionários está abaixo de 20 %1. Willian Johnson reconhece que, em muitos lugares, os membros veem o pastor como o único responsável pela assistência aos doentes e desanimados, pelas visitas e estudos bíblicos aos não cristãos e pelas reuniões religiosas. 2
Ao analisar a história, Hesselgreve indica outro fator que remove o zelo e o ímpeto missionário de uma congregação:
É fato notável na história, tanto na passada como na contemporânea, que o grau de compromisso da igreja com a evangelização do mundo é proporcional ao grau de sua convicção sobre a autoridade da Bíblia. Sempre que os cristãos perdem a sua confiança na Bíblia, eles também perdem o seu zelo pelo evangelismo. Inversamente, sempre que estão convencidos sobre a Bíblia, estão determinados sobre o evangelismo. 3 [sic]
Vanderlei Dorneles vê nas mudanças filosóficas, culturais e sociais que impactaram a sociedade nos últimos anos outro indicador que compromete os valores bíblico-cristãos e o cumprimento da missão. Neste caso, os cristãos precisam redefinir suas estratégias de evangelização e mobilização para alcançar o mundo pós-moderno4 .
Para George Knight, o liberalismo teológico, o relativismo atual e a falta de visão profética apocalíptica enfraquecem o envolvimento na missão e compromete o estilo de vida e a identidade do movimento5 .
Segundo Russell Burrill, o pastor é quem mantém a visão missionária da igreja por meio da pregação bíblica e da capacitação dos voluntários na igreja local de acordo com os dons. Na sua compreensão, o tempo do pastor deve ser gasto não tanto na realização de funções ministeriais, mas no treino, formação e supervisão6.
Razões para o baixo envolvimento
Alguns cristãos imaginam que o testemunho ou o evangelismo pessoal é apenas um programa ou exigência da igreja. O engajamento com o evangelismo pessoal é o resultado de uma experiência de conversão e dedicação a Jesus, é a resposta que o crente dá em relação ao sacrifício de Jesus na cruz do calvário. Você e eu testemunhamos não por interesse, mas porque amamos a Cristo (2 Co 9:14). Testemunhamos porque estamos apaixonados por Ele. Nossa vida não terá sentido se não a desfrutarmos segundo os propósitos de Deus e cumprirmos a Sua vontade.
No coração de cada crente deveria haver esse pensamento, mas o que se vê, em muitos casos, é o contrário. Vários podem ser os motivos da falta de preparo do membro que se dedica apenas ao serviço de adoração: ausência de confiança, de motivação, de comunhão diária ou mesmo insegurança quanto a salvação. Esses problemas são compreensíveis, tendo em vista a natureza humana caída.
Por outro lado, é bem provável que o membro não esteja participando por não conhecer o seu potencial. Nunca foi desafiado através do apelo do pastor a crescer e a se arriscar pela salvação de almas. É possível que jamais tenha sido treinado ou mesmo capacitado para conhecer a Bíblia, a fim de explicá-la ao povo. Além disso, é preciso levar em consideração que muitos não o fazem porque alegam que esta tarefa não é deles.
É importante notar que o pastorado deve levar a membresia a ter uma visão ampla do dever. Essa compreensão ampliada do plano da salvação resulta da verdadeira conversão promovida pelo Espírito Santo.
Dicas práticas para envolver os membros na missão
É de fundamental importância que o pastor realize o seu serviço pessoalmente, cuidando dos membros da igreja e permitindo que o Espírito Santo o use ao visitá-los. Demonstre que do mesmo modo como foi até eles, também deverão usar a influência pessoal para interagir de maneira intencional com amigos, parentes e vizinhos. Abaixo seguem algumas dicas de como o pastor pode ajudar os membros a se envolverem na missão divina:
- Visitando-os pessoalmente;
- Conscientizando-os do sacerdócio de todos os crentes;
- Realizando um teste de dons;7
- Criando na igreja uma atmosfera de reavivamento e reforma;
- Envolvendo a igreja no planejamento e no estabelecimento dos alvos;
- Mantendo um bom relacionamento com os líderes;
- Delegando pequenas atividades;
- Encontrando-se regularmente com a liderança;
- Organizando uma escola de capacitação missionária contínua de acordo com os dons;
- Criando na igreja um clima de motivação;
- Provendo material de qualidade;
- Supervisionando e ajudando os iniciantes;
- Demonstrando reconhecimento e gratidão, no aspecto pessoal e coletivo, em todas as iniciativas missionárias;
- Estabelecendo um projeto de colheita no primeiro ou segundo semestre;
- Orando pelos membros.
Um aspecto que não devemos desconsiderar é que, como líderes da igreja de Deus, o pastor e os seus assessores diretos devem se preocupar com os membros que não estão comprometidos com a conquista de pessoas para Cristo e que não se envolvem com o programa missionário da igreja. O membro que não dá testemunhos evidencia que algo está errado em sua experiência cristã. Não existe crente saudável que não esteja comprometido com a missão. Não existe experiência da salvação sem testemunho. A salvação é por meio da aceitação de Cristo como único e exclusivo Salvador (At 4:12), mas a permanência e o crescimento na vida cristã ocorrem por meio do envolvimento missionário. Sem envolvimento não há crescimento.
Conselhos do Espírito de Profecia quanto ao trabalho do pastor
Envolver a todos no serviço: “O melhor auxílio que os ministros podem prestar aos membros de nossas igrejas, não é pregar-lhes sermões, mas planejar trabalho para eles. Dai a cada um uma obra a fazer em prol de outros”8
A conclusão da obra: “A obra de Deus na Terra nunca poderá ser finalizada enquanto os homens e mulheres que compõem nossa igreja não cerrem fileiras, e juntem seus esforços aos dos ministros e oficiais da igreja”9.
Aproveitar o primeiro amor: “Quando almas se convertem, ponde-as a trabalhar imediatamente”10.
Necessidade de instrução e ânimo: “Muitos teriam boa vontade de trabalhar, se lhes ensinassem a começar. Necessitam ser instruídos e animados”11.
O segredo do crescimento na vida cristã: “Ensinem os pastores aos membros da igreja que, a fim de crescer em espiritualidade, devem levar o fardo que o Senhor sobre eles pôs – o encargo de conduzir almas à verdade”12.
Manter os membros ocupados: “O proprietário de um grande moinho encontrou uma vez seu superintendente a fazer qualquer simples reparo numa roda, ao passo que para ali, parados a olhar ociosamente, achavam-se meia dúzia de operários desse ramo. Havendo-se informado do fato, a fim de estar certo de que não faria injustiça, chamou o mestre ao seu escritório e entregou-lhe sua demissão, pagando-lhe integralmente. Surpreendido, o homem pediu explicação. Esta foi dada nas seguintes palavras: Empreguei-o para manter seis homens ocupados. Achei os seis ociosos, e o senhor fazendo o trabalho de um apenas. O seu trabalho poderia ter sido feito por qualquer dos seis. Não posso pagar o ordenado de sete para o senhor ensinar os seis a serem vadios”13.
Dicas para o pastor envolver a igreja de acordo com os dons
- Ore pedindo a visão e a motivação correta;
- Interiorize a visão e se imagine fazendo algo para Deus;
- Escreva sua visão de maneira clara;
- Compartilhe a visão com os seus liderados;
- Faça uma avaliação e descubra onde você está. Quais os resultados alcançados até agora? Verifique os seus pontos fortes e fracos;
- Elabore um planejamento de acordo com a sua realidade local;
- Envolva o grupo no planejamento e nas decisões. Aproveite as ideias dos liderados. Lembre-se que o planejamento envolve três etapas: antes, durante e depois;
- Estabeleça alvos alcançáveis, mensuráveis e desafiadores (metas de curto, médio e longo prazo);
- Descreva os métodos possíveis para alcançar as metas, e então selecione os melhores;
- Grandes metas se alcançam com uma boa equipe, por isso recrute, treine, inspire, delegue e supervisione de maneira inteligente, de acordo com os dons e as habilidades do grupo;
- Estabeleça um cronograma detalhado de execução das atividades;
- Faça um orçamento definindo suas fontes de recursos;
- Liste todos os responsáveis em cada ação programada;
- Estabeleça as datas para avaliar a efetividade de sua estratégia;
- Mantenha o seu grupo de apoio informado, através de reuniões periódicas;
- Reconheça o empenho da equipe e seja pródigo em elogios, comemore os resultados com eles;
- Não esqueça que a motivação deve ser sempre espiritual;
- Pense nos obstáculos que podem dificultar o alcance dos alvos e prepare-se para superá-los;
- Mantenha o grupo informado. Crie canais de comunicação fáceis de usar: banners, panfletos, faixas, murais, e-mail, site, facebook, vídeos, etc. Apresente feedback sobre o andamento do projeto;
- Forneça as ferramentas e os equipamentos necessários aos liderados;
- Não se esqueça: “O sucesso é resultado de 1% de inspiração e 99% de transpiração” sob a liderança divina.
Conclusão
A prioridade do trabalho pastoral é preparar os membros da igreja para a obra do ministério segundo os dons (Ef 4:11-16). Esse é o grande desafio do ministério ao longo dos séculos, gerar novos discípulos que façam constantemente outros discípulos, tarefa atribuída a todos aqueles que receberam a salvação em Cristo.
O plano de Deus não consiste e nunca consistirá no “domínio” do pastor sobre os irmãos, como se fosse superior a eles. Pelo contrário, o pastor é um servo de Deus chamado com uma missão específica para ser o promotor e coordenador do ministério pessoal de cada membro. Ou seja, um instrumento nas mãos do Onipotente para ajudar a engajar a igreja no uso dos dons que edificam o corpo de Cristo e auxiliam a cumprir a missão divina.
1 TIMM, Alberto R. Podemos Ainda ser Considerados Uma Igreja Missionária? Revista Adventista, n. 1, p. 8-10, fev. 2002.
2 JOHNSON, Kurt. Pequenos Grupos para o Tempo do Fim. São Paulo: Editora Sobre Tudo Ltda, 2000, p.18.
3 HESSELGREVE, D. J. Missões Transculturais: Uma Perspectiva Cultural. São Paulo: Editora Vida Nova, 1987, p. 35.
4 DORNELES, Vanderlei. Cristãos em Busca do Êxtase. Engenheiro Coelho: SP, Unaspres, 2006, pp. 35-40.
5 KNIGHT, George R. A Visão Apocalíptica e a Neutralização do Adventismo. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2010, pp.18-32.
6 BURRILL, Russell. Como Reavivar a Igreja do Século 21. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2005, p. 98.
7 Você pode encontrar o teste de dons acessando o link: <http://www.discipulado.nunci.org/descubra-o-seu-dom-espiritual>.
8 Serviço Cristão, p. 69.
9 Serviço Cristão, p. 68.
10 Review and Herald, 25 de junho de 1985.
11 Serviço Cristão, p. 59.
12 Obreiros Evangélicos, p. 200.
13 Serviço Cristão, p. 70.