A hora do poder

Nos escritos de Ellen G. White, a descrição dos resultados da comunhão diária com Deus

Ainda me lembro do dia em que, ainda criança, participei da chamada “primeira comunhão”, o sacramento da Ceia na igreja católica. A ideia era que, somente com essa prática, a pessoa já estava em comunhão com Deus, devendo repeti-la semanalmente, na missa, a fim de prestar conta pelos pecados cometidos. Porém, estaria a comunhão limitada a uma cerimônia, ou trata-se de uma experiência diária?

Nos escritos de Ellen G. White, encontramos declarações que enfatizam os benefícios e a maneira prática de se experimentar e manter comunhão com Deus. Neste artigo, destacamos algumas de suas afirmações a respeito do assunto, tendo em mente que “a comunhão com Deus é a vida do ser”.

Benefícios

Crescimento espititual. O cristão convertido deve crescer de maneira natural. É-nos dito que “a comunhão com Deus, mediante a oração, desenvolve as faculdades mentais e morais, e as espirituais se robustecem ao cultivarmos pensamentos sobre assuntos espirituais” (O Desejado de Todas as Nações, p. 71). A respeito da nossa absoluta dependência de Jesus, no processo desse crescimento, ela diz: “É pela comunhão com Ele, todo dia, toda hora – permanecendo nEle – que devemos crescer na graça” (Caminho a Cristo, p. 69). Então, “a fim de que tenhamos saúde e vitalidade no íntimo do ser, o Médico divino prescreve a comunhão com Ele” (Manuscrito 50, 9 de junho de 1901).

Vitória sobre o pecado. Na realidade do conflito entre o bem e o mal, “é necessário passar muito tempo em oração particular, em íntima comunhão com Deus. Unicamente assim se pode obter vitórias” (Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes p. 258). “A pessoa que ama a Deus se compraz em obter forças dEle, mediante constante comunhão com Ele. Quando a conversa com o Senhor se torna habitual, rompe-se o poder de Satanás” (Review and Herald, 3 de dezembro de 1889). Depois de haver recebido fortes influências do pecado, nos anos em que esteve no palácio do Egito, Moisés teve que erradicar muitas práticas perniciosas, por meio do “tempo, a mudança de ambiente e a comunhão com Deus” (Patriarcas e Profetas, p. 248).

Capacidade para cumprir a missão. “É impossível que alguém… desfrute comunhão com Ele e não sinta responsabilidade pelas pessoas por quem Cristo deu a vida” (Review and Herald, 21 de julho de 1891). “Mediante contínua comunhão [Jesus] recebia vida de Deus, de maneira a poder comunicar vida ao mundo. Sua experiência deve ser a nossa” (O Desejado de Todas as Nações, p. 363). Dirigindo-se a líderes da igreja, Ellen G. White menciona que eles “devem ser convertidos… pela diária comunhão com o Senhor… será acrescentado poder vivificante aos seus esforços para a conquista de pessoas para Cristo” (Conselhos Sobre a Escola Sabatina, p. 158).

Fortalecimento nas provações. Certa ocasião, Ellen G. White escreveu o seguinte, sobre sua experiência pessoal: “As dores mais agudas pareciam ter se convertido em paz e repouso. Durante muitas horas da noite, tenho mantido doce comunhão com Deus” (Carta 28, 1892). As provações chegam sem aviso e, às vezes, não estamos preparados para enfrentá-las. Nessas ocasiões, somente a verdadeira comunhão com Deus pode nos sustentar. Sabendo que “a hora da prova há de vir sobre o mundo inteiro… devemos estar em tão íntima comunhão com Deus, para que não caiamos na tentação, quando ela chegar” (Review and Herald, 15 de abril de 1890).

Transformação da vida. A comunhão transforma nossa vida. Essa transformação é possível “ao nos colocarmos intimamente ao Seu lado e manter comunhão Ele… Por meio do poder Espírito de Cristo, nosso coração e nossa vida são transformados” (Carta 47, 28 de março de 1903). A comunhão também habilita o pregador, pois “aquele que alimenta o rebanho de Deus deve, ele próprio, comer primeiro do pão que desceu do Céu. Ele verá a verdade a cada lado. Não se aventurará a chegar diante do povo enquanto não tiver primeiro comungado com Deus” (Testemunhos Para Ministros e Obreiros Evangélicos, p. 340).

Como ter comunhão

Contemplando a Cristo. A comunhão tem que ver com a experiência de relacionamento com Deus. Por isso, “contemplando a Cristo somos transformados à Sua imagem, e renunciando a nós mesmos… estaremos em comunhão íntima” (Manuscrito 48, 26 de novembro de 1890). Ademais, a capacitação para ensinar a verdade é procedente da comunhão: “Quanto mais intimamente o ministro de Cristo estiver ligado com Seu Mestre, por meio da contemplação de Sua vida e caráter, quanto mais perto, mais Se assemelhará a Ele e estará mais bem qualificado para ensinar Suas verdades (El Ministério Pastoral, p. 20).

Oração. Sem oração, não pode haver comunhão. “Oração é comunhão com Deus, a fonte da sabedoria, o manancial de poder, paz e felicidade” (Testemunhos Seletos, v. 3, p. 91). “Era nas horas de oração solitária que Jesus, em Sua vida terrestre, recebia sabedoria e poder” (Educação, p. 259). Então, para os pastores, a preocupação primária deve ser a busca de comunhão. “O ministro que ora, que tem fé viva, manifesta obras correspondentes, e grandes resultados acompanham seu trabalho, apesar dos obstáculos combinados da Terra e do inferno” (El Ministério Pastoral, p. 24).

Estudo da Bíblia. Atentemos para a seguinte reflexão, dirigida aos pastores: “Observem zelosamente seus momentos de oração, estudo da Bíblia e exame de consciência. Reservem parte de cada dia para estudar as Escrituras e comungar com Deus” (El Ministério Pastoral, p. 22).

Obediência e submissão. “Somente por meio de sincera obediência se pode obter essa comunhão” (Manuscrito 120, 8 de outubro de 1903). “Se você chega a ser aluno na escola de Cristo, deve submeter Sua vontade à dEle… e dessa forma, ao viver em constante comunhão com Jesus, você mesmo será transformado em um canal de luz para outros” (Carta 48, 13 de dezembro de 1888). Além disso, é importante considerarmos a relação entre os hábitos alimentares e a comunhão. Nesse sentido, é-nos declarado: “Aquilo que corrompe o corpo tende a contaminar a alma. Incapacita o que o usa para a comunhão com Deus, torna-o inapto para serviço elevado e santo” (A Ciência do Bom Viver, p. 280).

Desfrutando o sábado. Uma das oportunidades que a família tem para manter comunhão com Deus é o dia de sábado. Lamentavelmente, muitas pessoas estão perdendo essa bênção. “No Seu dia Ele reserva à família a oportunidade da comunhão com Ele, com a natureza, e uns para com outros. Visto que o sábado é a memória do poder criador, é o dia em que de preferência a todos os outros devemos familiarizar-nos com Deus mediante Suas obras” (Educação, 251).

Diante de tudo isso, podemos notar que a comunhão é uma bendita experiência espiritual. “Devemos familiarizar-nos agora com Deus… Os anjos registram toda oração fervorosa e sincera. Devemos de preferência dispensar as satisfações egoístas a negligenciar a comunhão com Deus” (O Grande Conflito, p. 622). Espera-se que todos os ministros vivam essa comunhão com o Senhor. Assim, “as pessoas saberão que temos estado com Jesus… Tal experiência comunicará ao obreiro um poder que nenhuma outra coisa lhe pode oferecer… Nenhum trabalho da igreja deve ter precedência diante da comunhão com Deus (El Ministério Pastoral, p. 24). “Precisamos viver em íntimo relacionamento com Deus, para que possamos amar-nos uns aos outros como Cristo nos amou. É por meio disto que o mundo deve saber que somos Seus discípulos” (Conselhos Sobre Saúde, p. 534).

À semelhança do profeta Daniel que, em meio às tribulações reservava tempo para buscar a Deus em oração, abrindo as janelas em direção à cidade amada, Jerusalém, “o verdadeiro cristão mantém as janelas da alma voltadas para o Céu. Vive em comunhão com Jesus. Sua vontade está de acordo com a de Cristo. Seu maior desejo consiste em assemelhar-se cada vez mais a Seu Senhor” (Review and Herald, 16 de maio de 1907).