Como nossas igrejas abraçam os adoradores? O que pregam para a comunidade, mesmo quando não há ninguém lá dentro?
Deus criou o ser humano para um relacionamento próximo. Buscou manter esse ideal em relação ao povo de Israel através da construção do tabernáculo (Êx 25:8). Ofereceu a salvação através da Sua encarnação (Jo 1:14). E possibilitou que cada pessoa se tornasse um templo do Espírito Santo (1Co 3:16, 17). A igreja continuou se reunindo nas dependências do templo (At 2:42-47). Chegará o dia em que Deus novamente poderá Se reunir face a face com Seu povo (Ap 21:3). Essa centralidade da presença de Deus é chamada, por Mark Torgerson, de arquitetura da imanência, por causa da ênfase teológica intencional na presença de Deus na arquitetura, e expressada através do Seu povo.[5]
“O líder habilidoso estudará não somente seu programa, mas aqueles para quem eles ministrará, e então planejará tudo para suprir as necessidades do grupo. Não somente o programa precisa ser planejado, mas a aparência da casa de adoração em si é importante. Nada deve distrair os adoradores… Organismos físicos dependem da atmosfera. Sem atmosfera eles morreriam.”[6]
As igrejas precisam ser construídas onde as pessoas estão. Elas devem facilitar o encontro de umas com as outras, a comunhão dos irmãos. Além da localização, várias igrejas têm salas, auditório e quadra que podem ser utilizados pela comunidade para programas que não aconteçam em horários de culto, como aulas para adultos, treinamentos comunitários, campanhas de vacinação, reuniões da associação de moradores do bairro, e outras atividades.
Em 1976, Neville Clouten, doutor em arquitetura, expôs na revista Ministry um projeto que refletia essa compreensão sobre o papel da arquitetura eclesiástica, para a igreja adventista Golden Coast, em Queensland, Austrália. Nesse projeto de construção, ele trabalhou com seis princípios: 1) Expressar a crença em Cristo como resposta para todos os problemas; 2) refletir a missão da Igreja Adventista do Sétimo dia; 3) enfatizar a disposição dos membros em testemunhar para o mundo e congregar como adoradores; 4) criar uma atmosfera que atraia o mundo, em vez de repeli-lo; 5) relacionar com o clima da localização geográfica específica; 6) economizar nos espaços, onde for possível.[13]
Segundo o arquiteto Mel McGrowan, outro especialista em projetos de igrejas, a pergunta mais importante é: “Para quem estamos projetando esta igreja?” Ele conclui: “Tenho me convencido de que as paredes da igreja são a maior barreira entre a igreja e os de fora, os perdidos e os salvos, Cristo e a comunidade.”[14]
“A construção da igreja é uma ajuda ou um empecilho primordial para a construção do Corpo de Cristo. E o que o prédio diz, frequentemente, proclama algo completamente contrário àquilo que estamos buscando expressar através da liturgia. O prédio sempre vai ganhar – a não ser e até que o façamos dizer algo diferente.”[15]
Fico imaginando o poder do testemunho produzido pela igreja que tem Jesus como a pedra angular, fundamento “no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor, no qual também vós juntamente estais sendo edificados para habitação de Deus no Espírito” (Ef 2:21, 22) e que prega através daqueles que fazem parte do corpo, enquanto esses vão em busca dos perdidos. A igreja educa a mente, mas deve educar também os sentidos.[25] Os olhos veem os revestimentos e não são direcionados para o conflito cósmico concreto. A mão é obrigada a encontrar outra mão, muitas vezes, num cumprimento frio que não lembra, nem de longe, as mãos dadivosas do Salvador ou as mãos esperançosas dos vizinhos necessitados. O nariz é despertado pelo odor de mofo de um local que fica fechado durante a maior parte da semana e encobre a fragrância da vitalidade de um corpo que exala o perfume do evangelho. Os ouvidos são obstruídos pelo nível de ruído e não atentam para o som das águas e a harmonia das vozes que introduzem o adorador à realidade eterna.
No fim de 2008, havia 6.109 igrejas e 6.306 grupos adventistas no Brasil,[28] nem todos com sede própria. Que oportunidade de apresentar a mensagem numa realidade multidimensional, transformando as palavras em realidade que apele consistente, coerente e persistentemente àqueles que avistam e entram na igreja de Deus!
Nota: Devido à limitação de espaço, o autor disponibilizou três recursos práticos complementares relacionados à implementação desses conceitos (“Cinco princípios práticos”; “Dez aspectos de um local de adoração apropriado”; “Pesquisa sobre aspecto físico da igreja”), e também as referências bibliográficas no seguinte endereço: http://mecdiasarticles. blogspot.com/2010/03/recursos-complementares-para.html