O pastor Erton é reconhecido por muitos como o maior mobilizador da história do adventismo na América do Sul. Sua administração à frente da Divisão Sul-Americana tem sido caracterizada por projetos simples, relevantes e desafiadores que visam mobilizar a igreja local. É inquestionável que este objetivo tem sido alcançado. Os programas Impacto Esperança, Lares de Esperança e A Grande Esperança realizaram a maior mobilização de membros em torno de um único projeto já registrada na história da Igreja Adventista do Sétimo Dia.
A Semana de Colheita, realizada ao final de cada ano do calendário eclesiástico, é outra ferramenta poderosa utilizada por ele para mobilizar pastores e membros da igreja. Através deste evento evangelístico, os melhores pregadores, as melhores músicas e os melhores cenários são colocados à disposição até mesmo da mais simples das nossas igrejas. Ao mesmo tempo, esse evento provê uma oportunidade para que todo o esforço evangelístico realizado ao longo do ano, através das frentes missionárias, seja concluído. Os resultados, ainda que sejam pequenos em uma igreja ou outra, tornam-se grandiosos quando observamos que a igreja foi envolvida, o Evangelho foi pregado e milhares de pessoas em toda a América do Sul foram batizadas.
Administrador nato, promotor singular e orador capaz de arrastar multidões, o pastor Erton não é conhecido principalmente por estes dons. Os seus colaboradores mais próximos o veem como um homem de Deus, apaixonado pela igreja de Deus e profundamente comprometido com a pregação do Evangelho para abreviar a volta de Jesus. Ele estava em Lima, no Peru, quando concedeu esta entrevista exclusiva para a edição comemorativa de um ano da revista Foco na Pessoa.
1. Quando o senhor ouve o nome “Igreja Adventista do Sétimo Dia”, o que vem à sua mente?
Penso em um movimento profético, distintivo, chamado diretamente por Deus para levar uma mensagem de esperança ao mundo. Não somos apenas mais uma igreja e nem existimos apenas para satisfazer nossos interesses ou necessidades. Fomos chamados para uma missão. Sempre me vem à mente uma igreja em movimento, experimentando milagres cada dia, usando todas as suas forças, estruturas e membros para preparar um povo para o encontro com o Senhor, dentro de um conceito de evangelismo integrado.
2. Que influências o senhor recebeu durante o seu processo de formação como líder? Como o senhor se tornou um mobilizador da Igreja para o cumprimento da missão?
Acredito que foram muitas as influências que se somaram. A primeira e mais importante foi o chamado de Deus. Ele tem uma tarefa para cada um de nós e nos dá condições para cumpri-la. Sinto-me chamado para isso e vejo que Deus tem aberto portas onde e como eu nunca poderia imaginar. Tudo o que tem acontecido é muito maior do que a minha capacidade. Lembro-me sempre de Atos 11:19: “Deus, pelas mãos de Paulo, fazia milagres extraordinários ”. As mãos podem ser minhas, mas a obra e os milagres são de Deus. Mas, falando de influências humanas, acredito que recebi uma força muito grande do meu pai. Ele foi pastor, evangelista e administrador por mais de quarenta anos. Desde criança eu o acompanhava em viagens e séries de conferências e me envolvia diretamente em atividades ligadas à missão. Isso foi fundamental.
Em meu primeiro campo de trabalho, a Associação Paulista Sul, também convivi com o forte envolvimento da igreja liderado pelo então presidente, Pr. Osmar Reis. Ele sempre foi muito comprometido com a missão e a mobilização da igreja. Sua paixão, visão e estratégias também foram importantes na minha formação. Por outro lado, nos distritos que trabalhei sempre tive líderes de igreja muito motivados e dispostos a fazer grandes coisas. Eles foram verdadeiros professores para mim.
3. Qual é o maior desafio que um mobilizador de igreja enfrenta?
Acredito que seja elaborar projetos simples, acessíveis a todos e, a partir daí, levar as pessoas a entender sua visão e se apaixonar por ela. Vejo muitos líderes com projetos tremendos, mas complexos demais ou com muitas datas e detalhes. Em outros casos, surgem movimentos interessantes, mas muito restritivos e, com isso, não são acessíveis a todas as pessoas.
O maior desafio, porém, é passar aquilo que está no coração do líder para o coração dos outros. Muitos líderes têm planos bonitos, mas os apresentam sem paixão, de forma técnica, acreditando que, por sermos uma igreja, as pessoas naturalmente vão segui-lo. Contudo, não é isso o que acontece. As pessoas precisam ser motivadas a acreditar. Se não for assim, a concorrência que existe com tantas atividades paralelas, bem como a falta de tempo e motivação, não vão permitir que os sonhos saiam do papel.
4. Que habilidade não pode faltar em um mobilizador?
Ele precisa ter ideias simples e claras, muita confiança em Deus, paixão por aquilo que faz e boa comunicação. Se tiver essas qualidades, que são muito acessíveis, Deus vai abrir as portas para uma forte mobilização e envolvimento.
5. Que princípios o senhor segue na hora de mobilizar a Igreja Adventista na América do Sul para o cumprimento da missão?
Tenho sempre em mente que os nossos projetos precisam ser simples, ousados e relevantes. Caso contrário, a igreja não vai se envolver. Simples para que todos, independente de sua realidade, possam entender. O fato de precisar publicar um manual ou explicar demais um projeto é um sinal de que as pessoas não vão entendê-lo. Se a igreja, no geral, não entende, também não irá participar. Além disso, se um projeto é complicado, o próprio pastor, que já está sobrecarregado de datas, materiais, programas e projetos, também não irá promovê-lo. Neste primeiro ponto, um grande projeto pode avançar ou morrer.
Um projeto também deve ser ousado para que a igreja sinta que o movimento realmente está cumprindo sua missão e abalando a comunidade com a mensagem de esperança.
Nossos irmãos não aceitam e nem tem motivação para participar de projetos que não façam a diferença, por isso também buscamos atividades que sejam realmente relevantes. Precisamos de movimentos onde a igreja sinta que vale a pena estar envolvida e que, se todos participarem, estaremos realmente fazendo a diferença na vida da comunidade como sempre sonhamos e como Deus prometeu. Há outros detalhes mais simples, mas estes têm sido nossos três princípios básicos que, nas mãos de Deus, têm dado um bonito resultado.
6. Dizem que onde duas cabeças pensam exatamente igual, uma delas é desnecessária. Entretanto, quando o líder tem convicção de que a sua visão trará mais benefícios para a igreja, como implementá-la atraindo o máximo de cooperação e o mínimo de oposição?
Envolver pessoas não significa pensar da mesma forma, mas olhar na mesma direção. Um projeto envolvente sempre oferece conceitos básicos, deixando liberdade para que os participantes o adaptem à sua visão ou realidade. Um plano muito complexo ou engessado, que obrigue as pessoas a agirem de maneira uniforme, não prosperará. Precisamos mobilizar e não imobilizar. Mas, quando um líder tem convicção, seu primeiro passo é transmitir a visão aos outros líderes que estão ao seu lado.
Um projeto não deve ser apresentado ao grande público sem antes ter o apoio e compromisso dos líderes e formadores de opinião. É preciso gastar um bom tempo nesta fase da mobilização. Todo o tempo gasto em envolver este grupo vai poupar tempo na mobilização da igreja mais tarde.
Outro ponto importante é envolver as pessoas no processo. O líder pode ter toda a ideia já pronta em sua mente, mas ouvir e envolver as pessoas enriquecerá o projeto e fará com que elas também se sintam parte do sonho. As pessoas ajudam a realizar aquilo que ajudaram a planejar. Isso, sem dúvida, aumenta a participação e minimiza a oposição.
7. Qual o papel das pessoas durante o processo de mobilização?
As pessoas são a base, são aqueles a quem queremos mobilizar. Por isso, elas precisam ser valorizadas, ouvidas e envolvidas. Projetos não são coisas mecânicas, onde há uma ordem e, automaticamente, uma execução. É preciso adaptar a visão ao público que você deseja alcançar. Cada público merece uma abordagem diferente que contemple a visão e as necessidades locais. É preciso não apenas mostrar como participar, mas também o quanto cada um será benefi ciado. Nesta questão os testemunhos são muito importantes. Eles mostram que um projeto não é apenas teoria, mas que tem feito a diferença na vida de gente comum.
Por fim, é importantíssimo valorizar mais a ideia do que o seu criador ou promotor. Isso faz com que o sonho seja compartilhado por todos e as pessoas estejam no centro, não a promoção pessoal.
8. Por que colocar o foco na mobilização da igreja é importante?
Porque uma igreja viva é ativa. Fomos chamados para ser o sal da terra e a luz do mundo, e isso não acontece na inatividade. Além disso, quanto mais uma pessoa estiver envolvida, mais será fortalecida, aprofundada e feliz. A falta de envolvimento cria uma visão amarga, uma religião egoísta e uma vida espiritual superficial. Se a igreja não for envolvida, estará condenada a se tornar irrelevante e infeliz, deixando de cumprir a sua missão e comprometendo a sua própria salvação.