Prioridade número um

O ministério pastoral é cheio de desafios, exigindo muito de um pastor. Ele deve desempenhar bem as funções de pregador, conselheiro, dirigente, profeta e pacificador, necessitando dedicar-se inteiramente, para ser bem-sucedido em seu trabalho. Ellen G. White mencionou que, ao exercer o ministério, o pastor deve “suportar desconforto físico e sacrificar a comodidade… O verdadeiro pastor tem o espírito de esquecimento de si mesmo. Perde de vista o próprio eu, a fim de poder praticar as obras de Deus”.1

 Além dos deveres para com a comunidade de fé, o pastor tem uma responsabilidade primária: sua própria família. Por se dedicarem excessivamente às tarefas ministeriais, muitos, infelizmente, acabam deixando de lado a família. Porém, John MacArthur Júnior afirma que “as famílias estão se enfraquecendo em todo o mundo. Assim também um número alarmante de famílias de pastor. Embora se admita que as pressões no ministério contemporâneo sejam enormes… a casa do pastor deve ser prioridade”.2

 Com isso em mente, é oportuno relembrar nosso dever para com a família, a fi m de que não venhamos a ganhar o mundo para Cristo e negligenciá-la.

Problemas familiares

A relação familiar de um pastor está exposta aos mesmos perigos que ameaçam outras famílias. Anos atrás, uma pesquisa realizada nos Estados Unidos identificou os problemas mais freqüentes na família pastoral. O resultado foi que, dos casais entrevistados, “81% alegaram tempo insuficiente juntos; 71% se referiram ao uso do dinheiro; 70%, ao nível de renda; 64% disseram ter dificuldade na comunicação; 63% reclamaram das expectativas da congregação, 57% apontaram diferenças quanto ao lazer; 53% revelaram ter dificuldades na criação dos fi lhos, 46% mencionaram problemas sexuais; 41% mencionaram rancor do esposo em relação à esposa; 35% apontaram discordância quanto à carreira pastoral e 25%, discordância quanto à carreira da esposa”.3

Deus espera que Seus ministros conduzam bem a própria casa: “Se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja. É necessário, portanto, que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher, temperante, sóbrio, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho, não violento, porém cordato, inimigo de contendas, não avarento, e que governe bem a sua própria casa, criando os fi lhos sob disciplina com todo o respeito…” I Tim. 3:1-4.

Deveres do pastor

É possível enumerar alguns princípios práticos que podem servir como ajuda preventiva contra dificuldades na família do pastor. Ei-los:

Liderança espiritual. Ellen G. White dedica boa parte de seus escritos aos assuntos familiares, entre os quais está a responsabilidade do homem como cabeça da família. Ela observa que o esposo e pai tem parte importante a desempenhar no lar. “Seu nome é definido como laço de união da família.” Sendo o cabeça da casa, a esposa espera da parte dele manifestações de amor, interesse e ajuda na educação dos fi lhos. Os filhos esperam do pai apoio e guia. Deve procurar fazer seu melhor para tornar o lar feliz, sejam quais forem seus cuidados e perplexidades nos negócios. Deve ser o legislador, demonstrando virtudes como energia, integridade, honestidade, paciência, coragem, diligência e prestatividade. Deve ser o sacerdote da família, inspirando em seus fi lhos elevados princípios, que os capacitam a formar um caráter puro e virtuoso. Sua conduta na vida em família deve ser dirigida pelos princípios da Palavra de Deus.4

Idoneidade. De certa forma, o lar do pastor serve de modelo para outras famílias. Portanto, ali se prova a idoneidade para o ministério pastoral. Analisando os versos 4 e 5 de I Timóteo 3, o Comentário Bíblico Adventista del Séptimo Dia assinala que, “se um homem fracassa numa tarefa menor, será incapaz de ter sucesso na tarefa maior de supervisionar as muitas famílias que compõem uma congregação ou grupo de igrejas.

“Os fi lhos do ministro devem demonstrar, por seu comportamento obediente e circunspecção que respeitam seu pai. Os fi lhos de Eli, o sumo sacerdote, representam um trágico exemplo de amor parterno equivocado e de seu fracasso em governar a família”.5

É clara a implicação dessa análise na vida do pastor. Para que seja bem-sucedido, ele deve presidir bem seu próprio lar.

Cortesia e atenção. Kay Kuzma apresenta doze pontos essenciais que podem ser colocados em prática pelos pastores, a fi m de agradar as respectivas esposas: “Sacrifique-se por ela, ouça com atenção o que ela tem a dizer, toque-a, elogie-a e esteja com ela em público, divida com ela as responsabilidades, deixe que ela saiba que você a aprecia, demonstre consideração, seja um pai compreensivo, incentive-a em sua carreira profissional, dedique tempo para estar com ela e seja o guia espiritual da família.”6

Um ponto a ser considerado é o relacionamento íntimo. Porém, não somos deixados sem orientação. Um documento oficial da Igreja Adventista do Sétimo Dia aconselha os pastores a dialogar com a esposa sobre romance e relacionamento sexual: “Para satisfação plena, a intimidade deve ser precedida por intimidade mental e espiritual. Se vocês estão sufi cientemente próximos para praticar intimidades sexuais, deveriam estar próximos para falar sobre o assunto.” Corroborando esse conceito, Nancy Van Pelt assegura que “prover todo prazer possível à esposa é a resposta natural de um marido amoroso”.8

Participação doméstica. É de extrema importância que o pastor compreenda sua participação no dia-a-dia da casa. Conta-se que, em certa ocasião, os vizinhos de Martinho Lutero o viram pendurando fraldas no varal, e riram dele. E o grande Reformador respondeu; “Que eles riam! Deus e anjos também sorriem lá no Céu.” É importante que pastor e esposa concordem na distribuição das tarefas domésticas. Ele precisa ser útil nesses afazeres, aliviando os encargos dela.

A participação nos deveres domésticos inclui o cuidado com os fi lhos. A esposa espera o apoio dele na educação dos pequeninos. Lamentavelmente, o que acontece é que muitos maridos não apreciam os cuidados e perplexidades que suas esposas suportam e deixam nas mãos delas toda a responsabilidade dos filhos. Ellen White questiona então: “Não é de ambos o filho? Não está ele sob a natural obrigação de aceitar sua parte no fardo de criar os fi lhos?”9

Lazer

Momentos especiais devem ser dedicados, constantemente, à família. E. D. Prince valoriza o tempo investido dessa forma. Ele diz que é nesses momentos, em que nos desligamos dos afazeres cotidianos da igreja e dedicamos tempo de qualidade à família, que percebemos quão importante ele é para nossos fi lhos e esposa.10

O pastor deve não apenas dedicar tempo à família, mas tempo de qualidade. Não deve estar junto à esposa e dos filhos, pensando nos compromissos que foram deixados à parte. Os fi lhos carecem de um pai que, quando estiver com eles, seja só deles.

Tenhamos isto sempre em mente: “Os deveres do pastor jazem em torno dele, próximos e distantes; mas seu primeiro dever é para com seus fi lhos. Ele não se deve absorver tanto com os deveres exteriores que negligencie as instruções que seus filhos necessitam.”11

Referências:

1 Ellen G. White, Obreiros Evangélicos, pág. 184.

2 Richard L. Mayhue, citado por John MacArthur Jr., Redescobrindo o Ministério Pastoral (Rio de Janeiro, RJ: CPAD, 1999), pág. 175.

3 H. B. London e N. B. Wieseman, Pastors at Risk (Wheathon: Victor Books, 1993), pág. 71.

4 Ellen G. White, O Lar Adventista, págs. 211-220.

5 Comentário Bíblico Adventista del Séptimo Dia, vol.

4, pág. 376.

6 Kay Kuzma, Ministério, março-abril 1990, págs. 13-17.

7 Guia Para Ministros, 1995, pág. 48.

8 Nancy Van Pelt, Felizes no Amor (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2003), pág. 100.

9 Ellen G. White, O Lar Adventista, págs. 225 e 226.

10 D. E. Prince, Autenticidade ou Hipocrisia? (São Paulo, SP: Vida Nova, 2001), págs. 116-122.

11 Ellen G. White, O Lar Adventista, pág. 353.