Estendendo os Limites do Ministério da Família
Gordon O. Martinborough
Quando você ouviu pela última vez sobre nossa obrigação de pregar a mensagem de Elias? Nós sabemos qual é a mensagem de Elias? Sabemos que é uma mensagem que deve ser proclamada nos últimos dias “antes que venha o grande e terrível Dia do Senhor” e que “converterá o coração dos pais aos filhos e o coração dos filhos a seus pais” (Ml 4:5, 6)1?
A mensagem de Elias abrange um reavivamento duplo: um reavivamento espiritual, voltando o coração dos filhos de Deus para seu Pai celestial, e um avivamento da vida familiar, voltando o coração dos filhos para seus pais humanos.
Como as três mensagens angélicas de Apocalipse 14:6-12, a mensagem de Elias exorta os filhos de Deus a rejeitarem a adoração falsa e aceitarem a adoração verdadeira. O chamado de Elias – “Se o Senhor é Deus, segui-o; se é Baal, segui-o” (1Re 18:21) – é um chamado para rejeitar a adoração de Baal, que, na época de Elias, constituía em um ataque direcionado à vida espiritual e ao chamado de Israel.
O rei Acabe de Israel era casado com Jezabel, uma adoradora de Baal, por causa de quem os profetas de Israel foram perseguidos e rejeitados. Elias surgiu para defender a fé de Israel e chamar os filhos de Deus para a adoração do verdadeiro Deus de Israel. Elias teve que enfrentar os adoradores de Baal em duas frentes. Primeiro, o profeta instou para a adoração do verdadeiro Deus Criador, Javé. Em vez de adorar a Javé, o Criador, Israel foi enganado e levado a adorar Baal, o deus cananeu da tempestade e do trovão, que era o oposto do Deus Criador-Redentor pessoal de Israel. Em segundo lugar, a adoração de Baal foi um ataque à vida familiar de Israel. A adoração a Baal pervertia a santidade do casamento e permitia o sacrifício de crianças (Nm 25:1-3; Jr 19:5). A mensagem de Elias foi um apelo contra essas perversões da religião verdadeira, um apelo para um reavivamento espiritual e uma chamada para a renovação da vida familiar.
Em nosso tempo, somos chamados a proclamar a mensagem de Elias. Como podemos estender os limites da nossa missão às famílias? Como podemos ir além dos eventos normais da igreja ou atividades ocasionais da vida familiar e ampliar o escopo de nosso ministério familiar?
Um experimento de vida familiar
Quero contar como fizemos isso em nosso território de igrejas. Nosso objetivo era melhorar a qualidade de vida familiar de cada membro da igreja. Nosso foco era capacitar cada família para lidar com os problemas diários que enfrentavam em suas casas de formas bíblicas e espirituais. Optamos por usar o seguinte programa de educação para a vida familiar.
Primeiro, identificamos as necessidades específicas das famílias e as atendemos uma a uma. Uma pesquisa foi realizada por todos os membros para identificar essas necessidades2.
Em segundo lugar, criamos um programa para estudar tópicos, como os fundamentos do casamento, comunicação, resolução de conflitos, sexualidade, finanças familiares, prevenção de abuso, assuntos relacionados à vida de solteiro, e questões sobre paternidade e maternidade. Para cada tópico, desenvolvemos uma apresentação em PowerPoint, um roteiro para o apresentador, uma planilha para o participante e atividades em grupo.
Terceiro, obtivemos o apoio de pastores locais. Para receber esse apoio, realizamos retiros regionais para pastores e seus cônjuges e os acompanhamos durante os seminários. Os pastores foram encorajados a organizar um Dia de Vida em Família pelo menos uma vez por trimestre em cada igreja e conduzir a apresentação durante o culto de adoração quando todos estivessem presentes, usando um formato de seminário em vez de um sermão. Visto que a maioria desses líderes tinha distritos com várias igrejas, alguns puderam reproduzir o workshop em suas outras igrejas com a ajuda de anciãos treinados e pessoas capacitadas em vida familiar de suas congregações.
Os resultados
Os benefícios foram duplos. Primeiro, quando os pastores e seus cônjuges participaram dos seminários, suas próprias vidas familiares foram afetadas. Os retiros permitiram que os casais pastorais tirassem um tempo do ministério para se concentrarem em suas próprias famílias, enriquecendo sua própria vida familiar. Em segundo lugar, muitos membros da igreja receberam uma rica bênção por meio das informações práticas e transformadoras que receberam. Como resultado, as igrejas participantes experimentaram reavivamentos na vida familiar.
Você pode não ter os recursos para formular uma estratégia tão abrangente. Mas você tem a capacidade de criar seu próprio plano de ação personalizado! Você pode avaliar as necessidades locais, produzir recursos, apresentar os materiais e avaliar os resultados. Como pastor você sabe que a maioria dos problemas que seus membros lhe trazem são questões familiares. Alguns vêm até nós quando é tarde demais e, infelizmente, outros nem chegam. Se pudermos capacitar os membros da igreja, eles serão capazes de lidar com seus próprios desafios à medida que surgirem. E, em vez de esperar que eles venham até nós, a educação para a vida familiar nos permitirá ir até eles.
A mensagem de Elias: Além das nossas paredes
Como igreja, temos a ordem de proclamar a mensagem de Elias não apenas às famílias de nossas congregações, mas também às famílias de nossa comunidade. É uma mensagem para o mundo! Como sabemos disso? Em primeiro lugar, declaramos que Deus criou duas instituições no Éden. No sexto dia, Ele estabeleceu a família, e no sétimo dia, Ele instituiu o sábado. Nestes últimos dias, a ordem para a igreja é servir como “reparador de brechas e restaurador de veredas” (Is 58:12). Portanto, precisamos ser campeões não apenas para a restauração do sábado, mas também para a restauração da família! Quando as pessoas vêm às nossas reuniões evangelísticas, devem ser desafiadas a observar o sábado e também ser inspiradas a fortalecer a vida de suas famílias.
Ao longo das Escrituras, de Gênesis a Apocalipse, a família é um dos alvos favoritos de Deus a serem alcançados. Quando Abraão foi chamado para sacrificar seu filho Isaque, e a resposta de Abraão e a obediência de Isaque foram motivadas por sua fé de que “Deus proverá para si, meu filho, o cordeiro para o holocausto” (Gn 22:8), Deus não estava nos ensinando o plano de salvação em uma parábola de fé e obediência? Três livros da Bíblia – Oséias, Rute e Cantares – nos ensinam que a família é uma parábola de Deus. Jeremias e Ezequiel também retratam Deus como o marido amoroso e Israel como Sua esposa transviada. E ainda há as parábolas sobre o casamento de Jesus e a história inesquecível do filho pródigo.
Por fim, a Bíblia termina com a ceia das bodas do Cordeiro e a imagem da igreja (e da Santa Cidade) “ataviada como noiva” (Ap 19:6-10; Ap 21:2).
Se a família tem sido a maneira eficaz de Deus ensinar a verdade, não deveria ser a nossa também?
Modelos de família
Como podemos conduzir a educação para a vida familiar enquanto pregamos o evangelho? Aqui estão três modelos que usamos.
- O modelo de namoro. Começamos com uma série de seminários de vida familiar em preparação para uma série evangelística regular. A comunidade é convidada para seminários sobre tópicos como resolução de conflitos, prevenção de abusos, finanças familiares equestões sobre paternidade e maternidade. A cada evento, criamos relacionamentos e construímos nossa lista de interessados. Finalmente, esses interessados são convidados para a campanha evangelística. A esperança é que os “encontros” anteriores resultem nessas pessoas se tornando parte da família de Deus.
- O modelo decortejo. Nessa estratégia, dois elementos estão lado a lado. Em cada reunião evangelística, há uma gema familiar e uma apresentação da Bíblia. Os dois podem ou não estar relacionados conceitualmente, mas eles estão sentados no mesmo espaço, olhando amorosamente um para o outro. Há a esperança de que seu “namoro” inspire pessoas interessadas a se tornarem parte da família de Deus.
- O modelo de casamento. Aqui, cada questão familiar está ligada a uma doutrina bíblica conceitualmente compatível. Cada apresentação trata da família e da doutrina, e há uma interação amorosa entre esses dois “cônjuges”. Por exemplo, para beneficiar os jovens, o amor verdadeiro está relacionado ao amor de Cristo no Calvário. Para beneficiar os pais, ajudar o filho a obedecer está relacionado à obediência ao nossoPai celestial.
Independentemente do modelo usado, o ministério da família é feito para a comunidade! E todos podem se beneficiar. Sejam os participantes casados ou não, eles podem aprender a lidar com conflitos, filhos e administrar dinheiro. Com essas apresentações, mesmo que os participantes não aceitem as verdades da Bíblia, eles receberam informações vitais para melhorar seus lares. E melhoramos a qualidade de vida familiar na comunidade.
Por que se envolver no evangelismo familiar?
Por que devemos investir nosso tempo e esforço para realizar atividades evangelísticas na vida familiar? É uma boa teologia! É um modelo de sucesso para ensinar a verdade! Mas, o mais importante, esse alcance abre a possibilidade de ajudar as pessoas a encontrarem realização no aspecto mais significativo e íntimo da vida: a família. Onde a vida familiar é gratificante, há alegria na família, verdadeira intimidade entre os cônjuges e plena oportunidade para todos os membros da família atender as suas necessidades. Ao alcançar uma vida plena como família, também mostramos aos outros o verdadeiro significado do discipulado cristão: somos um com o outro e, juntos, somos um em Cristo. Estamos trabalhando como Cristo trabalhou. Estamos levando a mensagem de Elias a todos ao nosso redor – rejeitando todas as perversões da religião falsa, afirmando o reavivamento espiritual e clamando pela renovação da família.
Notas:
1 A versão da Bíblia utilizada é a Almeida Revista e Atualizada (ARA).
2 Este instrumento foi criado e analisado pelo doutor Colwick Wilson, então professor e presidente do Departamento de Aconselhamento e Ciências da Família, na Universidade de Loma Linda, e pelo doutor Leon Wilson, então professor e presidente do Departamento de Sociologia da Universidade Estadual Wayne. Desde então, os dados foram usados em várias conferências profissionais, artigos acadêmicos e dissertações de doutorado.