Primeiro, o mais importante:
A responsabilidade do desenvolvimento pessoal
A questão sobre as prioridades para a pessoa e o ministério pastoral sempre me acompanhou. Aliás, não é uma pergunta fácil de responder, diante das muitas e variadas demandas ou propostas que o missionário deve avaliar quase diariamente. Neste artigo, ofereço apenas algumas sugestões sobre o crescimento pessoal do ministro e sua qualificação para o serviço.
A proposta consiste, primeiramente, em captar a importância que o Senhor dá ao desenvolvimento pessoal de Seus servos. Paulo não conseguia entender de outra forma, “Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo” (Ef 4:15). O mesmo poderia ser dito de Ellen G. White, que entendia o desenvolvimento pessoal como um dever: “Nosso primeiro dever para com Deus e os nossos semelhantes é o do desenvolvimento próprio. Cada faculdade com a qual o Criador nos dotou deve ser cultivada no mais alto grau de perfeição, a fim de que sejamos capazes de realizar a maior soma de bem que nos seja possível” (Ellen G. White, Conselhos sobre Saúde, p. 107).
Deve-se evitar as alternativas falsas
Decisiva é a necessidade de evitar certas alternativas falsas. Algumas ilustrações bastarão para entender o ponto. Uma delas é acreditar, por exemplo, que existe uma dicotomia entre devoção e serviço. De fato, tal divisão artificial não tem sentido, como o famoso evangelizador adventista Walter Schubert certa vez disse: “Trabalhar sem oração é orgulho; e orar sem trabalhar é hipocrisia”. Outro dilema imaginário contrasta o pastor quietista e místico com o pastor apressado e hipercinético. É verdade que o ministro deve ser uma pessoa espiritual, pois sua tarefa fundamental é inspirar, e para isso deverá cultivar sua vida interior por meio da devoção pessoal. No entanto, sua tarefa não termina até que ele se dedique a desafiar e capacitar os crentes em seu próprio ministério.
Viver entre o vale e a montanha
A perícope de Marcos 9:2-29 registra que, em uma noite de verão do ano 30, Jesus subiu a uma montanha remota na Galileia na companhia de Pedro, Tiago e João. Era um lugar adequado para orar (Lc 9:28), então Jesus passou a noite em comunhão com seu Pai. De repente, a divindade atravessou a humanidade, e naquele cenário glorioso, Jesus, Moisés e Elias conversavam animadamente. Os três seguidores de Jesus não podiam acreditar no que estavam testemunhando. Na verdade, dois grupos de discípulos participam da narrativa: os três da montanha e os nove que permaneceram no vale. O relato tem alguma relevância para os discípulos de hoje? Sim, porque mostra os discípulos na montanha (Pedro, Tiago e João) satisfeitos em permanecer no topo. Pedro estava com medo, mas queria ficar lá e apreciar aquele encontro extraordinário; por isso, ele se propôs a construir abrigos para se proteger do orvalho e do sol. A nuvem e a voz de Deus tornaram aquele momento ainda mais chocante, de modo que os discípulos se prostraram. Não havia nenhuma preocupação neles para com os habitantes do vale. Era tudo bonito demais para querer deixar aquele lugar. Lá no alto, perto de Cristo, eles tiveram um antegozo do reino de Deus, sem pensar por um momento nas necessidades daqueles que permaneceram ao pé daquela montanha. O primeiro grupo representa aqueles que buscam a Deus, distanciando-se do mundo e de suas necessidades. O grupo que prefere orar sem trabalhar, cantar sem servir, estudar sem ensinar e desfrutar sem compartilhar.
Por sua vez, os discípulos do vale (o grupo dos nove) estavam em contato com o povo, com seus problemas e com a obra destrutiva do inimigo. Além disso, eles tiveram que enfrentar a hostilidade dos escribas. Eles encontraram um pai desesperado e seu filho possuído. Eles trabalharam sem orar e falharam em meio à confusão, vergonha, decepção e humilhação. O demônio zombou deles, trazendo desprezo e zombaria dos espectadores. Ou seja, eles trabalharam sem unção e poder. Ellen G. White lista o que ocupou a mente dos discípulos no vale: eles experimentaram tristeza e dúvida com o anúncio da morte de Cristo, sentiram ciúme pelos três na montanha, estavam distraídos em seus desânimos e agravos pessoais (O Desejado de Todas as Nações, p. 303). Assim, na hora do conflito, eles perderam toda a autoridade espiritual.
No entanto, nenhum dos dois grupos é chamado para representar os ministros do evangelho, uma vez que eles devem estar localizados precisamente entre o vale e a montanha. Há espaço para a contemplação e para um certo grau de espiritualidade saudável, mas devemos orar e trabalhar, adorar e servir. “Era uma lição objetiva da redenção — o Divino descendo da glória do Pai para salvar o perdido. Representava também a missão dos discípulos. Não somente no cimo da montanha com Jesus, em horas de iluminação espiritual, se deve passar a vida dos servos de Cristo. Há para eles trabalho a fazer na planície. Almas a quem Satanás tem escravizado, estão à espera da palavra de fé e oração que os tornará livres” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 303). Jesus foi o modelo, ao sempre estar entre o vale e a montanha. Esse foi o segredo de Seu sucesso. Ele olhou para as pessoas com a luz da montanha e ministrou no vale com o poder da montanha. Cristo uniu os discípulos da montanha aos discípulos do vale, por isso o seu conselho é válido para nós: orar e servir. O ministro do evangelho terá sucesso se viver como Jesus viveu, entre as coisas do alto e as coisas da terra. Ele vai subir a montanha para estar com Deus e ter forças, e então descer ao vale para servir aqueles que precisam de seu ministério.
Seguir o exemplo de Cristo e o ensino das Escrituras
Ellen G. White enfatiza claramente: “A oração secreta, a oração elevada enquanto as mãos estão ocupadas em algum trabalho, a oração sussurrada enquanto caminhamos pela estrada, a oração noturna, a contínua elevação dos anseios do coração para Deus: nisso reside a nossa única segurança. Desta forma, Enoque andou com Deus. Desta forma, nosso grande Exemplo divino ganhou força para percorrer o caminho espinhoso de Nazaré ao Calvário”.
“Cristo, o Ser sem pecado, sobre quem o Espírito Santo foi derramado sem medida, constantemente reconhecia Sua dependência de Deus e buscava novos suprimentos na fonte de força e sabedoria […]”.
“Devemos olhar para Cristo, devemos resistir como Ele resistiu, devemos orar como Ele orou, devemos agonizar como Ele agonizou, se quisermos vencer como Ele venceu” (Ellen G. White, Review and Herald, 8 de novembro de 1887).
“Sua felicidade encontrava-se nas horas em que estava a sós com Deus e a natureza. Sempre que Lhe era concedido esse privilégio, afastava-Se do cenário de Seus labores, e ia para o campo, a meditar nos verdes vales, a entreter comunhão com Deus na encosta da montanha ou entre as árvores da floresta. O alvorecer frequentemente O encontrava em qualquer lugar retirado, meditando, examinando as Escrituras, ou em oração” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 55).
“No grande conflito que se acha perante nós, quem quiser manter-se fiel a Cristo, tem de se aprofundar para além das opiniões e doutrinas dos homens. Minha mensagem aos ministros, jovens e velhos, é esta: Mantende ciosamente vossas horas de oração, de estudo da Bíblia, de exame de vós mesmos. Separai uma parte de cada dia para o estudo das Escrituras e a comunhão com Deus” (Ellen G. White, Obreiros Evangélicos, p. 100). “O ministro de Cristo deve ser um homem de oração, um homem de piedade; deve ser alegre, mas nunca grosseiro ou rude, zombeteiro ou frívolo” (Elena G. de White, Obreros evangélicos, p. 122).
As Escrituras mostram a vida devocional de Jesus e outros servos de Deus (textos retirados da Bíblia, versão Almeida Revista Atualizada). O salmista disse: “De manhã, Senhor, ouves a minha voz; de manhã te apresento a minha oração e fico esperando” (Salmos 5:3). “À tarde, pela manhã e ao meio-dia, farei as minhas queixas e lamentarei; e ele ouvirá a minha voz” (Salmos 55:17). “Ó Deus, tu és o meu Deus forte; eu te busco ansiosamente; a minha alma tem sede de ti; meu corpo te almeja, como terra árida, exausta, sem água” (Salmos 63:1). “Antecipo-me ao alvorecer do dia e clamo; na tua palavra, espero confiante” (Salmos 119:147). “Faze-me ouvir, pela manhã, da tua graça, pois em ti confio; mostra-me o caminho por onde devo andar, porque a ti elevo a minha alma” (Salmos 143:8). Jesus também fez o mesmo: “Tendo-se levantado alta madrugada, saiu, foi para um lugar deserto e ali orava” (Marcos 1:35). Pois isso é o que o profeta messiânico havia previsto: “O Senhor Deus me deu língua de eruditos, para que eu saiba dizer boa palavra ao cansado. Ele me desperta todas as manhãs, desperta-me o ouvido para que eu ouça como os eruditos” (Isaías 50:4).
Orientações para um ministério integral
Fica clara a necessidade de uma formação permanente por parte dos servos do Senhor. Sua vida de serviço deve ser dedicada ao crescimento ministerial por meio de leitura, estudo, preparação de sermões, mensagens e seminários, buscando a melhor capacitação para o serviço. Permita-me escrever algumas orientações pessoais a esse respeito para a realização de um ministério que se concentra intencionalmente na educação e na capacitação.
(1) Tenha uma prática devocional sistemática que inclua a leitura reflexiva da Bíblia, a leitura dos livros de Ellen G. White e de outros materiais edificantes. Desfrute de momentos significativos de oração todos os dias.
(2) Capacite-se em questões teológicas e em outras disciplinas relacionadas ao ministério pastoral e/ou educacional. Torne-se um especialista em determinados tópicos para que possa fazer uma contribuição clara e oportuna.
(3) Seja uma pessoa informada sobre questões importantes para a sociedade e para a compreensão de seus problemas. Torne-se um conhecedor dos conceitos básicos das disciplinas relacionadas ao ser humano em sua complexidade atual. Torne-se uma pessoa cada vez mais culta e educada, que pode ser consultada por pessoas da igreja e da comunidade.
(4) Encontre ideias e materiais para suas mensagens de modo que sejam interessantes, biblicamente fundamentados, revigorantes e inspiradores.
(5) Prepare conteúdos apropriados para o desenvolvimento de oficinas e cursos de capacitação para o ministério dos membros da igreja, com uma disposição generosa para o diálogo aberto e sinceridade ao abordar questões complexas. Encontre maneiras de estimular o pensamento e a participação ativa de cada membro de sua comunidade.
(6) Não se limite à declaração de teorias ou estratégias; pelo contrário, mostre como os objetivos podem ser alcançados e não pare de lançar desafios concretos e pessoais.
(7) Pesquise, escreva e publique conteúdo de valor permanente. Que sejam positivos e, se possível, não controversos, nem excessivamente apologéticos.
(8) Não desperdice seu tempo de leitura com materiais superficiais, humanísticos, sincréticos, nem se limite a textos devocionais (que têm seu lugar) ou pseudo-espirituais. Procure os autores mais profundos, complexos e desafiadores.
(9) Evite drenar suas energias intelectuais em questões que simplesmente não são bíblicas (como especulações sobre a natureza humana de Jesus, o tempo exato de Sua vinda e até mesmo controvérsias a respeito da ordenação pastoral), ou em questões conspícuas e especulativas (como a ação da maçonaria, dos infiltrados na igreja e de teorias da conspiração). Em vez disso, concentre-se no Evangelho, em Jesus Cristo e nos grandes temas da Bíblia.
(10) Entenda que é uma armadilha cair na agenda dos críticos, separatistas e independentistas, com suas mudanças de ênfases doutrinárias e teológicas, normalmente desequilibradas e extremistas. Preocupar-se excessivamente com eles é dar-lhes a importância que lhes falta. Também é uma ilusão deixar-se absorver pela cultura contemporânea, tão distante dos valores cristãos.
(11) Aposte na simplicidade da verdade revelada e da mensagem de salvação, sem cair na sedução do novo, do provocador, do sensacionalista, do intrigante, ou do que escapa à sã doutrina. Não brinque com a heterodoxia sensacionalista e supostamente progressiva. Evite se tornar um pregador egocêntrico, autorreferencial e individualista. Nunca adote o papel de vítima ou desenvolva um complexo de perseguição.
(12) Mantenha a humildade de quem está sempre aprendendo, recebendo conselhos, disposto a expandir sua forma de pensar e disposto a estimular o potencial dos outros. Não busque se destacar ou se perpetuar, mas aprenda a confiar, delegar, apoiar e preparar as pessoas para quando você não estiver mais entre elas. Deixe uma memória positiva e um exemplo digno que outros queiram seguir.
Em suma, as verdadeiras prioridades devem ser poucas e claras. Os maiores esforços devem ser dedicados a elas, para cuja realização a graça capacitadora do Pastor de todos os pastores deve ser buscada. Não há nada mais importante para um ministro do que pedir ao Senhor para entender o que é mais significativo para a sua pessoa e para o seu ministério.
Dr. Daniel Oscar Plenc
Faculdade de Teologia
Centro de Pesquisas Ellen G. White
Universidade Adventista do Plata
Entre Ríos, Argentina