O Casamento e a Família Pastoral: Uma abordagem bíblico-cultural para a santidade

O Casamento e a Família Pastoral: Uma abordagem bíblico-cultural para a santidade

O Casamento e a Família Pastoral: Uma abordagem bíblico-cultural para a santidade

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Prof. Walter Lehoux – Faculdade de Teologia – Universidade Adventista do Plata

 

A família sempre desempenhou um papel fundamental na sociedade e na história. No entanto, é preciso estar ciente de que esta instituição social vive atualmente um momento crítico. Um exemplo claro disso é a interpretação variada do termo “família.”1 Famílias monoparentais, reconstituídas, em relação livre, homoparentais, interculturais e outras são tendências pós-modernistas que vão ganhando espaço na sociedade, e que “são marcadas por sua relatividade de conceitos de vida, por sua liberdade, e ao mesmo tempo, por sua insegurança.”2 Nos debates atuais, os conceitos de família tradicional, valores e orientações primárias perdem cada vez mais sua importância.3

Por outro lado, existem diversos obstáculos que aumentam as dificuldades no ambiente familiar: falta de tempo, diferença de objetivos, distanciamento cultural entre seus membros, escassez financeira, falta de vínculo e outros aspectos. Os casais e famílias cristãos, especialmente os pastorais, não são exceção. Infelizmente, a sociedade pós-moderna impõe costumes, e os cristãos se deparam com a escolha de se entregar a estilos de pensamento da moda (pseudoprogressistas), ou seguir os princípios bíblicos.4

Este artigo tem como objetivo apresentar ensinamentos práticos para que casais e famílias pastorais sejam fortalecidos e renovados diante das nocivas tendências atuais. Para isso, serão considerados aspectos culturais de algumas passagens paulinas, bem como certas peculiaridades dos costumes hebraicos que deixam instruções claras para alcançar a felicidade e a santidade no vínculo do lar.

 

Princípios paulinos e a santidade no casamento ministerial

O fator crise está presente em todas as épocas entre as famílias de todo o mundo. A luta para sustentar a família e seus princípios não pertence apenas ao século 21.5 Em algumas passagens paulinas existem princípios práticos para manter firme o casamento ministerial. Um dos aspectos fundamentais para se ter uma família sólida e funcional é ter um casamento que preserve a santidade como princípio de vida.

O apóstolo Paulo, em Romanos 12:2 (ACF), embora neste caso não se refira especificamente ao lar, afirma: “E não sede conformados com este mundo.”6 Uma tradução mais próxima do significado da escrita original seria: “Não se adaptem à forma desse tempo.” O termo αἰῶνι, traduzido como “mundo”, deve ser interpretado como uma era, um período de tempo.7 O conselho paulino indica a não adaptação aos costumes que se impõem como modas e que contradizem os princípios bíblicos. A recomendação se aplica a todos os empreendimentos realizados por um cristão. Portanto, o conselho pode ser aplicado ao ambiente familiar ou matrimonial. O mundo com seus costumes nunca deveria entrar nos lares pastorais.

Continuando com essa linha de pensamento, era importante para Paulo que os casais cristãos não fossem influenciados por costumes pagãos. O conselho encontrado em Efésios 5:21-258 está totalmente relacionado à santidade do casamento. Para entender essa passagem, você precisa conhecer o contexto da época. O casamento, dependendo da época e da cultura, foi entendido de maneiras diferentes. A cultura predominante da época de Paulo era a grega. Os gregos consideravam o casamento um título honorário.9

Nessas culturas, as pessoas geralmente não se casavam por amor, mas para alcançar um determinado status social.10 A lei grega permitia que os homens tivessem suas amantes por prazer; a esposa era apenas para cuidar dos filhos legítimos. É preciso lembrar que, naquela época, a prostituição era uma parte essencial da vida. Por sua vez, “a mulher grega respeitável era educada de tal maneira que a companhia e a conversa eram impossíveis dentro do casamento.”11 A mulher casada não tinha conversas cotidianas com o esposo; era para isso que existiam as guardiãs dos assuntos do lar.12

O homem, naquele ambiente, era autorizado pela lei e pelos costumes sociais gregos a ter várias mulheres. Nesse mesmo contexto, deve-se entender o conselho que Paulo dá a Timóteo quando menciona que o bispo deve ter apenas uma esposa.13 Paulo queria que o homem cristão fosse respeitoso com sua esposa e a considerasse sua única mulher. Os costumes pagãos, embora endossados ​​pela lei local, não deviam ser considerados pelos casais cristãos. Em 1 Coríntios 7:2, 3, (ARA) o apóstolo observa: “Mas, por causa da impureza, cada um tenha a sua própria esposa, e cada uma, o seu próprio marido. O marido conceda à esposa o que lhe é devido, e também, semelhantemente, a esposa, ao seu marido.”14 Paulo observa que, por causa da imoralidade, os filhos de Deus tinham que evitar as tendências e costumes daqueles tempos e lugares.

É nesse contexto que Paulo aconselha que no casamento cristão, tanto o homem como a mulher sejam sujeitos um ao outro. A palavra que se traduz como “sujeito” em grego é ὑποτασσόμενοι e significa “submeter-se”, “estar junto”, “estar unido”, “estar sujeito.”15 Paulo considera que ambos os cônjuges devem se submeter em amor. Este conceito pode ser visto claramente ao ler Efésios 5:21: “Sujeitando-vos uns aos outros…”. Nesta passagem, não houve intenção de enfatizar – como muitas vezes se entende – que a mulher deve ser subordinada ao esposo. A base dessa passagem, longe de ser o domínio masculino, é o amor e a santidade.

O pensamento paulino sobre a santidade do casamento encontra seus argumentos na mesma cultura hebraica. Nela, a vida conjugal é o palco da santidade. Na visão judaica, esposo e esposa são unidos para serem uma só carne.16 Isso implica que a trama da união matrimonial é permanecer juntos em amor, honra, respeito e responsabilidade matrimonial. Acima de tudo, esse vínculo deve refletir uma união sagrada, assim como Deus está unido ao Seu povo. É por isso que, para o judaísmo, a palavra usada para casamento é kiddushin, que significa santificação.17 Paulo convida os casais a permanecerem unidos, mantidos juntos em amor santificado; e que não se deixassem influenciar pelos costumes e práticas da época.

Atualmente, o pós-modernismo apresenta diferentes alternativas de casamento, família, sexualidade, casal, que não necessariamente coincidem com os princípios bíblicos. Os problemas mais comuns em um casamento têm a ver com sexo, falta de comunicação, ciúme, falta de tempo juntos, falta de projetos em comum, divisão de responsabilidades etc. As situações disfuncionais devem ser avaliadas e corrigidas, se necessário, com o auxílio de profissionais.

No casamento cristão, tanto o homem quanto a mulher são chamados a manter suas vidas íntimas em santidade e em harmonia com os princípios bíblicos. Ellen White escreveu: “Era o esforço calculado de Satanás [na era antediluviana] perverter a instituição do casamento, a fim de enfraquecer as obrigações próprias à mesma, e diminuir a sua santidade; pois de nenhuma outra maneira poderia ele com maior certeza desfigurar a imagem de Deus no homem, e abrir as portas à miséria e ao vício.”18 Observe a ênfase que a citação coloca no interesse do inimigo de Deus em destruir o casamento, enfraquecendo suas obrigações e, acima de tudo, diminuindo sua santidade. Nos tempos modernos, Satanás tenta com igual intensidade influenciar os casamentos pastorais. O apóstolo Pedro comenta: “Portanto, amados, sabendo disso, guardem-se para que não sejam levados pelo erro dos que não têm princípios morais, nem percam a sua firmeza e caiam. Cresçam, porém, na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo…” (2Pe 3:17-18, NVI).

Cada casal pastoral deve, mais do que nunca, assegurar que seu casamento seja coroado de santidade, e que seja removido de suas vidas qualquer influência doentia que possa abrir uma porta para o infortúnio. 

 

Princípios hebraicos e a santidade da família ministerial

Como em outras comunidades, o clã familiar era de extrema importância para a sociedade hebraica. No entanto, a família judaica tinha algumas distinções especiais que a permitiam posicionar-se como uma peça fundamental dentro de sua comunidade. Em primeiro lugar, o que tornava a família especial para o judaísmo é que ela havia sido originada por Deus (Gn 2:24). Em segundo lugar, era o espaço por excelência para a educação e a transmissão dos valores do judaísmo. Terceiro, o clã familiar era, acima de tudo, um lugar de santificação da vida.

Os princípios mencionados acima demonstram claramente o papel fundamental da família na sociedade judaica. Muitos autores afirmam que a família foi, com seu papel de liderança, a entidade que manteve vivo o povo judeu e suas crenças após tantos anos de perseguição ao longo da história.19 A idoneidade e as aptidões que a família possuía naquela comunidade conferiam-lhe um lugar privilegiado na sociedade. Hernández Batista explica: “Essa centralidade vai muito além de uma questão meramente biológica: é no espaço familiar onde o novo membro vai aprender principalmente os costumes, práticas e crenças que vão configurar sua identidade.”20 É assim que no judaísmo a família cumpre aquele papel significativo de educação integral e santidade.

A família pastoral segue os mesmos princípios da família hebraica. Os lares cristãos, especialmente os pastorais, são espaços essenciais para transmitir educação e valores aos filhos, além de estabelecer a identidade do genuíno crente. A família cristã é o lugar primário e essencial para que cada membro encontre seu espaço de santificação de vida. Ellen White aconselhou:

 

A verdadeira educação é bem definida como o desenvolvimento harmônico de todas as faculdades — o cabal e adequado preparo para esta vida e para a futura vida eterna. É nos primeiros anos no lar e nas atividades escolares convencionais que se desenvolve a mente, que se estabelece um padrão de vida e que se forma o caráter.21

 

Esta citação destaca a importância da educação familiar nos primeiros anos de vida de uma criança cristã. Indiretamente, é enfatizado que essa educação familiar deve ser bem usada por pais cristãos para ensinar valores e princípios cristãos a seus filhos.

Por outro lado, White aponta: “A educação centralizada na família era a que prevalecia nos dias dos patriarcas […] nessa vida livre, independente, com suas oportunidades para o trabalho, estudo e meditação, aprendiam acerca de Deus e ensinavam os filhos a respeito de Suas obras e caminhos.”22 Como nos dias dos patriarcas, as famílias pastorais devem aproveitar as oportunidades para ensinar em casa a importância da oração, do estudo da Bíblia e do caminho de Deus.

No judaísmo, havia dois lugares centrais para o desenvolvimento da vida espiritual: o templo e a família. Rivera comenta: “O templo era o centro da vida litúrgica do povo de Israel. Só ali se ofereciam sacrifícios, ali se orava, ali havia a presença divina (sekinah).”23 No entanto, o mesmo autor assegura que os líderes judeus preferiram “confiar em suas famílias e dar-lhes a responsabilidade de garantir a continuidade da tradição e o crescimento da comunidade.”24 E era assim que a família cumpria o papel de local de culto dos judeus. As festividades judaicas giravam em torno da família. A centralidade dessas festividades estava na mesa da família.25 Este espaço familiar continua a ser um símbolo do templo para o judeu. Não é à toa que os judeus usam, entre outras, a palavra hebraica mikdashma’at,26 que significa pequeno santuário, para se referir à família ou ao lar. Para a mentalidade hebraica, a família foi constituída por Deus com o sentido de ser um agente celestial onde seus membros encontram seu espaço para a santidade da vida. Quão importante, então, é considerar a família pastoral como um pequeno santuário, um lugar onde seus membros encontram, entre outras coisas importantes, um refúgio espiritual!

Isso coincide totalmente com o que Ellen White escreveu sobre a família: “O lar deve ser tudo quanto está implícito nessa palavra. Deve ser um pequeno Céu na Terra, um lugar onde se cultivem as afeições em vez de serem estudadamente reprimidas. Nossa felicidade depende do cultivo do amor, da simpatia e da verdadeira cortesia de uns para com outros.”27 A autora, ao apontar o lar como um pequeno paraíso na terra, entende a necessidade urgente de cultivar afeição, amor, simpatia e verdadeira cortesia. A ideia de ver a família como um segundo santuário ou um pequeno paraíso na terra deixam ensinamentos claros para as famílias de hoje.

Para as famílias judaicas, a educação espiritual se concentra na mesa e nas festividades; para os cristãos, o culto familiar e os momentos de devoção pessoal são essenciais. O culto familiar aprofunda e fortalece os relacionamentos familiares. É uma oportunidade para os pais exercerem o sacerdócio e ensinarem os princípios bíblicos a seus filhos, que marcarão suas vidas para sempre. Ellen White escreveu:

 

Em cada família deve haver um tempo determinado para os cultos matutino e vespertino. Que apropriado é os pais reunirem os filhos em redor de si, antes de quebrar o jejum, agradecer ao Pai celeste Sua proteção durante a noite e pedir-Lhe auxílio, guia e proteção para o dia! Que adequado, também, em chegando a noite, é reunirem-se uma vez mais em Sua presença, pais e filhos, para agradecer as bênçãos do dia findo?28

 

As famílias que adoram em suas casas tendem a trazer esse mesmo espírito de adoração para a igreja local. O Senhor disse a respeito de Abraão: “Pois eu o escolhi, para que ordene aos seus filhos e aos seus descendentes que se conservem no caminho do Senhor, fazendo o que é justo e direito, para que o Senhor faça vir a Abraão o que lhe havia prometido” (Gn 18:19, NVI). Os pais de hoje também foram chamados com o mesmo propósito de instruir seus filhos a permanecerem no caminho do Senhor, acima de tudo, para que Suas promessas sejam cumpridas na vida de cada família.

Tudo isso influencia a santidade do lar. Santidade tem alta conotação moral, o que implica estar separado do pecado. O apóstolo Pedro escreveu: “Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que tínheis anteriormente na vossa ignorância; pelo contrário, segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento, porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo” (1Pe 1:14-16). Pedro enfatiza que esta santidade deve estar presente em toda a nossa maneira de viver. Significa ter uma vida de obediência em Cristo.29 Uma vida de obediência em Cristo envolve separação do pecado.

A família torna-se um espaço de santidade quando cumpre a função de instruir os seus membros nos caminhos do Senhor, quando valoriza os valores mais elevados e quando sabe imprimir no coração dos seus membros a identidade do verdadeiro cristianismo. Somente assim, os lares pastorais se tornarão um pequeno santuário ou um pedaço do Céu na terra.

 

Conselhos práticos para alcançar a santidade na família e no casamento

de uma perspectiva bíblica

Na Palavra de Deus, podem ser encontrados conselhos práticos para alcançar a tão esperada santidade no casamento e na família pastoral. Em 1 Timóteo 4:11-16, (Nova
Almeida Atualizada) Paulo apresenta várias recomendações que podem ser aplicadas à vida espiritual matrimonial e familiar.

 

Ser um exemplo

A primeira coisa que Paulo pede a Timóteo é isto: “[…] seja um exemplo para os fiéis” (v. 12). A palavra usada neste texto, traduzida como “exemplo”, é túpos, que pode significar “ser um modelo”, “um padrão”, “alguém digno de imitação”. Em casa, os primeiros a dar o exemplo são os pais. “A importância do exemplo dos pais vai permitir que os filhos corrijam comportamentos inadequados, pois para eles, o mais importante é o exemplo, e não palavras que não tenham coerência. As crianças aprendem a comer observando os pais, aprendem a falar ouvindo os pais etc.”30 Os filhos tendem a imitar permanentemente seus pais. Paulo indica em que coisas se deve ser um exemplo: “[…] na palavra, na conduta, no amor, na fé, na pureza (v. 12).

A primeira coisa que ele aponta é a palavra. Significa ser cuidadoso em nossa conversa. O discurso deve ser edificante; a conversa, santa. Ellen White escreveu: “Que a mente esteja repleta de pensamentos puros e santos e que as palavras sejam bem escolhidas. Não impeçais o êxito de vosso trabalho, pronunciando palavras levianas e descuidadas.”31 As palavras influenciarão diretamente os membros mais novos da família. O uso da linguagem positiva é essencial para o desenvolvimento das crianças. Segundo estudos científicos, uma palavra negativa diminui a capacidade cognitiva do sujeito.32

Em segundo lugar, pede-se a Timóteo que seja um exemplo na sua conduta. Isso implica no modo de vida. “Os pais servem como modelo para seus filhos, e não apenas por meio da interação direta com eles. A interação indireta ou exemplos de atitude e comportamento com outras pessoas e com o mundo exterior também influenciam muito o desenvolvimento da personalidade e das habilidades sociais das crianças.”33 Não apenas o que é falado é importante, mas o que é feito.

Terceiro, menciona o amor baseado em princípios. É um amor sublime e altruísta. “O amor dos pais ajuda os filhos a aceitar os valores e regras de sua casa.”34 A criação com amor abre portas no coração das crianças para receber conselhos, correções, valores e instruções fundamentais para o seu desenvolvimento pessoal.

Quarto, refere-se à . Envolve erguer a bandeira da confiança em Deus. É necessário um Abraão moderno que deixa altares por onde passa. “Deus pretende que as famílias da Terra sejam um símbolo da família do Céu. Os lares cristãos, estabelecidos e dirigidos de conformidade com o plano de Deus, são um maravilhoso auxílio na formação do caráter cristão e para o progresso de Sua Obra.” 35 Pais piedosos deixarão marcas indeléveis na vida de seus filhos.

Finalmente, é feita referência à pureza. Aqui falamos da moral do cristão, sem mancha, uma vida semelhante à de Cristo. “Devem os pais e tutores manter eles mesmos pureza de coração e vida, se quiserem que os filhos sejam puros.”36 A importância de uma vida pura por parte dos pais garantirá uma educação plena para seus filhos.

 

Ocupar-se da Palavra

Paulo compartilha com Timóteo um segundo conselho: “… aplica-te à leitura, à exortação, ao ensino” (v. 13, ARA). Refere-se à leitura, ensino e pregação da Bíblia. Esse conselho atinge tanto a esfera pessoal quanto a familiar. No culto pessoal, a entrega diária é o bálsamo mais delicado para o coração e o espírito humanos. Reservar alguns momentos todos os dias para falar com Deus permite que você tenha uma mente e um espírito claros e prontos para enfrentar as atividades diárias. O culto familiar, como já foi mencionado, fornece o espaço de santidade para a família. São várias as formas de realizá-lo e há diversos materiais que vão ajudar a tornar este momento atrativo.

 

Não negligenciar o dom

Finalmente, Paulo menciona uma das recomendações mais atraentes desta passagem: “Não te faças negligente para com o dom que há em ti” (v. 14). Para Paulo, cada dom é concedido pelo Senhor e é uma negligência não cuidar dele ou não cultivá-lo. Os pais devem ajudar os filhos, em oração, para que conheçam e cultivem diferentes dons. O culto em família pode ser um dos espaços mais especiais para as crianças ou jovens atingirem esse objetivo. “Esses dons nos são concedidos de acordo com nossa capacidade de usá-los, e o sábio desenvolvimento de cada um representará uma bênção para nós e trará glória a Deus. Cada talento recebido com gratidão é um elo na corrente que nos liga ao Céu.”37

Paulo encerra sua série de conselhos com um incentivo muito importante. No verso 16, ele diz: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes.”38 

 

Conclusão

Como foi mostrado neste artigo, tanto em algumas passagens paulinas, quanto em certos costumes hebraicos, podem-se encontrar ensinamentos práticos que ajudarão a fortalecer o casamento da família ministerial.

Hoje, mais do que nunca, os lares pastorais devem ser mantidos fora do alcance dos costumes nocivos que a contemporaneidade propõe. Como mostra este trabalho, o matrimônio pastoral tem uma grande obrigação de permanecer santo, sem pecado, como apontado pelo apóstolo Paulo nos textos analisados. O casal que mantém essa qualidade como princípio de vida será, sem dúvida, o alicerce de uma família sólida. Para atingir esse objetivo, Paulo aconselha não se contentar com o mundo, ou seja, não abrir as portas para as práticas mundanas.

Por outro lado, a família pastoral deve ser considerada, como o judaísmo o faz, um pequeno templo. O lar pastoral é o espaço por excelência de educação e transmissão de valores religiosos. Acima de tudo, é um lugar de santificação para toda a vida. A prática do culto familiar é a base principal para tal tarefa, portanto, não deve ser negligenciada sob nenhuma circunstância.

Nos escritos paulinos há a exortação pertinente para que os lares pastorais se tornem pequenos agentes celestiais. Paulo deixa um conselho claro para que este fim seja uma realidade em cada família pastoral. Ser exemplo em tudo, dedicar-se ao ensino da Palavra de Deus e ajudar a cultivar os dons espirituais em cada membro da família plantarão os alicerces essenciais para a santificação e a ajuda pertinente para a salvação.

 

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 Cristina Ruiz Ordoñez, “El papel de la familia en la transmisión sociocultural y de la salud mental”, Nómadas, nº 9 (janeiro-junho de 2004).

2 Martín Schatke, “¿Conceptos de familia en la posmodernidad?”, Desarrollo, economía y sociedad 5, nº 1 (2016), 65.

3 Ibid., 65-78.

4 Juan Muñoz, “El pastor y su familia”, Revista Digital Facultad de Teología CSTAD, 25 de abril de 2019, http://apuntesteologicos.es/el-pastor-y-su-familia.

5 Raquel Gil Montero, “¿Métodos, modelos y sistemas familiares o historia de la familia?”. Em 

Familia y Diversidad en América Latina. Estudios de casos, comp. por David Robichaux (Buenos Aires: CLACSO, setembro de 2007).

6 O texto desta nota não aparece no original!

7 αἰῶνι deve ser interpretado como um período de tempo marcado em seu uso neotestamentário por características espirituais ou morais. Ver W. E. Vine, Diccionario expositivo de palabras del Antiguo y Nuevo Testamento exhaustivo de Vine, s. v. “mundo”.

8 “Sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo. As mulheres sejam submissas ao seu próprio marido, como ao Senhor; porque o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, sendo este mesmo o salvador do corpo. Como, porém, a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo submissas ao seu marido. Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela”.

9 Walter Scheidel, “Monogamy and Polygyny in Greece, Rome and World History”. Em A Companion to Families in the Greek and Roman Worlds ed. por Beryl Rawson (Haboken, NJ: Blackwell Publishing, 2011), 108-115.

10 Jennifer Goodall Powers, “Greek Weddings: The History of Marriage”, Classical Technology Center, 

 https://archive.ph/Bm7rp (consultado em 11 de fevereiro de 2018).

11 William Barclay, Comentario al Nuevo Testamento (Barcelona: Editorial Clie, 1970), 723.

12 Ibid., 723.

13 “É necessário, portanto, que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher, temperante, sóbrio, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar” (1Tm 3:2).

14 O texto desta nota não aparece no original!

15 W. E. Vine, Diccionario expositivo de palabras del Antiguo y Nuevo Testamento exhaustivo de Vine, s. v. “sujeto”.

16 Rav Dan Silverman. “La visión judía del matrimonio”, Aish Latino, 30 de julho de 2012, https://www.aishlatino.com (consultado em 4 de agosto de 2021).

17 Encyclopaedia judaica 2.a ed., vol. 12, s. v. “kiddushin”.

18 Ellen G. White. O Lar Adventista (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004), 326.

19 Rodger Kamenetz, The Jew in the lotus: a poet’s rediscovery of Jewish identity in Buddhist India (San Francisco, CA: HarperSanFrancisco, 1995). 

20 Hernández Batista. “La centralidad de la familia en la preservación de las tradiciones en el contexto del judaísmo”.

21 Ellen G. White, Educação (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2008), 7.

22 Ibid., 33.

23 Mario Alberto Rivera, “La celebración familiar judía, fuente de inspiración para las familias cristianas”, Theologica Xaveriana 64, n.o 178 (julho-dezembro de 2014), 461.

24 Ibid.

25 Carl Ehrlich, Entender el judaísmo (Barcelona: Editorial Blume, 2006), 75. A mesa era um lugar importante no judaísmo. Tudo o que está sobre a mesa ou acontece ao redor dela simboliza o altar do templo. Por outro lado, as práticas e festas religiosas eram frequentemente voltadas para a família, especialmente a Páscoa, que era celebrada como uma refeição religiosa e uma oferta de ação de graças da família (Êx 12:3-4; Êx 12:46). Na época patriarcal, antes que o culto fosse centralizado no templo, e depois na sinagoga, os pais ofereciam o sacrifício a Deus (Gn 31:54).

26 Anita Diamant y Howard Cooper, Living a Jewish Life: Jewish Traditions, Customs and Values for Today’s Families (New York: Harper, 2007), 13.

27 White, O Lar Adventista, 15.

28 Ellen G. White, Orientação da Criança (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1954), 341.

29 Barclay, Comentario al Nuevo Testamento, 986.

30 Portal de educação infantil e primária, “Importancia del ejemplo de los padres en la educación de los hijos”, 28 de março de 2021, https://www.educapeques.com  (consultado em 1 de agosto 2021).

31 Ellen G. White, O Colportor Evangelista (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2008), 72. 

32 Beatriz Portinari, “Una mala palabra a un niño puede llevarle a la autodestrucción o la destrucción de los otros”, El País, 30 de janeiro de 2018.

33 María José Roldán, “La importancia de los padres como modelo a seguir en la educación de los hijos”, Vixhttps://www.vix.com  (consultado em 3 de agosto de 2021).

34 María Elena López, “Las ventajas de una crianza con amor”, Inteligencia familiar, 10 de outubro de 2012,  https://www.inteligenciafamiliar.com  (consultado em 3 de agosto de 2021).

35 Ellen G. White, Testemunhos Seletos, vol. 3 (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1949), 42.

36 Ellen G. White, Orientação da Criança, 12. 

37 Ellen G. White, Filhas de Deus (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2008), 130.

38 Não há necessidade de ter essa nota, porque não aparece nada no original!