A Fragmentação do Adventismo

A Fragmentação do Adventismo

A Fragmentação do Adventismo

Resumido por Carlos A. Steger, de William G. Johnsson, ¿Se fragmentará la iglesia? Peligros reales para el adventismo de hoy. Miami, FL: APIA, 2004.

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Capítulo 1: A igreja é um milagre

Para a Igreja Adventista do Sétimo Dia, esse é o melhor de todos os momentos. Mas ao mesmo tempo, é o pior de todos os momentos.

A igreja está em seu melhor momento porque está crescendo como nunca.

Mas está no pior dos momentos porque a possibilidade de um cisma é agora uma ameaça muito mais real que antes. É um milagre que a igreja permanece unida até agora a nível mundial. Mas, será que ela poderá continuar unida sem se dividir?

 

Capítulo 2: O espírito da época

A sociedade contemporânea glorifica as celebridades da noite para o dia, mas, com a mesma velocidade, as “cancelam” a qualquer momento. Isso afeta artistas, atletas, políticos e qualquer pessoa que se destaque de alguma maneira.

Por isso, é extremamente difícil exercer liderança na atualidade. O problema é que as pessoas esperam soluções imediatas. Mas muitos problemas são difíceis de solucionar porque envolvem um emaranhado de relações humanas, preconceitos, problemas do passado, medos, invejas, ganância etc.

Hoje, toda autoridade é desafiada e rejeitada. A sociedade tem prazer em apontar os erros dos líderes e isso desgasta rapidamente.

A época atual também se caracteriza pelo individualismo, que leva ao pluralismo e ao relativismo. A regra é: quero meu prazer, faço o que eu gosto, e eu quero agora. 

Outra característica da nossa época é que ela confunde o estilo com a substância. A aparência exterior de uma pessoa é mais importante do que o que essa pessoa tem para oferecer. O que mais vale é a impressão que sua presença deixa nos demais, e não o conteúdo ou as ideias que nos apresenta. A televisão contribuiu para essa mudança mais que nenhuma outra coisa. Ela nos fez sermos mais superficiais, presos às aparências. Promoveu a análise instantânea e a exigência de respostas instantâneas. Fomentou o individualismo. A televisão ajudou a fragmentar a igreja. Da mesma maneira que está desintegrando a sociedade, está afetando a igreja.

Se antes os líderes da igreja podiam traçar planos e impô-los, agora qualquer plano traçado pela liderança da igreja será possivelmente rejeitado instantaneamente, sem considerar quão boa ela seja. 

Se antes as reuniões de obreiros faziam com que os pastores viajassem com sentimento de culpa, agora muitos presidentes de associações nem sequer conseguem fazer com que seus obreiros assistam às reuniões.

Se antes as igrejas seguiam incondicionalmente os planos da Associação, agora algumas igrejas fazem o que querem, desobedecendo o regulamento da igreja, inclusive na administração dos recursos da igreja.

Vivemos em uma época muito difícil para liderar a igreja.

 

Capítulo 3: Necessitamos de um reavivamento

Somos Laodiceia. Asseguramos ser o povo que espera o retorno de Jesus. Mas, frequentemente, a forma em que vivemos nega o que dizemos. Necessitamos de uma reforma. Por isso os grupos reformistas encontram seguidores. O problema é que o chamado deles ao reavivamento e reforma vai além da admoestação dentro da organização, e eles organizam suas reuniões campais independentes e imprimem suas próprias publicações.

Infelizmente, na igreja, há indivíduos e inclusive líderes que caem no pecado. Os grupos reformistas se especializam em apontar esse tipo de erro, mas se esquecem que o amor “não se alegra com a injustiça” (1Co 13:6).

Segundo a Bíblia, a reforma genuína significa uma mudança na maneira em que nos relacionamos com nossos semelhantes. Significa tratá-los com justiça e com amor, como filhos de Deus (ver Is 58). A verdadeira reforma traz a presença de Jesus para nossa vida como nosso Senhor e Rei. Como resultado, nossa vida reflete sua vida de abnegação e amor, pureza, honestidade e justiça.

Mas não é isso o que os grupos reformistas proclamam. Suas publicações têm listas do que se pode fazer e do que não se deve fazer, esquecendo o mais importante.

A igreja necessita de uma reforma, mas uma reforma bíblica. Necessitamos de Cristo, como o centro das nossas vidas. Necessitamos voltar à Bíblia, para sermos homens e mulheres da Bíblia outra vez. 

 

Capítulo 4: Diferenças entre gerações

A divisão entre gerações é tão antiga como a Bíblia (ver a história de Roboão em 1Rs 12). No entanto, atualmente, a divisão cresceu até se transformar em um abismo. Isso se deve ao fato de que a família, que sustentava a sociedade e mitigava as diferenças entre as gerações, está se desintegrando.  

Poucas famílias têm os avós em casa. Mais da metade das mães de crianças pequenas trabalham fora de casa. Há cada vez mais divórcios. O relacionamento com os pais se tornou confuso.

Sem a correta interação entre as gerações, as relações se quebraram. Cada geração tem sua própria gíria, seus heróis, suas músicas, seus valores. Mais e mais, cada geração fala somente àqueles da sua própria geração, e acha incompreensível os das outras, de maneira que nem vale a pena tentar a comunicação com eles. 

O marketing moderno acentua as diferenças. A publicidade é dirigida a uma audiência muito específica. Por exemplo, basta olhar a enorme variedade de revistas que são oferecidas, para cada idade e tipo de pessoa. 

Todas as denominações sofreram a perda de muitos membros da geração Baby Boomers (nascidos entre 1943 e 1964). Esta geração deu às costas a muitos dos valores de seus pais. Questionam tudo, experimentam tudo, ficam com algumas coisas e rejeitam outras. Muitos descartam o casamento. Mas quando têm filhos, um bom número retorna à igreja. Não necessariamente à igreja da sua infância, mas buscam uma igreja em que se sintam bem.

Por outro lado, mais e mais crianças têm seu próprio culto, assim como os jovens. São feitos retiros para solteiros, mulheres, às vezes para homens, divorciados etc. É verdade que cada grupo tem suas necessidades particulares. Mas, como cuidar para que isso não leve à fragmentação da igreja? Quando é que unimos nosso coração e voz em um corpo, uma família, no Senhor?

A música provavelmente produz mais discussões que nenhum outro assunto. Outra área em que vemos diferenças entre as gerações é a financeira. Os Baby Boomers são mais seletivos em suas ofertas, menos comprometidos no apoio leal aos programas da igreja. 

 

Capítulo 5: Educação, obra-prima ou monstro?

Acreditamos que, apesar de todos os defeitos, nossas instituições educacionais são o melhor lugar para enviar nossos filhos. Alguns adventistas querem que nossas instituições educacionais corrijam o que está acontecendo nos lares e nas igrejas adventistas. Mas como isso não ocorre, nem tem como ocorrer, essas pessoas falam mal das nossas instituições educacionais. 

Outros adventistas estão magoados porque seus filhos e netos não vão mais à igreja, e frequentemente jogam a culpa em nossas instituições educacionais. 

Ellen White escreveu que nossas instituições educacionais deveriam “adestrar os jovens para que sejam pensantes e não meros refletores do pensamento de outrem” (Educação, p. 17). As instituições educacionais adventistas têm tentado seguir esse conselho. Enquanto apresentam a alternativa cristã, têm encorajado os estudantes a pensar por si mesmos e a defender seu posicionamento. 

E chegamos a ser vítimas do nosso próprio êxito. Nossos jovens estudaram e pensaram por si, e muitos chegaram a conclusões com respostas diferentes das nossas. Não tanto com relação à teologia, pois muito poucos jovens desafiam nossas doutrinas, mas em relação a alguns aspectos do estilo de vida adventista. Eles avaliaram nossos argumentos, nosso uso das Escrituras e chegaram à conclusões diferentes das nossas.

Em especial, veem pouco apoio para nossas normas de vestimenta. Os adultos apontam textos bíblicos que proíbem as joias, por exemplo, mas eles encontram outros textos que parecem ir na direção contrária. Além disso, encontram inconsistências: os adultos podem condenar duramente um anel ou uma pulseira, mas usam uma gravata cara ou um relógio de ouro, e dirigem um Mercedes-Benz ou um Cadillac.

A nível mundial, é possível encontrar grandes diferenças entres os adventistas em relação ao estilo de vida. A observância do sábado entre a Europa e a América do Norte, inclusive dentro da América do Norte, varia muito.

De uma perspectiva humana, o esforço por preservar a Igreja Adventista como uma igreja mundial, com um estilo de vida distintivo, parece um sonho impossível. No entanto, apesar das diferenças, há uma unidade de estilo de vida adventista ao redor do globo terrestre.

A observância do sábado nos une. E os adventistas de todo o mundo procuram viver de forma saudável, evitando o tabaco, as bebidas alcoólicas e as drogas. Os adventistas de qualquer parte do mundo têm uma aparência melhor do que as demais pessoas, são mais saudáveis, mais limpos, mais felizes. 

Outra área do estilo de vida em que a igreja está sendo fragmentada é a do entretenimento, em especial dos filmes. Nesta área, necessitamos desesperadamente purificar nossas atividades. Apesar da nossa pretensão de adesão a um alto padrão, estamos muito piores que muitos evangélicos, cujo hábito de assistir filmes e televisão são mais puros que os nossos.

O pior é a paralisia do nosso silêncio sobre o tema. Por anos temos dito que os adventistas não vão ao cinema, e demos nossas razões, e tentamos encontrar textos para apoiá-las. Esta teoricamente ainda é nossa norma, mas foi massivamente rejeitada. Nossas antigas justificativas já não servem: não faz falta ir ao cinema, porque os filmes entram no nosso lar pela televisão, vídeos, DVD alugados, ou internet. Além disso, nossas instituições educacionais e igrejas apresentam filmes. 

O resultado é que muitos adventistas assistem lixo. Eles permitem que a televisão continue ligada e os seduza a assistir shows e filmes censurados. Não prestam atenção aos valores que estão sendo transmitidos. Precisamos aprender a escolher filmes e programas apropriados para cristãos. Nossos membros poderiam se beneficiar de uma crítica aos filmes e programas em relação aos seus valores. Os evangélicos fornecem essa educação e essas críticas. Nós não, estamos presos em uma paralisia do silêncio.

Os meus diálogos com os jovens adultos adventistas me levaram à conclusão de que a dualidade de critérios da igreja em relação aos filmes e à televisão afeta tremendamente a credibilidade da igreja. 

Há um aspecto mais relacionado com a educação, que surgiu no começo do século 20. A igreja estabeleceu uma instituição para preparar médicos em Loma Linda. Mas, para que seus graduados pudessem exercer a medicina, a instituição deveria estar credenciada. Isso trouxe consequências em relação ao currículo, aos professores e à biblioteca. Uma após outra, nossas instituições educacionais optaram pelo credenciamento, ainda que o processo fosse lento e resistido por muitos, tanto nas próprias instituições, como na Associação Geral.

Outro passo importante foi quando decidimos instaurar universidades. O próprio conceito de universidade demanda abertura de ideias, pesquisa e busca pela verdade.

Às vezes, me pergunto se compreendíamos em que estávamos nos metendo quando decidimos estabelecer universidades. Antecipamos a abertura ao conhecimento e o questionamento que aquilo traria, com a possibilidade de dividir a igreja que aquilo inevitavelmente implicaria? 

Não estou lamentando que a igreja tenha estabelecido universidades. Mas as vantagens têm um custo. Como resultado, temos uma membresia mais educada que a população em geral, mas também aumentou a distância entre os mais educados e os menos educados dentro da igreja. E enfrentamos um triste modelo: as pessoas se unem à igreja, seus filhos acendem socialmente graças à educação adventista, mas a próxima geração, seus netos, por mais bem educados que sejam, saem da igreja em um uma proporção elevada.

 

Capítulo 6: Tecnologia moderna

As novas tecnologias facilitaram para que os grupos dissidentes multiplicassem sua influência. 

Há ministérios de apoio excelentes que se esforçam por levar a missão da igreja adiante, tais como a Adventist Frontier Missions (que envia jovens como missionários a lugares sem presença adventista), Maranatha Volunteers International (que organiza voluntários para construir igrejas e escolas em diversos países) e Adventist Laymen’s Services & Industries (ASI, que apoia a propagação do evangelho de diversas maneiras).

Mas por outro lado, há ministérios que em vez de levar o evangelho ao mundo que perece, se concentram nos erros e falhas da igreja. São muito críticos e acusadores. Pensam que sua missão é repreender as faltas (segundo eles as veem) dos líderes e instituições adventistas.

Se a Igreja Adventista não existisse, esses ministérios não existiriam. São parasitas da igreja. Eles sempre se apresentam como adventistas leais à igreja. Convidam seus leitores para que os apoiem financeiramente, apesar de nunca divulgarem uma auditoria que verifique como usam os dízimos e ofertas que recebem.

Muitos adventistas parecem pensar que qualquer coisa que apareça na imprensa ou na internet é crível. Quando o nosso povo aprenderá a examinar tudo e reter o que é bom (1Ts 5:21)?

Os vídeos têm um poder surpreendente para persuadir, muito mais que as publicações. Nas mãos de um manipulador hábil, podem enganar até os escolhidos. Mas “por seus frutos os conhecereis” (Mt 7:16).

A forma de erro mais difícil é a que vem misturada com a verdade. Se esses ministérios independentes se separassem e iniciassem uma nova denominação, não seria um problema. Eles estão diretamente contra a crença fundamental número 14, intitulada “Unidade no Corpo de Cristo”.

Possivelmente teremos dissidentes conosco até que o Senhor regresse. Seu potencial para fragmentar a igreja é maior do que nunca, devido à tecnologia moderna que multiplica sua influência.

Como os trataremos? Com paciência, amor e sabedoria. Apenas o Senhor pode nos dar essas virtudes. 

 

Capítulo 7: Frustração pela “demora”

Por que ainda estamos aqui? Quanto mais temos que esperar? Por que Jesus não veio ainda? Apresentarei as três respostas principais que foram dadas:

Primeira resposta: esgotamento escatológico. Para alguns membros, a esperança da segunda vinda já não é mais importante. São adventistas apenas de nome.

Segunda resposta: febre escatológica. Outros estão calculando febrilmente quando o Senhor virá. Elaboram quadros, calendários e colocam datas. Mas isso não é bíblico (Mt 24:36); e, por fim, leva ao esgotamento escatológico depois que passam as datas e Cristo não retorna.

Terceira resposta: teologia escatológica. Eu me refiro às teorias que alguns desenvolveram para explicar por que a segunda vinda está demorando. Há dois tipos: alguns se concentram no que nós deveríamos fazer, outros no que deveríamos pregar.

Os que se referem às nossas ações, falam da missão (Mt 24:14), ou da perfeição do caráter do remanescente (Ap 14:1-5). Isso leva ao “princípio da colheita”, que põe a culpa sobre nós pela demora.

Os que se referem ao que deveríamos pregar, enfatizam um dos seguintes aspectos: a justificação pela fé, ou a vitória sobre o pecado em nossa vida pessoal.

O que fazer diante dessas diferentes respostas?

  1. Lembrar que biblicamente, os que falam da demora da segunda vinda são os que estão do outro lado do muro (Mt 24:48, 49; 2Pd 3:3, 4). Biblicamente, os que falam da demora são os negligentes ou incrédulos.
  2. A Bíblia não apoia a ideia de que os seres humanos possam frustrar os planos de Deus. Ele é soberano.
  3. Nos planos de Deus, a humanidade e a divindade cooperam juntas. Temos um papel a cumprir, mas em última instância, Deus está no controle.
  4. Ao fazer teologia, sempre devemos nos assegurar de começar com o Centro: Jesus. Se começamos com a escatologia, estamos começando com o que deveria estar no final.

 

Capítulo 8: Crescimento assombroso

Essa é outra área em que chegamos a ser vítimas do nosso próprio êxito. O crescimento surpreendente que estamos tendo gera enormes tensões para uma igreja que busca continuar como um só corpo mundial. Vou me concentrar apenas em dois aspectos de tensão: dinheiro e raça.

Quanto mais a igreja cresce nas áreas subdesenvolvidas, maior é a pressão sobre o dólar americano. Como a igreja continua crescendo de forma rápida nas áreas fracas financeiramente, fica mais difícil a cada ano equilibrar o orçamento. Quando o dinheiro é escasso, é fácil pensar e agir de forma egoísta e jogar a culpa nos outros.

Mas antes de mencionar as consequências negativas desta situação, quero afirmar duas coisas. Primeiro, esses problemas são os melhores que poderíamos ter, porque são problemas de crescimento. Deveríamos estar alegres por tê-los e considerá-los como desafios e oportunidades.

Segundo, o Senhor continua abençoando a nossa igreja com recursos financeiros multiplicados. Embora os dízimos e as ofertas não tenham crescido na mesma proporção que o número de membros, o quadro financeiro geral continua sendo bom.

Vejamos as possíveis opções negativas diante desta situação:

A opção dos cidadãos do segundo tipo: contentar-se com as enormes diferenças em relação às oportunidades para adorar e o crescimento pessoal. Em vez disso, deveríamos nos esforçar para tentar alcançar igualdade de oportunidades nos seguintes aspectos: preservação da vida, um lugar para adorar a Deus, literatura cristã em seu idioma, cada criança tendo acesso à educação.

A opção dos ricos e dos pobres: lutar para controlar as finanças. Os ricos poderiam usar sua prosperidade como elemento de pressão e controle, enquanto os pobres poderiam reagir ressentidos pela injustiça.

A opção de votar em bloco: em uma assembleia da Associação Geral.

A opção da representação distorcida: dar mais votos aos que fornecem mais financeiramente.

A opção das igrejas nacionais: como os luteranos, os metodistas, os batistas e os episcopais. Esta seria a opção extrema. Deixaríamos de ser uma igreja mundial única.

Encerro este capítulo mencionando duas coisas positivas:

Primeiro, que a igreja está enfatizando a necessidade de que todas as divisões sejam autossustentáveis.

Segundo, que o Senhor abençoou grandemente alguns indivíduos e colocou em seu coração o desejo de cooperar em projetos necessários.

 

Capítulo 9: Muitas vozes, muitos gurus

Em vez de Pedro, Apolo ou Paulo (como em Corinto), hoje temos Venden, Spear, Wieland e Sequeira. E muitos outros, como Knight, Standish, Maxwell, Larson, Waggoner, Jones, Short, Ford, Grosboll, Osborne, e quem sabe quantos mais.

Esses indivíduos não necessariamente buscaram o status de gurus. Possivelmente a maioria dele tenha resistido. O problema não está primariamente neles, mas nos adventistas que idolatram seus ensinamentos.

Mesmo os teólogos adventistas começaram a se fragmentar. Uma coisa é ter diferenças de opinião. Outra, bem mais grave, é institucionalizar as diferenças. Mas é isso que está acontecendo. No final da década de 1970, foi criada a Andrews Society of Religious Studies (que depois teve seu nome alterado para Adventist Society of Religious Studies [Sociedade Adventista de Estudos Religiosos]). Mas, por discrepâncias entre os teólogos, finalmente foi criada outra sociedade, a Adventist Theological Society [Sociedade Teológica Adventista]. Nossos teólogos estão divididos.

No entanto, o fato de ter uma agitação teológica entre nós é algo positivo. Indica que para nós as doutrinas continuam sendo importantes. Isso é bom na medida em que não seguimos cegamente um líder humano, não comecemos a rotular aqueles que não veem as coisas como nós, reconheçamos que ninguém tem a chave de toda a verdade, e busquemos a verdade mediante o Espírito Santo, e não mediante agências humanas.

 

Capítulo 10: Duas correntes teológicas

Para alguns adventistas, o ano de 1957 marcou uma mudança de rumo com a publicação do livro Questions on Doctrine [Os adventistas respondem perguntas sobre doutrina], especialmente em relação à natureza humana de Jesus e à expiação.

O evangelho sempre envolve o lado divino e o lado humano. Nossa salvação acontece quando cooperamos com Deus. Como é necessário manter o equilíbrio associando a parte divina e a humana, é fácil distorcer o evangelho e convertê-lo em um falso evangelho. 

Desde Mineápolis, temos duas correntes teológicas. Uma dá prioridade ao divino, e outra ao humano. Atualmente, uma enfatiza a graça, a outra enfatiza a vitória.

Na verdade, tanto a graça quanto a vitória são importantes. Ambas devem estar presentes. O assunto não é escolher uma das duas, mas qual se enfatiza mais em detrimento da outra. Praticamente todos os teólogos e escritores adventistas posteriores a 1888 podem se classificar facilmente em uma ou em outra corrente.

Os movimentos independentes radicais enfatizam o lado humano, a vitória. Para eles, Jesus teve uma natureza pecaminosa e a segunda vinda demora porque o Senhor está esperando que seu povo alcance um estado de perfeição impecável.

Por que há tantos adventistas frios, apáticos, sem alegria, críticos? Talvez porque não tenham experimentado o poder da graça.

 

Capítulo 11: Nasce uma nova igreja

A igreja está mudando rapidamente. Em 2020, por exemplo, a igreja poderia ser assim:

– Uma igreja em que predomina o espanhol, e não o inglês.

– Uma igreja em que os brancos são a minoria.

– Uma igreja com um presidente da Associação Geral de origem asiática.

– Uma igreja em que muitas mulheres pudessem ser pastoras.

– Uma igreja com novas estruturas em vez de associações e uniões.

– Uma igreja com uma organização financeira reformada.

– Uma igreja em que a Associação Geral atue como um centro de distribuição de ideias de pessoas, que dá liderança espiritual e não tanto administrativa.

Mas em vez de fazer futurologia, sonhemos como Deus quer que sua igreja seja para o ano de 2020:

– Um corpo de pessoas que se alegram na salvação pela fé.

– Uma comunidade de amor e aceitação, sem preconceitos e barreiras de raça, posição social ou sexo.

– Uma comunidade de igualdade em que todos tenham seu lugar e ninguém tenha domínio sobre o outro.

– Uma comunidade que age com justiça e honestidade com todos.

– Os líderes são servos da comunidade, que encorajam a expressão e a participação de cada indivíduo.

– Cada talento é desenvolvido e utilizado.

Com frequência falamos de “nós e eles”, nos separando do próprio corpo da igreja. Mas nós somos a igreja. Eu sou a igreja. 

Temos sido lentos para confrontar e corrigir as normas sociais que contradizem o evangelho. Temos sido lentos para pagar às mulheres o mesmo salário que pagamos aos homens pelo mesmo trabalho.

Deus nos chama para um padrão mais elevado. Devemos permitir que o Espírito Santo repreenda nosso orgulho e preconceito.

 

Capítulo 12: A igreja se dividirá?

Acredito que a igreja enfrentará esses desafios e sairá ilesa. Acredito que ela não se dividirá, pelas quatro seguintes razões:

Primeiro, porque Cristo é o Cabeça da igreja.

Segundo, porque a Bíblia prediz que no fim dos tempos haverá apenas uma igreja que segue a Jesus e guarda sua lei.

Terceiro, porque no passado a igreja resistiu à grandes pressões que pareciam ser capazes de fragmentá-la.

Quarto, porque João viu a igreja dos últimos dias, e a viu vitoriosa.

Enquanto isso, o que podemos fazer para evitar que a igreja se fragmente? Três coisas:

Primeiro, devemos ajudar nosso povo a enfrentar a mudança. Necessitamos de uma teologia de mudança, um ponto de vista bíblico de mudança. A mudança não é ruim em si. Tudo o que é vivo, muda. A mudança se impõe sobre a igreja a partir de três perspectivas: o crescimento traz mudança, os tempos de mudança demandam uma igreja mutável, e Deus quer nos transformar à Sua imagem.

Segundo, devemos esclarecer o que significa ser um adventista do sétimo dia. Há diferentes ideias em relação ao que é a essência do adventismo: desde salvação por meio do glúten até calcular o ano do retorno de Cristo. Isso não é a essência. Um bom ponto de partida são as 28 crenças fundamentais.

Por fim, eduquemos os membros em relação às implicações do evangelho. Necessitamos ensinar-lhes o que significa ser um em Cristo.