É nosso privilégio expor uma sólida mensagem bíblica em linguagem inteligível para os ouvintes de hoje
Quais são as características da pregação eficaz? Pode haver múltiplas respostas para essa pergunta. Ao tratar do assunto neste artigo, o dividiremos em duas partes: a primeira apresenta as condições fundamentais gerais para o sermão eficaz. A segunda parte apresenta suas três principais características.
A primeira consideração está relacionada com o movimento do particular ao público. A pregação de um sermão é um acontecimento público espiritual que procura persuadir a audiência. O assunto que foi estudado, sobre o qual o pregador meditou e pelo qual orou, no âmbito particular, e que Deus lhe pôde comunicar, se torna uma proclamação pública, um grito que destaca a importância do que é tratado.
A segunda consideração é que o sermão será eficaz na medida em que o Espírito Santo dirigir o pregador. Ele faz com que o sermão se constitua um evento espiritual. É assim, porque, segundo Ellen G. White, “Deus pode ensinar-lhes mais em um momento pelo Seu Santo Espírito, do que vocês poderiam aprender com os grandes homens da Terra” (Testemunhos Para Ministros e Obreiros Evangélicos, p. 119). E porque Ele “é o único Mestre eficaz da verdade divina” (O Desejado de Todas as Nações, p. 671).
Todo ato de falar em público deve ser persuasivo, pois a persuasão é importante para o pregador. Porém, nenhuma intensidade de persuasão pode desprezar o poder do Espírito Santo. É Ele quem invade a consciência, convence do pecado e silenciosamente persuade o ser humano a abrir o coração a Deus. Por mais importante que seja a persuasão, a eficiência do pregador não deriva do carisma pessoal (que apenas pode seduzir), mas do Espírito de Deus tomando posse de Seu servo e tornando-o agente de transformação.
A terceira condição para a pregação eficaz diz respeito ao uso do sentido comum, que é um sólido e prudente juízo fundamentado em uma percepção simples da situação ou de atos captados pelos sentidos. Por exemplo, por que Davi escolheu cinco pedras lisas (1Sm 17:40)? Porque o lançamento seria mais certeiro com munição apropriada. Davi tinha fé, mas também tinha senso comum santificado. Não disse apenas: “O Senhor agirá; assim,
posso usar qualquer pedra.” Ao escolher pedras lisas para acertar o alvo, ele reconheceu a responsabilidade humana e a providência divina. À luz desse exemplo, a pregação eficaz requer trabalho árduo com o texto, escolha de palavras que facilitem a comunicação oral, definição do que dizer ou não dizer, entre outras coisas. Num sentido amplo, Ellen G. White defende o equilíbrio entre teologia e sentido comum (Conselhos aos Professores, Pais e Estudantes, p. 257).
Pregação expositiva
A pregação eficaz deve ser expositiva, e podemos entendê-la a partir de quatro perguntas: O que é? O que não é? O que pretende? Como funciona?
Pregação expositiva não é uma exposição de observações interessantes nem sugestões baseadas na filosofia pessoal do pregador. Sob essa ação, o ouvinte recebe palavras do homem para que sejam consideradas, em vez da Palavra de Deus para ser crida. A pregação expositiva tenta expor a mensagem do Senhor, conforme se encontra na Bíblia. Falando claramente, é pregar as Escrituras como a Palavra de Deus. Era assim a pregação apostólica.
Em consequência disso, a pregação expositiva pretende, primeiramente, apresentar a Palavra de Deus. Essa Palavra nos põe em contato com seu autor que é Deus, o Senhor dos eventos, o herói de cada narrativa. Em segundo lugar, a pregação expositiva age como ponte, ou seja, pode evitar a distância cultural, geográfica, linguística, filosófica e histórica que temos hoje em relação aos tempos bíblicos. Em terceiro lugar, sendo dependente de um estudo sério do texto bíblico, a pregação expositiva nos afasta das especulações humanas. A escassez de uma pregação expositiva intencional não somente está fundamentada em uma teologia fraca, mas também conduz à confusão carismática, ao misticismo e às aventuras psicológicas.
A séria consideração da Palavra requer árduo trabalho com o texto e com a exposição no púlpito. Não se trata de citar a Palavra (como faziam os rabinos no tempo de Jesus), mas pregar a Palavra que é o próprio Jesus Cristo. É muito mais que citar
argumentos a ser captados de maneira cognitiva: expõe o plano de felicidade de Deus para os homens. Finalmente, a pregação expositiva facilita o trabalho do Espírito Santo. A Bíblia foi dada pelo Espírito na linguagem da humanidade, de modo que essa seja alcançada pelas boas-novas.
A quarta pergunta está relacionada ao método pelo qual a pregação expositiva funciona para alcançar seu objetivo. Ela sempre busca o equilíbrio entre conteúdo bíblico e a aplicação à vida dos ouvintes. Como consegui-lo? Primeiramente, oferecendo a informação bíblica de que a pessoa necessita para compreender a passagem. Na exegese, procura-se extrair o significado do texto, considerando o tempo do verbo principal e observando onde a língua original coloca ênfase.
Esses dois aspectos são fundamentais para a compreensão do texto. E essa compreensão não é acidental, mas é conseguida mediante disciplinado estudo, numa atmosfera de adoração na qual o escritório do pregador se transforma em altar. Estando no púlpito, ele não pronuncia palavras gregas ou hebraicas a esmo, o que pode ser interpretado como uma viagem do ego e distanciá-lo da audiência. A informação coletada na exegese deve ser posta à disposição das pessoas, em um formato adaptado a elas e que seja aplicável à condição humana.
O que é apropriado é a exposição que, por sua vez, está fundamentada em um trabalho exegético sólido, ou seja, o significado do texto original posto em palavras comuns, de uso diário e dentro do que envolve a comunicação oral, não escrita. É a exposição feita às pessoas que lhes dá nutrição espiritual e as leva a fazer decisões transformadoras da vida. Nesse contexto, o alvo do pregador não é ser mais popular nem especular ou imaginar, mas explicar a Palavra e aplicá-la à vida das pessoas. Por exemplo, depois de estudar a teologia paulina da cruz, na carta aos gálatas, tendo estabelecido o tema do sermão: “Que nos ensina a cruz de Cristo em Gálatas 1:3-5?”, indique pelo menos quatro ensinamentos.
A aplicação do sermão nos leva de volta ao sentido comum. Podemos ser bíblicos em nossa pregação e não ser contemporâneos. Nesse caso, a audiência do primeiro século nos entenderia melhor que a atual, devido à carência de aplicação da mensagem. Alguns ouvintes saem da igreja perguntando a si mesmos o que poderiam fazer melhor na semana seguinte, no lar, escola ou trabalho, com o que ouviram no sábado. Se não encontrarem uma resposta clara, é sinal de que a aplicação esteve ausente ou obscura. A solução não é um mero procedimento mecânico a ser posto em ação.
É conveniente lembrar que a aplicação da Palavra também é dependente do Espírito. Às vezes, o processo de encontrar e aplicar os princípios bíblicos parece mais mecânico do que espiritual. Onde entra Deus nesse processo? Será que Ele apenas nos deixou um conjunto de princípios pelos quais viver, e saiu de férias? Se esse foi o caso, os fariseus estariam certos, no sentido de que a verdadeira religião implicaria simplesmente a escrupulosa observância de 613 mandamentos, em lugar de relacionamento vivo com Deus, e que a vida eterna envolveria fazer em vez de conhecer. Nesse caso, a meditação, a contemplação de Cristo, como é entendida na tradição teológica adventista, é de suprema importância. Paulo nos recomenda que consideremos seu conselho e que peçamos entendimento ao Senhor (2Tm 2:7). Devemos ler e reler o texto, ruminá-lo e, de joelhos, obter a aplicação.
Lições de ontem para hoje
A aplicação da Bíblia nos leva a considerar que ela é temporal ou concreta e atemporal. É temporal porque fala de situações específicas, porque Deus está pessoalmente envolvido na vida de Seu povo, falando às necessidades dele. É temporal porque tem exemplos concretos em vez de abstratos. Em vez de nos fornecer um tratado teológico sobre a dor e o sofrimento, nos deu o livro de Jó, assim como nos deu a vida de Abraão, para nos ensinar como crescer em confiança e fé em Deus.
Contudo, a natureza concreta da Bíblia cria alguns dilemas, pois nossos problemas e situações nem sempre estão diretamente relacionados com as situações concretas das Escrituras. Por exemplo, Deus não nos chama a abandonar Ur dos Caldeus, muito menos somos cativos do Egito. A destruição de Jericó não significa que temos que rodear alguma grande cidade, sete vezes, para conquistá-la.
A Escritura também é atemporal ou aplicável a todos os tempos. Assim como Deus falou às audiências originais, também nos fala hoje. Isso porque compartilhamos com os personagens bíblicos a mesma humanidade e os mesmos problemas. Há “Bate-Sebas” que lutam contra a luxúria, “Belsazares” lutando contra o orgulho e arrogância. Não temos o mesmo espinho que incomodava Paulo, mas também sofremos dores e incômodos em meio aos quais Deus nos diz: “Minha graça te basta” (2Co 12:9). Devemos honrar os pais ainda hoje (Ef 6:2) e cremos que o amor é o melhor caminho (1Co 13).
Paulo nos deu um exemplo de como uma situação bíblico-histórica iluminava sua atitude no ministério. Esse exemplo assinala um caminho para a aplicação bíblica aos ouvintes de hoje. O precedente está em um canto no Antigo Testamento (Dt 25:4). Séculos mais tarde, os apóstolos foram acusados de ser aproveitadores da hospitalidade alheia. O apóstolo usou várias analogias para demonstrar que eles tinham o direito de ser apoiados (1Co 9:7-9). Ele entendeu a situação original quanto ao mandato sobre os bois, em Deuteronômio. Se estava ajudando na colheita, o boi merecia parte dela. Ao mencionar outras ocupações à parte da tarefa do boi, Paulo aplicou um princípio mais amplo, ou seja, animais e pessoas têm direito a receber salário pelo trabalho que realizam. O apóstolo entendeu que esse princípio geral podia ser aplicado à sua situação particular. Outras passagens bíblicas que aparentemente são irrelevantes para a realidade do século 21 podem ser aplicadas seguindo esse esquema.
É nosso privilégio expor uma sólida mensagem bíblica em linguagem inteligível para os ouvintes de hoje, aplicando a Palavra viva de Deus, de modo que a vida de cada receptor seja transformada pelo Espírito do Senhor. Porém, isso não é tudo. A mensagem deve ter a luz da exegese e também o calor de uma exposição ilustrada, além de outras ferramentas da comunicação oral.
Ilustrações e outros recursos
Tão importante como o conteúdo é o modo de apresentar o sermão. Prestar cuidadosa atenção ao conteúdo representa somente metade da tarefa. Um bom sermão pobremente apresentado não é melhor que um pobre sermão apropriadamente apresentado. O pregador pode ser honesto e consagrado, ter uma mensagem bíblica e, mesmo assim, causar reduzido impacto. Poucas pessoas, ou nenhuma, podem se lembrar, às 16h de sábado, sobre o que tratou o sermão. Talvez, menos provável é que se discuta o conteúdo depois do almoço em família. Por isso, as ilustrações bem como uso de aforismos são importantes. O que faz com que você se lembre de um sermão que ouviu há muitos anos? Por que, ao pensarmos em Martin Luther King, imediatamente pensamos na frase: “Eu tenho um sonho”?
O Mestre dos mestres costumava usar comparações para que a audiência se movesse do conhecido para o desconhecido; despertava imagens mentais que facilitavam o aprendizado. Estima-se que Jesus tenha usado aproximadamente 130 aforismos: “buscai e achareis” é um deles.
Há, pelo menos, três vantagens no uso de aforismos. Primeira, parecem ter a verdade ou expressam nossas tentativas de formular verdades. Segunda, uma afirmação curta e sugestiva pode abarcar muito mais do que é dito literalmente. Terceira, graças à sua variedade, podem constituir maior estímulo à reflexão do que grandes textos. Essa variedade os torna também alvos fáceis de concordância ou discordância.
Certa ocasião, ao declarar que os colportores deviam ser assalariados, porque, não importando quão honestos fossem, seriam tentados a pensar que não podiam viver livres de dívidas, Ellen White disse: “Que o celeiro seja trancado com chave antes que o cavalo seja roubado” (Carta 90, 1901). Ela também usou um pouco de ironia. Ao falar sobre o trabalho pelos necessitados, disse que “grande disposição para aliviar as necessidades dos pobres é um pecado do qual bem poucos são culpados e que deveria ser generosamente perdoado”. Ela podia ver o lado luminoso de uma situação desagradável.
Finalmente, há um conselho que ela daria a cada pastor e pregador: seja breve. “Não mantenha o povo em seu sermão mais de trinta minutos” (Carta 1, 1896). Dos conselhos que ela deu podemos extrair estas lições: Selecione um tema, o que implica decidir sobre o que falar e o que não falar. Torne claros os pontos importantes. Apresente um ponto de cada vez, fundamentado na Palavra de Deus. Faça um discurso curto (trinta minutos). Respeite a capacidade de concentração de um adulto.