Quarenta e um pastores opinam sobre o trabalho de manter novos conversos na igreja
Divisões, Uniões e Campos locais têm estabelecido anualmente seus alvos de batismos. Porém, esses alvos trazem à tona uma significativa pergunta: Estão as igrejas preparadas para assimilar e nutrir os novos membros? De acordo com a grande comissão dada por Jesus, devemos ir, fazer discípulos, batizando-os e ensinando-os a obedecer todas as coisas que Ele ordenou. Temos estabelecido alvos de batismos, para conquistar novos crentes. Mas, temos nós estabelecido o alvo de lhes ensinar obediência aos mandamentos de Cristo, necessária para que se tornem discípulos? Para Dallas Willard, a falta desse ensino é “a grande omissão”.[1]
Meu interesse pelo discipulado aumentou quando Gary Swanson, diretor associado de Ministério Pessoal e Escola Sabatina da Associação Geral, me pediu que avaliasse a utilidade e pertinência de uma lição da Escola Sabatina para adultos, sobre discipulado e assimilação de novos membros na igreja. Antes de iniciar essa tarefa, resolvi falar com alguns pastores a fim de saber o que eles consideravam ser desafios e necessidades dos novos crentes para se tornarem discípulos de Jesus e membros da igreja. Então, estabelecemos quatro grupos de pesquisa, durante os meses de junho a agosto de 2008, envolvendo dez Associações nos Estados Unidos.
O que encontramos?
As descobertas
Desafios dentro da igreja. Ao discutirmos as necessidades dos novos membros, nós os definimos como adultos que se tornam membros da Igreja Adventista Do Sétimo Dia, possuindo antecedentes estranhos a ela. Considere os desafios enfrentados por esses novos membros, enquanto eles transitam numa subcultura cuja visão frequentemente está em conflito com a sociedade. Os pastores dizem que eles querem ser aceitos e ter o sentido de pertencimento na nova comunidade de crentes. E se perguntam: “O que é esperado de mim? O que fazem os adventistas?”
Semelhantemente ao que acontece quando alguém entra em uma nova cultura, eles imediatamente enfrentam a barreira da linguagem. Por exemplo: O que é lava-pés? Adra? Campais? Espírito de Profecia? Campori? O grande desapontamento de 22 de outubro? Educação cristã, e outras expressões?
Em todos os grupos, os pastores foram enfáticos: o maior desafio enfrentado pelos novos membros são os membros antigos, que um pastor chamou de “os antigos membros difíceis”. Ou, como disse outro, “eles necessitam da proteção dos santos”. Um terceiro pastor afirmou: “Em todas as igrejas que pastoreei, quando alguém apostatava, foi sempre porque algum membro antigo dificultou as coisas impondo ao novo crente regras legalistas desnecessárias.”
Aqui estão outras dificuldades enfrentadas pelos novos conversos, de acordo com os pastores: As expectativas deles podem se transformar em desapontamento. Por exemplo, durante uma campanha evangelística, eles eram o centro das atenções; mas, tão logo se uniram à igreja, se sentiram “negligenciados”. O estilo de vida adventista apresenta muitas novidades em termos de comportamento: Observância do sábado, doação regular de ofertas e dízimos, nova dieta, educação cristã e outras novidades. Algumas vezes, o novo converso enfrenta um conflito entre o que lhe foi ensinado e o que eles observam sendo praticado pelos membros antigos. Não raro, desavenças entre membros antigos também destroem a fé ainda frágil dos novos membros.
Desafios pessoais e domésticos. Entre os pastores escolhidos para a pesquisa, houve concordância em que recém-conversos trazem consigo muitos hábitos e vícios que necessitam e desejam vencer. Frequentemente, eles entendem que, com seu novo compromisso com Cristo e o batismo, sairão da água plenamente habilitados a viver vitoriosamente. Contudo, para seu desapontamento, muitos descobrem que esse não é o caso.
Se o recém-converso é o único adventista em seu lar, certamente, pode enfrentar sérios desafios. Alguns também ainda têm que enfrentar os irmãos da antiga igreja que, tendo ouvido sobre a conversão deles ao adventismo, dizem: “Mas, o que você foi fazer?”, isso antes de lhes indicar os sites dissidentes e revoltosos da internet com toda a distorcida e falsa informação que eles contêm. Aliás, um pastor disse: “Acho que a internet é o problema número um”.
Necessidades
Tendo reconhecido os desafios enfrentados pelos novos membros, necessitamos nos perguntar: O que eles necessitam para que se tornem discípulos de Cristo e sejam assimilados na igreja? De acordo com as respostas dadas pelos pastores da pesquisa, as doutrinas precisam ser bem ensinadas aos recém-conversos; mas, também enfatizaram a necessidade de que eles, antes e acima de tudo, desenvolvam profundo e sadio relacionamento com Cristo. Consequentemente, eles se relacionarão bem com os irmãos de fé, seus familiares e amigos.
Relacionamento com Jesus. Alguns pastores disseram que o relacionamento com Jesus é a primeira e mais importante necessidade do novo crente. Um deles afirmou: “Eles se apaixonaram por Jesus, mas não sabem como traduzir essa experiência no dia a dia”.
Relacionamento com outros membros da igreja. Em mais de um grupo, alguém citou uma pesquisa, segundo a qual os novos membros devem fazer dois ou três amigos nas primeiras semanas de sua adesão à igreja, ou encontrar seis ou sete amigos dentro de seis meses; caso contrário, deixarão de frequentá-la. Muitos concordaram em que os novos membros necessitam de um mentor, guardião espiritual, especificamente indicado pela igreja, alguém que tenha os dons de ensinar e de fazer amigos. Isso não deve ser feito durante pouco tempo, mas, pode durar seis meses, um ano ou mais.
Ao lado disso, eles necessitam aumentar gradualmente seu círculo de amizade, de modo que não sintam que perderam o que tinham antes do batismo, mas de fato ganharam muito mais. Precisam sentir que pertencem à família da igreja. Aceitar os novos membros como amigos parece coisa simples, até que você compreenda que membros antigos e novos vivem e funcionam em dois mundos separados.
A maior frustração revelada pelos pastores dizia respeito ao trato com as atitudes e o comportamento de alguns membros antigos em relação aos novos. Houve um consenso a respeito da importância de preparar a igreja para receber esses últimos. “Meu problema”, disse um deles, “é que a cultura que eu tenho procurado criar em relação ao evangelismo, a fase preparatória e as reuniões em si, é estranha à igreja. Nós dizemos que nossa principal tarefa é ganhar pessoas e nutri-las espiritualmente. As pessoas vêm para a igreja crendo nisso, mas pouco tempo depois percebem que a cultura da igreja não é essa. E ficam chocadas. Tudo o que fizemos em termos de evangelismo é um evento, não cultura da igreja.”
Relacionamento com a igreja institucional. Para pessoas que vêm para a igreja através de evangelismo público, a transição das reuniões evangelísticas para as programações regulares da igreja pode causar diferença não apenas nos relacionamentos pessoais como também no estilo de culto, lugar das reuniões e outros aspectos. Conforme o exemplo citado por um pastor, “as reuniões evangelísticas são totalmente diferentes das reuniões da igreja. São mais abertas, cantam-se corinhos animados. Então, as levamos para a igreja onde passam a cantar hinos tradicionais. Isso causa certo impacto.
Pastores de todos os grupos analisados expressaram a importância de envolver o novo membro em algum tipo de ministério. Eles precisam sentir que são necessários à igreja. Trabalhar com outros irmãos em algum ministério os ajuda a desenvolver naturalmente relacionamento interpessoal.
Relacionamento com família e amigos. Os pastores apresentaram dois tipos de instrução que os recém-batizados necessitam em relação à família e aos amigos. Primeiramente, eles precisam saber como explicar seu novo estilo de vida, justamente enquanto eles mesmos ainda estão aprendendo a implementá-lo ou ajustá-lo. Todas as questões envolvidas na observância do sábado imediatamente se tornam fonte de curiosidade, ou contratempo, para seus familiares e amigos. Há também as mudanças dietéticas e abstinência de álcool. Tudo isso afeta diretamente os relacionamentos.
Em segundo lugar, eles necessitam ser animados a levar seus amigos e familiares à igreja. “Capitalize sobre o fato de que eles têm amigos e familiares que se tornam campo evangelístico. Treine-os e os envolva na tarefa de partilhar a fé”, um pastor sugeriu.
Doutrinamento
Com as necessidades relacionais, também discutimos os ensinamentos bíblicos e doutrinas em que os recém-batizados necessitam ser aprofundados, em seus primeiros anos como membros da igreja. Inicialmente, todos os grupos deviam listar assuntos como dízimo, observância do sábado, princípios de saúde, história da igreja, escatologia, santuário e espírito de profecia.
Porém, muito rapidamente, eles resvalaram para uma discussão sobre abordagem ou ênfase. Um deles fez a seguinte observação: “Quando estudamos sobre o Céu, milênio, inferno, aquelas doutrinas ‘quentes’, as pessoas querem falar dentro do contexto que elas veem nos filmes e na televisão. Nós não abordamos esses assuntos no contexto do que elas estão vendo”.
Falando sobre a relevância do culto, um pastor disse: “Aqueles trinta ou quarenta minutos que as pessoas dedicam para ir à igreja e ter um encontro com Deus, esses são momentos especiais porque elas estão esperando alguma coisa. Nós até podemos ter grande conhecimento da História e Teologia, mas se não aplicarmos a Palavra às questões da atualidade, não serão relevantes. E as pessoas dirão: ‘Isso foi agradável, mas não aprendi nada que tenha que ver com minha vida’”.
Um pastor fez este comentário: “Noto que muitos guias de estudo bíblico não estão fazendo as perguntas que as pessoas fazem. Estão fazendo perguntas que se ajustam ao texto; não às necessidades das pessoas. Elas se sentem quase ofendidas quando não fazemos questões difíceis de responder”.
Lições
Quando as pessoas fazem ou renovam seu compromisso de servir a Cristo, unindo-se à Igreja Adventista do Sétimo Dia, procedentes de outra denominação, ou mesmo sem ter professado anteriormente alguma religião, muitas delas experimentam uma transformação de sua mundivisão. Os comentários e narrativas dos grupos de pastores pesquisados reafirmam a dificuldade dessa mudança. Ao mesmo tempo, considerando que os novos membros enfrentam desafios familiares e relacionais, eles necessitam estabelecer novos relacionamentos com os irmãos de fé, bem como tempo para crescer em Cristo. O modo pelo qual a igreja responde a eles pode determinar se poderão ou não fazer isso através dessa difícil transformação.
A tragédia é que, muito frequentemente, os membros antigos da igreja não recebem os novos com muito entusiasmo nem lhes provêm o discipulado que eles necessitam. Na verdade, muitos oferecem apenas apatia e julgamento. Como disse um pastor, “os discipuladores necessitam ser discipulados”. Bill Hull, que investiu mais de vinte anos no discipulado, diz que a própria igreja necessita ser evangelizada “para escolher a vida do discipulado”.[2] Para a Igreja Adventista, a escolha da vida do discipulado requererá mais que alguns seminários sobre “Como testemunhar” ou “Como receber bem os novos membros”. Em muitos casos, os membros antigos necessitam mudar a visão de um cristianismo sem Cristo para a de seguidores incondicionais de Jesus.
Paul Hiebert resumiu em um parágrafo tudo o que aprendemos com os quatro grupos de 41 pastores, objeto de nossa pesquisa:
“Devemos compreender que os novos conversos frequentemente experimentam ‘impacto de conversão’. Sua reação inicial é sempre de júbilo e euforia. Quando isso diminui, eles começam a difícil tarefa de pensar e viver como cristãos. Devem aprender uma nova linguagem, novos modelos de comportamento e de relacionamento. Em resumo, eles devem ser ‘enculturados’ em uma nova cultura e socializados em uma nova comunidade. Durante esse período, os novos conversos enfrentam períodos de dúvida e depressão. Questionam a decisão que tomaram, e alguns retornam às velhas crenças. Nesse tempo de reavaliação, o apoio da comunidade cristã é extraordinariamente importante. Quando indivíduos se convertem, não raro necessitam de um forte grupo de apoio. Somente os mais comprometidos mantêm a nova fé à parte do apoio da comunidade de fé.”[3]
Se nós, como Igreja Adventista, queremos ter êxito em assimilar e discipular novos membros pelos quais oramos e trabalhamos, necessitamos investir mais no discipulado em adição à ênfase no evangelismo.
Referências:
1 Dallas Willard, The Spirit of the Disciplines: Understanding How God Changes Lives (San Francisco, CA: HarperSanFrancisco, 1990), p. 15.
2 Bill Hull, Choose the Life: Exploring a Faith That Embraces Discipleship (Grand Rapids, MI: Baker Books, 2004), p. a4.
3 Paul G. Hiebert, Transforming Worldviews: An Anthropological Understanding of How People Change (Grand Rapids, MI: Baker Academic, 2008), p. 331.