Quarenta e um pastores opinam sobre o trabalho de manter novos conversos na igreja.
Na primeira parte deste artigo, publicada na edição julho-agosto desta revista, focalizamos os desafios e necessidades dos novos membros, conforme foram relatados por um grupo de pastores, durante a realização de uma pesquisa. Nesta segunda parte, trataremos com algumas estratégias específicas para a assimilação de novos membros na igreja.
Quando uma pessoa é batizada, ela muda seu relacionamento para com a igreja. Para administrar a crítica transição da condição de não membro para membro, os pastores pesquisados apresentaram três modelos de iniciativas: ligar o novo membro a um guardião espiritual, envolvê-lo em um ministério e capacitá-lo. Alguns costumam empregar essas iniciativas juntas.
Embora a terminologia possa variar de guardião espiritual para mentor, treinador espiritual, grande irmão, líder de pequeno grupo, ancião, diácono ou diaconisa, o propósito permanece basicamente o mesmo: assegurar que pelo menos um membro experiente assuma a responsabilidade de nutrir e ensinar o novo crente. Um dos pastores oficializa a designação do guardião espiritual, publicamente, durante um culto, entregando aos dois (mentor e mentorado) um certificado contendo as responsabilidades de cada um.
Envolver o mais breve possível novos membros no ministério é o alvo de muitos pastores. “Mesmo antes do batismo, os alistamos em algum ministério da igreja”, diz um deles.
Alguns pastores têm estabelecido um processo para a inclusão de pessoas como membros da igreja em uma nova experiência com Jesus. Uma igreja dedica uma hora e meia, no primeiro sábado do trimestre, para explicar os dons espirituais e então utiliza um recurso online, para ajudar cada pessoa a identificar seu dom e se envolver no ministério.
Tão logo a campanha evangelística termina, algumas igrejas costumam realizar uma série de seminários sobre algum tema. Os pastores pesquisados já usavam a série “Eventos finais”, de Mark Finley, seminários sobre saúde, estudos bíblicos e outros instrumentos. Um deles criou um estudo sobre história da igreja e a terminologia denominacional. Porém, outro pastor enfatizou o discipulado básico.
Solidificando relacionamentos
A construção de relacionamentos tem continuidade enquanto os novos membros são levados à igreja. Explicando a importância desses relacionamentos, disse um pastor: “As pessoas entram para a igreja, primariamente, no nível doutrinário; então, atingem o nível social. É preciso suplementar doutrinas com vida social.” E a lista de possibilidades é longa. Realizar treinamentos ou liderar um pequeno grupo são duas formas utilizadas pelos pastores, a fim de desenvolver relacionamentos com novos membros.
“Meu momento de maior sucesso é quando me reúno sexta-feira à noite com os novos membros. É aí que nos ligamos uns aos outros. Eles permanecem comigo por dois anos, e nos casos em que tenho sido consistente com esse relacionamento, os membros permanecem na igreja”, disse um pastor.
Para outro, a tarefa começa antes do batismo e requer ajuda de outras pessoas. Ele investe tempo com as pessoas durante a campanha evangelística e descobre os interesses delas. Então, aproxima o novo crente de um membro antigo que cultive os mesmos interesses. Comentando sobre a necessidade de manter os antigos membros motivados para permanecer em contato com os novos, outro pastor afirmou: “A tarefa operativa é amizade. As pessoas não querem se livrar dos amigos.”
Existem grandes diferenças entre congregações, no que tange ao modo de utilizar o sábado para confraternização. Nos lugares em que isso é praticado, esse encontro semanal também ajuda os novos crentes em seu crescimento na observância do sábado. “Fazemos isso em todas as nossas igrejas”, disse um pastor. “Assim, aqueles que não têm familiares adventistas têm um lugar para ir, depois do culto.” Em algumas congregações, as instalações do templo são utilizadas com esse propósito, durante todo o sábado; em outras, não há confraternização sabática.
Pequenos grupos
Para quem conhece a literatura sobre o ministério de pequenos grupos, a resposta para construção de relacionamentos e qualquer outro tema sobre discipulado é o pequeno grupo. Entretanto, os pastores que participaram da pesquisa explicaram suas lutas para entusiasmar os membros a se envolverem nesse modelo. “Esta é uma questão cultural”, um deles afirmou. “Há qualquer coisa no adventismo em minha cidade que não se abre ao pequeno grupo.”
Por outro lado, alguns pastores têm sucesso com os pequenos grupos. Numa das igrejas, cada novo crente é colocado em um deles, tendo um ancião como líder. Um dos pastores envolvidos na pesquisa, por exemplo, deu seu testemunho pessoal de que, durante algum tempo, esteve afastado da igreja, tendo retornado por meio de um pequeno grupo. De acordo com ele, os membros daquele grupo ajudaram a despertar nele o senso vocacional que o levou a se tornar pastor.
Instrução de novos membros
Uma classe para recém-batizados é, provavelmente, uma das mais agradáveis ocasiões para ensinar. As pessoas estão realmente famintas por Jesus. Elas fazem as reais perguntas da vida. O modelo de classe varia muito entre as igrejas, sendo que o tipo mais comum parece ser a classe da Escola Sabatina, dirigida pelo pastor. Uma razão para isso é a oportunidade para desenvolver no novo converso o hábito de ir à Escola Sabatina.
Um pastor, cuja igreja realiza um almoço de confraternização todos os sábados, testemunhou: “Descobri que os novos irmãos desejam ser parte da família geral da Escola Sabatina. Assim, faço duas coisas: a ‘hora do poder’, que é um encontro de oração para eles. E, aos sábados à tarde, temos a ‘hora do pastor’, um encontro em que respondo perguntas que eles me fazem sobre doutrinas e a igreja.” Essas classes também podem ser feitas na sexta-feira à noite, e podem ser abertas aos membros antigos.
Depois de ter batizado um grupo de vinte pessoas, um dos pastores estabeleceu uma classe de instruções pós-batismais que funcionou durante dez meses. Ele teve o cuidado de explicar aos recém-batizados que aquele processo era parte da formação deles como membros da igreja.
Diante da necessidade real de ensinar os novos crentes a estudar as Escrituras, a Bíblia é o primeiro recurso que os pastores utilizam nas classes. Encaminhar os novos membros à Bíblia é, sem dúvida, a melhor estratégia de ensino. Nela, eles encontrarão respostas para as grandes questões da vida. Uma boa ideia é utilizar versões modernas com texto mais leve e compreensível. Preferencialmente, uma versão assim também deve ser utilizada pelo pastor durante a pregação.
Outro livro valioso para os novos crentes é Caminho a Cristo, de Ellen G. White. Muitos deles já o têm lido antes mesmo do batismo.
O coração da missão
Nos quatro grupos de pesquisa, exploramos profundamente a assimilação e o discipulado de novos membros. Enquanto eu os ouvia, atenta a cada detalhe em suas palavras, concluí que há três questões básicas que necessitam ser tratadas, antes que nossas congregações estejam plenamente preparadas para receber e discipular novos conversos: Primeira, os membros antigos necessitam ser discipulados para Jesus. Segunda, há necessidade de materiais para discipulado de novos e antigos membros. Finalmente, os pastores necessitam de mais clara compreensão do processo do discipulado.
Devemos nos lembrar de que nem tudo o que é chamado de “discipulado” o é realmente. Não raro, criamos cursos ou programas para equipar e treinar a irmandade para o evangelismo e chamamos isso de discipulado. Quando o foco apenas é ensinar o povo “como testemunhar”, estamos fazendo algo necessário; mas, não se trata de um discipulado completo. Discipulado também deve incluir o processo de ajudar o crente se tornar semelhante a Cristo.
O discipulado não pode ser limitado ou ensinado apenas através de sermões e seminários. Tudo em uma congregação deve ser abordado sob a orientação do Espírito Santo, com o objetivo de discipular, porque fazer discípulos é o coração da missão da igreja.