Ensinando todas as coisas

Deixar de instruir plenamente o candidato ao batismo é deslealdade para com o novo converso

Determinar que uma pessoa esteja pronta para o batismo não é algo que deva ser feito apressadamente. Para isso, há necessidade de parâmetros objetivos, criteriosos e práticos. Neste artigo mencionaremos os principais problemas que nos impelem a batizar alguém fora de tempo ou carente de preparação adequada. Então, apresentaremos uma série de parâmetros simples, seguramente conhecidos, que podem servir de guia, antes que alguém seja batizado em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Conhecimento

Talvez, o primeiro fator no preparo de alguém para o batismo seja o conhecimento doutrinário. Ao dar a grande comissão (Mt 28:19, 20), nosso Senhor deixou clara a ordem de fazer discípulos. A fim de alcançar esse objetivo, somos ensinados a batizá-los, ensinando-lhes “todas as coisas” que nos foram ordenadas por Jesus.

Normalmente, entendemos que, antes do batismo, a pessoa deva ter recebido estudos bíblicos de acordo com a idade, a capacidade e a realidade do estudante. Respeitar esse ponto significa ter tranquilidade, porque ele permitirá ao novo membro compreender, aceitar e sistematizar os aspectos fundamentais distintivos da fé adventista.

Bem sabemos que, tendo sido batizado, o novo membro terá que crescer até se tornar discípulo. Porém, isso não invalida o fato de que, ao ser batizado, ele conheça as novas obrigações sociais, espirituais, comportamentais, éticas e outras, implícitas na decisão que tomou.

Deixar de ensinar “todas as coisas” é ser desleal para com o novo converso. O pastor deve ser vigilante nesse assunto.

Assistência à igreja

Muitas vezes, a frequência à igreja é o ponto mais desconsiderado no preparo para o batismo e, ao mesmo tempo, é um dos fatores-chave para o discipulado de sucesso. No relato bíblico das primeiras conversões na igreja cristã primitiva e dos primeiros batismos depois do Pentecostes, repete-se enfaticamente que os cristãos viviam em comunhão. Tão profunda e íntima era sua unidade, que compartilhavam o que tinham, formando nova família dentro da igreja (At 2:42-47). Assim, a comunhão dos crentes era ponto fundamental para a força da igreja e a conquista de novos membros.

A assistência à igreja, com a respectiva interação, é o fator determinante para que a pessoa tenha uma rede de contenção diante de suas fraquezas, quedas e desânimo. Se a pessoa congrega algumas vezes (até mesmo uma vez ou nenhuma), antes do batismo, é improvável que seja integrada com seus irmãos de fé, seus guardiões espirituais.

Há pessoas que são batizadas e, por causa dos antecedentes católicos, entendem o batismo como sacramento. Desse modo, não sentem necessidade de frequentar assiduamente a igreja depois de batizadas. Por isso, é prudente que, antes do batismo, sejam conscientizadas dessa necessidade. É igualmente prudente que as cerquemos de pessoas consagradas, cristãos experientes, que possam velar por elas e compor o grupo de amigos que as integrem na comunidade.

Evidências de conversão

Aqui, entramos em um ponto dramático, pois a conversão não pode ser medida e tem manifestações múltiplas. Um parâmetro ideal e coerente com a realidade da pessoa é ver nela mudanças no estilo de vida, quanto a aspectos comportamentais visíveis, exteriores, que dão testemunho da sua fé.

Esses elementos são testemunhas de uma conversão verdadeira, porém sempre têm certo limite em sua capacidade de atestar. Entretanto, Deus é ilimitado e em Seu livro estão os que de coração se entregaram a Ele. Em contrapartida, a igreja tem limites e pode ser enganada. Ela não pode ver o coração. Nesse ponto, cabe-nos confiar na sinceridade das pessoas que pedem o batismo, além de acompanhar o crescimento delas.

Solicitação espontânea

Mesmo que geralmente entendamos que a pessoa que deseja ser batizada deva pedir o batismo, precisamos estar atentos para que isso aconteça de forma totalmente livre e voluntária. Pode acontecer que, às vezes, exista pressão familiar que leve a pessoa a dar esse passo sem que realmente o deseje. O resultado é que logo depois do batismo ela “desaparece”.

Além disso, existem certos tipos de apelo que colocam algumas pessoas suscetíveis em uma situação constrangedora, na qual não sabem como dizer “não”. Assim, acabam recebendo um batismo pelo qual não estavam tão desejosas. Podemos e devemos animar as pessoas para que tomem a decisão de ser batizadas, mas não podemos tomar a decisão em lugar delas.

Outro aspecto a ser considerado é que o candidato compreenda realmente os privilégios e obrigações de alguém que se torna membro da igreja.

Consequências do despreparo

Testemunho comprometido. Como igreja, ao aceitar como membros pessoas que não são cristãs genuínas, colocamos em risco o impacto que devemos causar no mundo. É necessário deixar claro que todos nós temos que continuar crescendo em Cristo, mas ao mesmo tempo devemos ter uma estatura mínima ao ser batizados. A má conduta, agressividade e conduta contraditória aos princípios cristãos prejudicam o bom nome da igreja e, o que é pior, lança sombra sobre o caráter de Deus.

Temos ensinos bem definidos quanto ao estilo de vida diferente, adotado por um povo que se prepara tendo em vista o encontro com Deus. Somos chamados a ser uma “nação santa”, e embora saibamos que não batizamos ninguém perfeito, devemos estar seguros de que batizamos pessoas que já iniciaram o processo de santificação.

Perda de identidade. O batismo de pessoas que não compreendem o caráter distintivo da Igreja Adventista nem o chamado profético feito a esse povo, a fim de proclamar a tríplice mensagem angélica, faz diminuir em nossas fileiras o que podemos chamar de “identidade adventista”. A missão como estilo de vida, a iminência da vinda de Jesus Cristo, o chamado para sair de Babilônia, entre outros ensinamentos, vão se perdendo cada vez que saem das águas batismais pessoas que não compreendem a razão pela qual é diferente ser adventista do sétimo dia.

A singularidade da nossa mensagem é nossa razão de ser. Sem ela, seríamos apenas mais um grupo de crentes. Fomos chamados como um povo especial, em um tempo especial, para dar uma mensagem especial. É imperativo que as pessoas que se unem a nós saibam disso e compartilhem esse chamado. Certamente, a profundidade dessa conscientização não será igual em cada novo membro, mas deve estar germinada como um chamado que o inclui.

Entendimento incorreto da salvação. A teologia do batismo toca a eclesiologia, mas também a soteriologia. De acordo com o próprio Jesus Cristo, “quem crer e for batizado será salvo” (Mc 16:16), o que leva alguns a afirmar que o batismo é o passo fundamental da salvação, tendo em si mesmo o poder de perdoar pecados. Quando uma pessoa ouve que deve ser batizada para ser salva, entende exatamente isso. E sabemos que, quando essa pessoa tem dado passos de salvação quanto à fé, confissão, mudança de hábitos, abandono de pecados, verdadeiramente começou a andar no caminho da salvação, incompleto no sentido temporal (pode abandoná-lo e perder a salvação), mas completo no sentido qualitativo (está completamente salvo).

Porém, quando não ocorre dessa maneira, a pessoa que não conhece o essencial da Palavra, não está integrada à igreja, não começou a dar evidências de salvação nem entende plenamente o que está fazendo ao ser batizada, provavelmente, esteja entendendo que está sendo salva pelo batismo (sacramento). É nesse ponto que muitas pessoas entendem mal a doutrina da justificação pela fé e associam a salvação às obras meritórias. Afinal, isso lhes foi sugerido no “incentivo” para que fossem batizadas. Os pastores têm muito que ver com essa vã segurança.

Qualidade versus quantidade

Frequentemente, tenho ouvido a seguinte pergunta, feita por líderes da igreja: “Queremos qualidade ou quantidade?” Todo bom líder espera que respondamos: “As duas coisas.” De fato, isso é certo. Queremos batizar muitas pessoas, o máximo, e ao mesmo tempo batizar pessoas bem preparadas, conscientes, felizes por estarem fazendo a vontade de Deus.

As duas coisas não são incompatíveis. Na verdade, um trabalho bem feito colabora com o objetivo de uma igreja santa e missionária, o objetivo de atrair muitas pessoas a Cristo. Porém, quando surge a tensão entre quantidade e qualidade, qual delas tem a primazia em nosso trabalho? É no momento dessa tensão que devemos nos lembrar da razão pela qual fazemos as coisas: não porque funcionem, mas porque são corretas. Que tipo de glória buscamos: a nossa ou a de Deus?