Grupos geracionais e as novas gerações
Pr. Marcelo Cardoso
Para o entendimento do conceito de (NG) e sua importância, há a necessidade de se voltar ao passado e compreender profundamente os movimentos que reestruturaram sistematicamente a maneira de agir e pensar do ser humano desde o século XVI. O Iluminismo trouxe uma quebra gradual hegemônica da igreja no Velho Mundo, ocorrendo o desenvolvimento intelectual que vinha surgindo com o Renascimento e abrindo o caminho para o nascimento de ideias libertárias em diferentes áreas sociedade europeia, chegando ao âmbito religioso. Os iluministas, assim se autodenominavam por acreditarem que seus pensamentos eram contrários ao que eles entendiam como um retrocesso originado pela opressão filosófica-religiosa e se julgavam como propagadores de luz e conhecimento, daí o termo iluministas.
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René Descartes (1596 – 1650), famoso iluminista e considerado até hoje como o pai do Racionalismo, em sua principal obra ressalta que o discurso da razão, apresenta uma verdadeira afronta a qualquer tipo de crença sem fundamentos científicos para justificá-la, isso promoveu mudanças significativas na filosofia, ciência, política e principalmente no pensamento religioso à época.
A partir de então, o mundo começava a viver ares de desprendimento das amarras da igreja dominante e da ascensão de uma forma de pensamento que valorizava o racionalismo e o cientificismo, questionando tudo que não coadunasse com a ciência e com as explicações lógicas. Hervieu-Léger define que este momento passou a ser conhecido como Modernidade e que trazia traços bem específicos, cujos resultados envolviam o enfraquecimento social e cultural da religião; ela chega a apresentar três características para este enfraquecimento: 1) A Modernidade coloca à frente em todos os domínios da ação, a racionalidade, fazendo com que a ciência dissipasse toda a ignorancia gerada por uma fé cega e sem fundamento. 2) A Modernidade começa a formar um
indivíduo capaz de fazer o mundo no qual ele vive e constrói ele mesmo as significações que dão sentido a sua própria existência, sem necessitar mais da religião para isso. 3) A Modernidade inicia um tipo particular de organização social, caracterizada pelo enfraquecimento das instituições, incluindo aqui as igrejas. É neste processo que a socióloga francesa chega a dizer:
Nestas novas sociedades marcadas pela Modernidade, o político e o religioso se separam; o aspecto econômico e o doméstico se dissociam; a arte, a ciência, a moral, a cultura constituem igualmente registros distintos nos quais os homens realizam a sua capacidade criativa. Mas, ela aparece em toda parte inseparável do processo pelo qual a autonomia da ordem temporal constituiu-se progressivamente emancipando-se da tutela da tradição religiosa.
Desde a declaração de Nietzsche de que “Deus está morto”, a religião tenta retomar o seu papel de protagonista, proclamando a “revanche divina” e se reestruturando dentro do cenário social com o desenvolvimento de novos movimentos espirituais, movimentos que vão das correntes carismáticas e pentecostais, a teologia da libertação e da prosperidade, ou a associação com inspirações esotéricas em seus cultos. Esses fenômenos forçaram a criação de um paradoxo da Modernidade de visão na crença, pois de um lado, são desqualificadas as grandes explicações religiosas do mundo pelas quais as pessoas no passado encontravam um sentido e por outro fazem com que as instituições religiosas continuem a perder a sua capacidade social e cultural de impor e regular a vida do ser humano, perdendo gradativamente fiéis ou produzindo membros sem compromisso ou filiação religiosa.
Sobre isso, ressalta-se que cada vez mais cresce neste ambiente o número daqueles que se declaram sem religião, lembrando que eles em diversos casos, podem não declarar uma religião ou frequentar uma igreja formalmente, mas isso não deve de maneira alguma enquadrá-los no grupo dos descrentes, dos que não creem em alguma forma de ser supremo ou transcendente. A Pew Research Center, reconhecido centro de pesquisas e informações estadunidense, que estuda tendências e atitudes sociais, e que geram implicações em áreas como: política, economia, sociologia e religião no mundo, afirma que os sem religião nos Estados Unidos, tem dobrado percentualmente o seu número de adeptos nos últimos anos. Na Europa este grupo alcança incríveis 68% da sua população, chegando a países como a França com uma taxa de 73%. No Brasil, Mariano ressalta que no último censo realizado em 2010, pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatística (IBGE), essa categoria era representada por 8% em relação ao somatório geral da população brasileira. Porém, ainda segundo ele, há uma previsão de crescimento para o próximo levantamento na ordem de 12%, levando em consideração a taxa de crescimento das principais religiões que compõe o cenário brasileiro, esse número chega a ser assustador.
Nicodemus, um líder religioso cristão, ao fazer uma avaliação do contexto religioso atual se mostra preocupado com o crescimento não só dos sem religião, mas também dos ateus e agnósticos, chega a afirmar que é inconteste que em tempos atuais a quantidade de ateístas, agnosticistas e sem religião ganha um volume cada vez mais contundente.
Ainda na compreensão deste universo religioso, não se deve desprezar os recentes estudos sociológicos geracionais que trazem diferentes análises sociológicas e que abarcam não somente aquelas que indicam diferenças de classes, desigualdades de gênero, étnico-raciais e culturais. Vive-se um momento de reconstrução das trajetórias sociais, tornando cada vez mais imprescindível o estudo e a compreensão das ações coletivas empreendidas pelas diversas gerações que vão surgindo pelo caminho, bem como conhecimento dos desafios que as mesmas enfrentam.
Os estudos geracionais têm se tornado cada vez mais relevantes nas organizações, pois permitem um conhecimento mais aprofundado das ações humanas, entendendo seus gostos, costumes, preferências, tendências e comportamentos. Isto se deve, a uma compreensão das diversas etapas pela qual passa o indivíduo em sua trajetória de vida, sendo influenciado desde a época do seu nascimento, passando por seu desenvolvimento e por movimentos sociais vivenciados no decorrer de sua existência ou por momentos críticos.. Oliveira afirma que todo ser humano está ligado a um mesmo histórico de vida, carregando uma timeline e isto é o que o torna parte de um grupo com conexão geracional:
A mesma juventude que está orientada pela mesma problemática histórico-atual vive em uma “conexão geracional”; aqueles grupos que dentro dessa mesma conexão geracional processam essas experiências de forma distinta constituem distintas “unidades geracionais” no âmbito da mesma conexão geracional. A definição dos grupos geracionais, parte do pressuposto de que a experiência comum gera uma tendência ao processar os acontecimentos de forma semelhante, moldando vieses na percepção, na preferência por valores e mindset. Assim, para se definir uma geração, são identificados eventos históricos, políticos ou sociais que geraram impactos nos valores, atitudes e comportamentos das pessoas envolvidas, para delimitar datas de referência.
Essa abordagem inicia de uma perspectiva sociocognitivo-cultural, para a qual as gerações são produtos de eventos históricos, que, por sua vez, criam padrões de comportamento. Apesar de aparentemente objetiva, essa prática não tem um total consenso entre pesquisadores, principalmente em relação às datas que delimitam cada grupo e as caracterizam. No entanto, Veloso e Dutra apontam que, apesar das divergências entre autores, em especial quanto à época que define cada geração, as pesquisas não diferem significativamente quando conceituam as características dos cinco grupos mais utilizados na literatura: veteranos, baby boomers, geração X, geração Y ou Millenious e geração Z.
Sociólogos e estudiosos afirmam que é cada vez mais difícil comparar as novas gerações, pois o tempo de distância que as separam se reduz de uma para outra na medida que vai surgindo uma geração nova. Tendo como base as gerações passadas que eram formadas por períodos de 25 anos, as de hoje, um quarto de século é praticamente cem anos para elas. Muitos distinguem o avanço da tecnologia, o volume exacerbado de informações, além do encurtamento das distâncias por meio da internet, como fatores que aceleram a redução do tempo e propiciam mudanças cada vez mais rápidas nas relações sociais, familiares e de trabalho. Compreender estas mudanças neste cenário de tamanha fluidez e incertezas tem sido um desafio sociológico cada vez maior, pois novas gerações vão surgindo com suas diferentes características a cada dez anos em média e atrelados a elas, seguem as novas e diferentes formas como os indivíduos pensam, se comportam, e consomem produtos e serviços.
De acordo com o CPDEC – Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Educação Continuada, seus comportamentos estão atrelados às características marcantes de cada geração, apresentadas na tabela abaixo:
Veteranos (1935-1945) | Baby
Boomers (1946-1964) |
Geração X (1965-1980) | Geração Y (1981-1997) | Geração Z (1998-2009) |
Assistiram os pais lutarem pela sobrevivência.
São conservadores e cuidadosos com o dinheiro.
Valorizam segurança e estabilidade. |
Representam grupo experiente.
Iniciaram a carreira com máquinas de escrever, sem computadores e celulares.
Passaram por momentos difíceis da economia mundial. |
São fortes candidatos a posição de liderança.
Iniciaram a carreira juntamente com os avanços da tecnologia.
Se divertiam com os primeiros vídeo games.
Valorizam o empreendimento. |
Buscam posições de liderança.
Cresceram com a tecnologia.
Possuem mentalidade global
Aceitam mais fácil as diferenças.
Viveram bons momentos da economia mundial.
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Representam o grupo mais jovem da organização.
São totalmente tecnológicos (nativos digitais).
Têm pais protetores.
Valorizam o engajamento em ações sociais.
Entediam-se facilmente. |
Focam no equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. |
São questionadores, ansiosos e imediatistas.
Não se prendem à empresa. |
Estão sempre em busca de algo melhor.
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Fonte: www.cpdec.com.br
Para efeito de delimitação deste artigo, será considerado como (NG) os indivíduos que compõem a geração Y e Z. Esta parcela representa aproximadamente 28% da população mundial em um universo de 7,7 bilhões de habitantes no planeta, no Brasil estes números não são tão díspares e estão atualmente na faixa dos 27% do total da população brasileira. Outro ponto a considerar é o conhecimento mais profundo dos principais aspectos daqueles que nasceram no início dos anos 1980 até o fim da primeira década do ano 2000 e que neste caso são duas gerações que trazem diferenças comportamentais, mas também têm características assemelhadas e bem acentuadas, incluir-se-ão para fins de análise em um único grupo e denominar-se-á a partir de agora de (NG).
A (NG) se desenvolveu em uma época de grandes avanços tecnológicos e prosperidade econômica, as crianças desta geração cresceram tendo o que muitos de seus pais não tiveram. Os pais presenciaram o nascimento da internet e da tecnologia, a (NG) já nasceu experimentando seu pleno desenvolvimento e por isso, tem extrema facilidade de interação. São indivíduos que cresceram rodeados de facilidades oferecidas por seus progenitores, que por razões óbvias desejavam dar uma vida melhor a eles, em comparação com aquela que tiveram. Foram criados em um ambiente de multitarefas e atividades, estimulando rapidamente seu cérebro e dificultando a concentração específica em uma única atividade.
No âmbito profissional, a (NG) tem facilidade de se frustrar com os outros e consigo próprio facilmente, pois esperam por valorizações instantâneas e seus padrões exigem constante retorno sobre seu desempenho, principalmente nas atividades profissionais. Caso não se sintam realizados na função ou atividades que executam, não tem dificuldade alguma em abandona-las e partirem para um novo desafio. Diferente das gerações passadas, a (NG) não se realiza com gratificações financeiras e bons salários, isto não é o mais importante para eles, muitas vezes esta realização vem através de satisfação relacional com seu grupo de trabalho e um ambiente profissional agradável. Lombardia destaca que os indivíduos da (NG) são conservadores, materialistas e possui aversão à supervisão, desconfiam de verdades absolutas, são positivistas, autoconfiantes, cumprem objetivos e não os prazos, além de serem muito criativos. Procuram ambiente profissional em que a hierarquia seja menos rigorosa, sempre focando as ações em resultados e não sendo fãs de regras na vida pessoal.
No campo do conhecimento e do aprendizado, não há como desprezar o contato íntimo com a tecnologia e a internet que a (NG) experimenta diariamente, isto faz com que busque constantemente novidades e prender sua atenção se torna um enorme desafio. Eles valorizam informações sempre muito atualizadas, para eles não bastam informações, elas necessitam ser atuais e recentes; nesta realidade, o ensinar e o aprender materializamse por meio de programas, com práticas e interações coletivas, querem entender rapidamente o quão relevante é aquele conhecimento para sua vida e se esta pergunta não for imediatamente respondida, perdem o interesse na mesma velocidade que tiveram.
No aspecto social, a (NG) aprecia a coerência das pessoas com as quais se relaciona, qualquer traço de hipocrisia entre aquilo que se fala e aquilo que se faz, já é motivo para decepção por parte deste grupo. São mais propensos a aceitar diferenças, rejeitando toda forma de preconceito e são mais abertos a pluralidade; fogem da responsabilidade, buscam permanecer na casa dos pais o maior tempo possível e imaginam que os problemas do universo devem ser resolvidos pelas outras gerações, já que na sua visão, foram as gerações passadas que criaram os problemas.
A (NG) tem se tornado um enorme desafio em áreas como educação, gestão profissional, relacionamentos pessoais, entre tantas outras, incluindo a religião. Este grupo atende aos aspectos já descritos da pós-modernidade, eles nasceram neste meio, portanto, advém de uma sociedade cada vez mais laicizada e vivem em um ambiente secularizado que forma o seu próprio mindset. Para líderes religiosos adventistas, este desafio é claramente perceptível, tanto no universo de fora da igreja, quanto dentro dela, haja vista, ser a igreja composta por uma diversidade geracional em seus membros e a (NG) compor boa parcela dela.
Existem enormes desafios ao se tratar de (NG) na igreja, assim como em qualquer organização, ela também não é diferente e em virtude disto, um dos pontos que se estabelece como desafiante é como tornar as mensagens bíblicas dos púlpitos atrativas e relevantes para eles? Quais os elementos essenciais de um sermão para alcançar a (NG)? Que estratégias devem ser empregadas para a preparação da mensagem e sua devida apresentação? São estas respostas que o artigo intentará apresentar a seguir.
- Elementos no sermão para o alcance das novas gerações
Inúmeras estratégias devem ser empregadas por aqueles que preparam e apresentam um sermão para o tornar atraente e significativo ao ouvinte, são fatores que coesos formam um conjunto de procedimentos envolvendo: estilo do sermão, conteúdo, fidedignidade ao texto bíblico, aplicações, recursos na apresentação e conhecimento do público-alvo. Aliás, é sobre este último ponto que o artigo se debruçará mais detidamente na busca da resposta ao principal problema deste trabalho.
Conhecer o público-alvo é dever de todo comunicador e principalmente do expositor das Escrituras Sagradas; os chamados ruídos na mensagem, constituem situações que dificultam a comunicação entre interlocutor e ouvinte. Estes ruídos podem surgir por diversos fatores que somados diminuem ou anulam o alcance da mensagem explanada, muitas vezes o conteúdo do sermão não necessita ser modificado em sua essência, mas, ajustes que envolvam o uso de palavras, expressões ou até mesmo certos sentidos, devem ser cuidadosamente estudados de acordo com o perfil do seu público, levando em consideração aspectos sociais, culturais, regionais e etários. Convém a quem prega, a preocupação no conteúdo da mensagem, na forma como ela será exposta e na afinidade entre o ouvinte e o pregador.
Ao analisar as idiossincrasias da (NG), nota-se que não há como passar ao largo aspectos que facilitam a aproximação com o grupo em questão. Esta preocupação deve começar logo na preparação da mensagem e que precisará conter um tema atraente, inovador e atual, lembrando que haverá necessidade de se extrair estas adjetivações de
um texto produzido a milhares de anos; fica então a pergunta, como proceder? A contextualização é um fator preponderante nesta parte, a mensagem deve vir cheia de sentido para a (NG), que a ouve diante de um mundo em constante mudança, a (NG) valoriza este aspecto da atualização e estar atento aos problemas pelas quais ela passa e incluí-los na pregação, além de expor soluções extraídas da Bíblia é crucial para o sucesso da aceitação e absorção da comunicação.
Problemas que envolvam crises existenciais, relacionamentos interpessoais, familiares, violência, incertezas quanto ao futuro, além de conceitos como: preconceito, liberdade e respeito, atraem estes indivíduos e necessitam de inserção e contextualização na história bíblica apresentada. A utilização de ilustrações e histórias reais que se interliguem com o contexto da mensagem é um aspecto importante, pois a (NG) é aficionada por expor a sua vida e acompanhar a de terceiros pelas redes sociais, e encontrar nos sermões ilustrações que a remetam a experiências vividas por outras pessoas e situações do cotidiano, traz uma aproximação com esse mundo virtual.
O segundo fator está na apresentação do sermão e isto envolve o ambiente, as ferramentas e o mensageiro. O ambiente necessita, independente do grupo para quem se prega, de condições físicas que estabeleçam uma boa conexão entre o ouvinte e o interlocutor; cadeiras confortáveis, iluminação satisfatória, temperatura ambiente agradável, som audível e sem falhas são condições mínimas necessárias para a absorção da mensagem. Mas, se tratando da (NG), outros recursos se apresentam como indispensáveis; a (NG) é digitalizada e, portanto, os recursos tecnológicos atraem este grupo, o uso de equipamentos tanto da parte de quem ouve (celulares, tablets e computadores), quanto da parte de quem prega é importante neste caso. A projeção na tela de textos bíblicos utilizados no decorrer da pregação ou os conceitos que o pregador considera importantes para a fixação de uma ideia no sermão, é interessante.
A informalidade é outra característica da (NG), como neste caso em questão, está se falando do ambiente; propiciar um lugar despojado de formalidade, mesmo sendo a igreja, dá bons resultados. Ceder em alguns aspectos, apresentando uma liturgia menos engessada, louvores mais contemporâneos, sem contudo, abrir mão de princípios e valores, e amenizando eventuais choques geracionais na igreja, não é de todo mal; dependendo da ocasião e local, se despojar de pequenos detalhes como acessórios e roupas mais formais faz toda a diferença para facilitar a aproximação com o público da (NG).
Quanto a afinidade entre ouvinte e pregador, destaca-se a questão da ética cristã, tanto no aspecto da homilética, já abordado aqui, quanto aos procedimentos éticos nas relações humanas e que é valorizado pela (NG). A atenção que este grupo dispensa às pessoas que manifestam preocupação por elas e demonstram em atitudes, é muito grande; White já destacava que este era o método de Jesus trabalhar e atrair o ser humano, parece ser também o mais bem apropriado para a (NG), ela afirma que: “O Salvador misturavase com os homens como uma pessoa que lhes deseja o bem. Manifestava simpatia por eles, ministrava-lhes às necessidades e granjeava-lhes a confiança. Ordenava então: ‘Segue-me’”. Portanto, o envolvimento e a aproximação pessoal com a (NG) é uma ferramenta que não pode ser desprezada e deve ser estabelecida muito antes da mensagem ser exposta.
Outro ponto de destaque que é muito valorizado pela (NG), pode ser exemplificado pela preocupação de Jesus em colocar ordem na maneira como a religião era deturpada pelos líderes religiosos de Sua época, que a manchavam de hipocrisia através de seus atos, sobre isto White chega a dizer:
Sacerdotes e príncipes fixaram-se em uma rotina de cerimonialismo. Satisfizeram-se com uma religião legal e era-lhes impossível dar a outros as vivas verdades do Céu. Consideravam suficiente sua própria justiça e não desejavam a intromissão de um novo elemento em sua religião. A boa vontade de Deus para com os homens não era por eles aceita como algo à parte deles próprios, mas a relacionavam com seus próprios méritos por causa de suas boas obras. A fé que opera por amor e purifica a alma não achava lugar na união com a religião dos fariseus, feita de cerimonialismo e injunções humanas.
A falsidade na atitude dos religiosos e que incomodava o povo no tempo de Cristo, também desagrada hoje em dia a (NG), ela busca constantemente coerência entre atitudes e palavras, não que haja da parte dela uma exacerbada autocobrança, mas a (NG) exige coerência dos outros e principalmente daqueles que elas enxergam como referência de liderança. O pregador necessita antes de pregar, viver o que prega; para que sua mensagem possa alcançar a mente da (NG), se as palavras coadunam com as atitudes, isto facilitará para que comecem a fazer sentido e juntas estabelecerão um laço cognitivo e afetivo.
Morris acentua que a maioria das igrejas na atualidade, pressupõe que as pessoas ainda veem o mundo do ponto de vista do cristão, assim, usa-se as mesmas metodologias que as igrejas empregam há séculos. No entanto, esquecem a realidade do ponto de vista predominante no mundo ocidental em pleno século XXI e sustentado pelo racionalismo; é com este perfil que os indivíduos da (NG) chegam à igreja e quando se trata de pregar a eles não há como não proceder ajustes nos procedimentos e nas formas para alcançalos.
Seguir os passos apresentados acima fará com que a mensagem, que já é poderosa e contundente, ganhe ainda mais força e atinja em cheio os anseios e necessidades da (NG).
CONCLUSÃO
Este artigo apresentou a pregação bíblica como uma das tarefas mais importantes da igreja cristã e por ser tão relevante ainda hoje, exige daqueles que se dedicam na preparação e na exposição de sua mensagem, um acurado cuidado em ser fiel ao texto bíblico original, em dizer integralmente aquilo que Deus intencionava àquela época, nos dias de hoje e principalmente, entendendo que o verdadeiro sucesso no alcance do sermão não está na sabedoria e capacidade humana, mas no poder e na ação de Deus na vida do pregador e do ouvinte, sendo sua principal função a transformação e não a informação apenas.
A homilética, como uma das disciplinas da teologia tem como ciência e arte, a responsabilidade de apresentar diferentes instrumentos para a composição das mensagens bíblicas e sua exposição ao público. Uma dessas ferramentas essenciais, mas pouco mencionada na academia é a ética cristã na homilética, ela normatiza as ações do pregador em relação a si próprio, à mensagem e ao receptor; sendo ela, portanto, um importante fator para tornar o sermão relevante e agente de transformação à (NG).
Esta (NG) que vive o amadurecimento de mudanças políticas, sociais, culturais e religiosas trazidas desde o Iluminismo, onde o cientificismo e a razão estabeleceram um novo marco nas relações entre o ser humano e as instituições, principalmente as religiosas, vive a ideia da laicização. Esta teoria e pensamento que começou a se desenvolver no passado, ganhou corpo e experimenta seu apogeu na sociedade contemporânea atual, direcionando a atitude do ser humano em relação a religião e as igrejas, encarando-as negativamente. Vieses de secularização e falta de pertencimento são determinantes na postura e atitude das pessoas que hoje formam as diferentes gerações dentro e fora da igreja.
Atrelados a este ambiente religioso conturbado por uma nova reconfiguração, os sociólogos apresentam uma formulação de grupos, tendo como base a faixa etária, os acontecimentos históricos vividos, os movimentos sociais perpassados, entre tantos outros, e os agregam a grupos geracionais. Grupos, que segundo estudiosos, contém características próprias e exclusivas que determinam seu comportamento, pensamento e tendência, a compreensão destas características torna-se fundamental para a igreja, pois ela própria é uma instituição formada por pessoas divididas em geracões.
O trabalho procurou analisar os aspectos comportamentais das diferentes gerações, levando em consideração detalhes profissionais, de aprendizado e sociais, porém se fixou mais detidamente nas gerações Y e Z, consideradas pelo presente artigo como objeto de estudo e classificadas como (NG). Na busca por uma compreensão mais apurada do perfil das pessoas que compõem este grupo e na resposta ao desafio proposto em apresentar ao leitor sugestões que tornem os sermões mais relevantes e atraentes à (NG), concluiu-se que é necessário cumprir três passos na elaboração e exposição da mensagem bíblica ao pregar.
O primeiro passo está no entendimento de que o pregador ao preparar e apresentar uma mensagem por meio do sermão, deve buscar uma aproximação com a realidade vivida pela (NG), conhecer seu contexto de vida, lutas e anseios aproxima a mensagem do ouvinte. Quando há oportunidade e esta aproximação se dá por um relacionamento mais direto, permitindo criar uma ponte de afinidade entre interlocutor e ouvinte, gera-se a facilidade do conhecimento mais profundo das necessidades e isto acaba dando mais peso ao sermão, além de criar laços afetivos em uma geração materialista e que carece de atenção.
O segundo ponto está na informalidade da apresentação do sermão, isto exige do mensageiro uma postura diferenciada, uma linguagem apropriada e uma roupa condizente e que promova aproximação com o grupo, mas que não fira princípios de decência, modéstia e sensatez. A (NG) não exige que alguém seja como eles, mas espera que a pessoa seja ela mesma. Outro fator da informalidade está no ambiente e no programa onde ocorrerá a pregação, tudo deve ser preparado para que o ambiente seja fluido e agradável, as partes que envolvem o antes, o durante e o após o sermão necessitam se desenvolver de forma descontraída, mesmo que haja regras, elas não devem transparecer.
Por último, a coerência na atitude do pregador, entre suas palavras e seus atos capacita o mensageiro e fortalece a própria mensagem. Era esta a atitude que Jesus tinha e tanto desenvolveu em Seu Ministério, Ele se preocupava com as pessoas, se importava com suas necessidades, estabelecia um ponto de convergência, criava afinidade e lutava contra a falsidade e hipocrisia, fortalecendo a coerência entre se dizer cristão e efetivamente ser.
Em suma, conclui-se que o ser humano passa por constantes mudanças, exigindo da igreja e de seus líderes a busca por dinâmicas renovações e releituras; estas alterações envolvem uma atualização constante no entendimento e procedimento da igreja em relação as pessoas, dentro e fora dela. Para potencializar o avanço da mensagem das Boas Novas, o pregador nos dias atuais demanda conhecer a (NG), suas características e estratégias que atinjam as necessidades específicas dos indivíduos deste grupo, colocando em prática ao aplica-las no púlpito os sermões pregados.
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PERGUNTAS
Até onde e em que grau, as novas gerações que compõem a igreja atualmente e são membros dela são afetadas por estas características apresentadas no artigo?
O artigo menciona que a (NG) é atraída pelo racionalismo e cientificismo, levando em consideração isso, quais seriam na sua opinião os temas mais apropriados para serem trabalhados em sermões com eles?
O artigo destaca que os pregadores devem fazer adaptações na mensagem em diversos aspectos, um deles mencionado no trabalho, seria a informalidade. Como trabalhar este assunto na igreja, tendo várias gerações envolvidas em seu contexto e evitando o conflito entre elas?
Outro ponto apresentado foi a necessidade de aproximação e afinidade do pregador com a (NG), como trabalhar este aspecto? Que tipo específico de envolvimento você como articulista sugeriria?