Lembrança dupla

Todos quantos desejam entrar no repouso sabático semanal precisam, antes, desfrutar pela fé o descanso espiritual da salvação através de Cristo Jesus

O primeiro capítulo do livro de Gênesis nos transmite a realidade do maravilhoso poder de um Deus que criou todas as coisas em uma semana literal de seis dias. A expressão “viu Deus que isso era bom” traduz a perfeição envolvida em cada obra criada. E, na culminância da criação, “viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom” (Gn 1:31).

O ato seguinte é assim descrito pelo autor de Gênesis: “Havendo Deus terminado no dia sétimo a Sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a Sua obra que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador fizera” (Gn 2:2, 3). Descansou porque era Seu propósito que o ser humano descansasse especialmente nesse dia (Êx 20:11). Assim, deu-lhes o exemplo. A bênção sobre o sábado significa que ele foi reservado como objeto especial do favor divino, ou seja, um período de tempo que deve ser uma bênção para o ser humano. Finalmente, Deus santificou o sábado, isto é, o separou como dia sagrado e santo. Separou-o com o objetivo de enriquecer o relacionamento entre Deus e o homem.

Criação

Para os filhos de Deus, o sábado é um memorial da criação e, como tal, representa um manifesto contra a idolatria e a descrença na existência de Deus, pretendida e propagada pelo usurpador, “deus deste século”. Na lembrança de que Deus criou a Terra, evidencia-se a diferença entre Ele e os falsos deuses.

Como diz A. H. Strong, citado em Nisto Cremos, p. 339, o sábado está “inseparavelmente vinculado ao ato da criação, sendo que a instituição do sábado e o mandamento quanto a observá-lo representam uma consequência direta do ato de criação. Adicionalmente, toda a família humana deve sua existência ao divino ato criativo; e, de acordo com isso a obrigação de aceitar o mandamento do sábado como memorial do poder criador de Deus repousa sobre toda a raça humana”. O mesmo autor fala do sábado como sendo “obrigação perpétua como memorial indicado por Deus, de Sua atividade criadora” (Ibid.).

Ellen G. White, por sua vez, escreveu: “No Éden, Deus estabeleceu o memorial de Sua obra da criação, depondo Sua bênção sobre o sétimo dia. O sábado foi confiado a Adão, pai e representante de toda a família humana. Sua observância deveria ser um ato de grato reconhecimento, por parte de todos os que morassem sobre a Terra, de que Deus é seu Criador e legítimo Soberano; de que eles são a obra de Suas mãos, e súditos de Sua autoridade. Assim, a instituição é inteiramente comemorativa, e foi dada a toda a humanidade. Nada há nela prefigurativo, nem de aplicação restrita a qualquer povo” (Patriarcas e Profetas, p. 48).

Redenção

Com a libertação israelita do cativeiro egípcio, o sábado também se tornou memorial de liberdade: “porque te lembrarás que foste servo na terra do Egito e que o Senhor, teu Deus, te tirou dali com mão poderosa e braço estendido; pelo que o Senhor, teu Deus, te ordenou que guardasses o sábado” (Dt 5:15).

Comentando sobre a permanência de Cristo no sepulcro, após ter entregado a vida em sacrifício pela redenção do ser humano, escreveu Ellen G. White: “Jesus descansou, afinal. Findara o longo dia de vergonha e tortura. Quando os derradeiros raios do sol poente introduziram o dia do sábado, o Filho de Deus estava em repouso, no sepulcro de José. Concluída Sua obra, as mãos cruzadas em paz, descansou durante as sagradas horas do sábado.

“No princípio, o Pai e o Filho repousaram no sábado após Sua obra de criação. Quando ‘os céus, e a Terra e todo o seu exército foram acabados’, o Criador e todos os seres celestiais se regozijaram na contemplação da gloriosa cena. ‘As estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus rejubilavam.’ Jesus descansou da obra de redenção; e se bem que houvesse dor entre os que O amavam na Terra, reinou contudo alegria no Céu. Gloriosa era aos olhos dos seres celestiais a perspectiva do futuro. Uma criação restaurada, a raça redimida que, havendo vencido o pecado, nunca mais poderia cair – eis o resultado visto por Deus e os anjos, da obra consumada por Cristo. A essa cena se acha para sempre ligado o dia em que Jesus descansou. Pois Sua ‘obra é perfeita’; e ‘tudo quanto Deus faz durará eternamente’” (O Desejado de Todas as Nações, p. 769).

Essa obra antecipa o júbilo da eternidade, como período de descanso das consequências do pecado, um sábado eterno, na companhia do Redentor: “Quando se der a ‘restauração de todas as coisas, as quais Deus falou por boca dos Seus santos profetas, desde o princípio do mundo’, o sábado da criação, o dia em que Jesus esteve em repouso no sepulcro de José, será ainda um dia de descanso e regozijo. O Céu e a Terra se unirão em louvor, quando, ‘desde um sábado até ao outro’, as nações dos salvos se inclinarem em jubiloso culto a Deus e o Cordeiro” (Ibid., p. 769, 770).

Descanso em Cristo

Em Hebreus 4:9, 10, assim está escrito: “Resta um repouso para o povo de Deus. Porque aquele que entrou no descanso de Deus, também

ele mesmo descansou de suas obras, como Deus das suas.” O descanso aqui referido é um descanso espiritual, como afirma M. L. Andreasen, “um descanso de nossas obras, o término das obras de pecado” (Nisto Cremos, p. 343). Desse descanso o sábado é um símbolo e Deus nos convida a desfrutá-lo.

Ao completar Sua obra de criação, Deus ofereceu ao ser humano, no dia de sábado, a oportunidade de descansar com Ele. Porém, o homem se afastou do propósito original de Deus, de oferecer descanso para a humanidade. Apesar disso, esse propósito permanece inalterado; o sábado continua sendo um sinal de descanso, símbolo do repouso espiritual que encontramos em Jesus Cristo. Todos quantos desejam entrar no repouso sabático semanal precisam, antes, desfrutar pela fé o descanso espiritual da salvação através de Cristo Jesus.

“O Novo Testamento apela no sentido de que os cristãos não esperem para gozar desse descanso de graça e fé, pois ‘hoje’ é o tempo oportuno para nele ingressar (Hb 4:7; 3:13). Todos os que entrarem nesse descanso – a redentora graça recebida pela fé em Jesus Cristo – desistirão de qualquer esforço para alcançar a justificação por suas próprias obras. Dessa maneira, a observância do sábado do sétimo dia representa um símbolo da entrada do crente no descanso do evangelho” (Ibid.).

Na primeira hora de cada manhã, podemos renovar a experiência do descanso espiritual, proveniente da certeza da salvação que, pela graça de Deus, recebemos. Podemos e devemos viver sob a benfazeja e santificadora influência que ela nos proporciona ao longo do dia. Como fiéis mordomos do Senhor, temos o privilégio de renovar tal experiência cada sábado, cujas 24 horas nos foram dadas para viver na presença dEle. É isso que, por preceito e exemplo, devemos inspirar os membros de nossas igrejas a fazer, a fim de que todos cresçamos cada dia em nosso relacionamento com Jesus.