LIBERDADE NO PÚLPITO

Gostaria você de erguer seu ministério de pregação a um nível mais alto de efetividade? Tente pregar sem anotações. Charles Koller reconhece que determinados pregadores apresentam seus sermões com efetividade a partir de um manuscrito ou esboço. Porém, “os mesmos pregadores seriam mais efetivos se, no púlpito, eles pudessem estar livres das anotações”.1 Por outro lado, muitos pregadores estão convencidos de que, estando livres das anotações, habilitam-se para ligar-se mais efetivamente com seus ouvintes. De fato, pregar sem anotações, na opinião de Joseph M. Webb, também maximiza a participação da audiência e reflete um testemunho autêntico que parte do coração do pregador. 2 Diante disso, a grande questão já não é: “Por que deveria eu tentar pregar sem anotações?”, mas: Como fazê-lo?

Quero sugerir-lhe um processo de cinco passos, devidamente testados em uma igreja. Estou seguro de que isso poderá ajudá-lo e pregar efetivamente sem anotações.

Primeiro passo: Prepare-se com antecedência 

O sábio preparo de longo prazo deveria incluir o desenvolvimento de um calendário homilético. A adoção desse hábito o ajudará a evitar desperdício de tempo. No início de cada semana, tendo seu tema definido e selecionado o texto em que o sermão estará fundamentado, você estará seguro de que terá tempo suficiente para preparar o sermão.

Sem um plano, a tirania da urgência tomará lugar. Todos nós já temos ouvido histórias de pregadores que preparam sua mensagem na noite anterior ao compromisso de apresentá-la. Ou até mais tarde. Tal falta de planejamento não honra a Deus nem contribui para a saúde espiritual, física e emocional do pregador. Para não se tornar mais uma vítima dessa condição, você deverá começar cedo o preparo do sermão.

Estude cuidadosamente e com muita oração o texto de sua mensagem, e reúna os dados e informações a respeito dele, no início da semana. Não comece a elaborar o manuscrito de seu sermão, até que tenha identificado sua idéia central, decidido sobre a sua forma e captado seu resumo.

O Espírito Santo deseja acompanhá-lo durante o preparo do sermão e também na sua apresentação 

Segundo passo: Escreva o primeiro esboço do sermão 

Não mais que três dias antes de apresentar a mensagem, escreva o primeiro esboço do seu sermão. Talvez, você esteja pensando que o ato de pregar sem anotações elimina a necessidade de um manuscrito. Não é assim. Pregar sem esboço não é substituto para a disciplina de escrever, nem se trata de um atalho. Ao contrário, pregar sem esboço é um passo além do sermão escrito. Daí, a importância de escrever o primeiro esboço do manuscrito, no início da semana.

Seu sermão não deveria ser classificado como um ensaio ou artigo, mas como uma conversação criativa e agradável com os ouvintes. Vocalize o sermão, enquanto o escreve. De acordo com William Shepherd, “realmente, é quando ouvimos palavras que notamos as diferenças sutis entre a linguagem escrita e a oral”.3 Então, “escreva em voz alta”. Não se preocupe em escrever um sermão perfeito no primeiro esboço. Esse é apenas o começo, não o fim.

Ore enquanto escreve esse primeiro esboço. O Espírito Santo deseja estar ao seu lado tanto na fase do preparo quanto na apresentação da mensagem. Essa antecedente “gestação” do sermão disponibiliza tempo para o próximo passo, que é crucial nesse processo.

Durante o sermão peça a Deus que o ajude a atentar para os ouvintes. Dê-Lhe permissão para inserir novos vislumbres em sua mente

Terceiro passo: Internalize o sermão

Durante os últimos dois dias de preparação, caminhe através do sermão como numa viagem turística, tornando-se familiarizado com cada nova atração. Use o manuscrito como um mapa. Seu alvo não é a memorização das notas, mas a internalização. Shepherd assinala que “aprendemos nossos sermões como os atores aprendem seus textos; mas, diferentemente da maioria dos atores, temos a liberdade para melhorar nosso texto à medida que o repetimos, e mesmo quando apresentamos o sermão”.4

A caminhada pelo sermão testará sua estrutura e revelará a necessidade para adicionar ou suprimir alguma coisa. No início, essa caminhada exige atenção total. Tome notas e revise o manuscrito depois de cada caminhada. Posteriormente, você pode continuar a jornada enquanto realiza outras atividades como, por exemplo, tomando banho, dirigindo-se para um compromisso, esperando alguém ou alguma coisa. Empreender tal caminhada justamente antes de dormir contribui para acomodar o sermão em sua memória, desde que você não esteja física e mentalmente cansado.

O processo de internalização do sermão também capacita o pregador para abordar questões de interpretação e comunicação não verbal. As próprias palavras são apenas pequena parte do processo de comunicação. Como deseja você expressá-las? Que gestos e expressões faciais usará? Dedique ao processo de internalização pelo menos 25% do tempo de preparo do sermão. Esse é tempo de revisão e repetição. No fim desse processo, você estará familiarizado com todas as nuanças de sua viagem. Como um competente guia turístico, você estará preparado para conduzir seus ouvintes a um bem conhecido território.

Quarto passo: A última caminhada

Imediatamente antes de pregar, faça uma rápida caminhada através do sermão. Isso não deve passar de sessenta segundos. Não há necessidade de pânico. Não se preocupe com todos os detalhes do sermão. A maioria desses detalhes será lembrada enquanto você estiver falando. Não fique ansioso em relação a detalhes que poderiam ser omitidos.

Joseph M. Webb enfatiza que “embora tudo esteja bem preparado, o pregador levanta-se diante do povo literalmente pensando alto. As idéias foram trabalhadas, consciente e inconscientemente; mas mesmo depois de terem sido esboçadas e memorizadas, elas são refinadas e repensadas pouco antes e até mesmo durante a entrega da mensagem”.5

Essa estrutura indutiva de discurso aumenta o senso de antecipação e descoberta tanto para os ouvintes como para o pregador. Assim, não fique ansioso. O que você eventualmente perder, por não usar o sermão manuscrito, será pouco em relação ao ganho em comunicação efetiva. Conclua sua última caminhada revisando as primeiras sentenças. Saiba exatamente a partir de onde você começará, quando se levantar para falar. Com uma introdução clara e convincente, seus ouvintes se ligarão e o acompanharão, enquanto você os guiar nessa maravilhosa viagem.

Quinto passo: Ouça enquanto prega

Durante a pregação, peça que Deus o ajude a lembrar a mensagem importante e esquecer o desnecessário. Peça que Ele o ajude a atentar para seus ouvintes. Dê-Lhe permissão para inserir novos vislumbres em sua mente, que o ajudarão muito na condução do sermão. Pregar sem anotações o capacitará a ser mais atento às respostas verbais e não verbais dos ouvintes. Assim, ouça enquanto fala. Ouça as respostas verbais e responda a elas. Não olhe os ouvintes apenas para “estabelecer bom contato visual”. Esteja atento às suas respostas não verbais. Como um habilidoso guia turístico, repita pontos importantes se percebeu que não foram bem ouvidos. Aumente o passo da viagem ou adicione uma ilustração, se sentir que os ouvintes estão perdendo interesse. Seu objetivo não é repetir todas as palavras do manuscrito, mas ajudar os ouvintes a receber o máximo benefício da viagem.

Esteja preparado para experimentar algum embaraço, ao pregar sem anotações pela primeira vez. Isso é normal. Não entre em pânico nem se desespere. Reconheça que toda habilidade requer prática, antes de se tornar uma resposta natural. Lembra-se de quando aprendeu a andar de bicicleta? Foi fácil? Você se sentiu instável, vacilante, ansioso. Mas, com a prática, aprendeu a habilidade. Hoje, você pode tomar a bicicleta e desfrutar liberdade.

Pregar sem anotações requer muita prática. Assim, seja paciente consigo mesmo. Permita-se algum tempo para desenvolver a habilidade para ouvir a resposta dos ouvintes. Lembro-me do meu primeiro sermão sem anotações. Após 20 anos pregando com manuscrito, fiquei muito estressado. Que aconteceria se eu perdesse o equilíbrio? Que aconteceria se falhasse? Depois da primeira vez, minha esposa observou que eu ainda pregava como se estivesse usando o manuscrito. Ela estava certa. Eu ficava confinado atrás do púlpito, tentando desesperadamente encontrar todas as palavras do invisível documento. Seu conselho foi: “Simplesmente levante-se e pregue.” Atendi-o, e minha segunda experiência foi totalmente diferente. Senti-me livre. Agora, pude focalizar meus ouvintes. Isso foi dez anos atrás, e nunca mais recuei.

Quero animá-lo a tentar esses cinco passos. Se você nunca pregou sem anotações, ou se gostaria de fazê-lo mais efetivamente, este processo pode ajudá-lo na jornada. Respire profundamente. É só começar.

Referências:

1 Charles W. Koller, Expository Preaching Without Notes (Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1962), pág. 34.

2 Joseph M. Webb, Preaching Without Notes (Nashville, TN: Abingdon Press, 2001), págs. 25-30.

3 William H. Shepherd, Without a Net: Preaching in a Paperless Pulpit (Lima, OH: CSS Publishing Company, 2004), págs. 100-121.

4 Ibidem, pág. 123.

5 Joseph M. Webb, Op. Cit., pág. 28.