Wellington Barbosa entrevista Jiwan Moon
“O ministério para jovens não é, e não deve ser, orientado por eventos, mas por processos. Isso signi ca inserir os jovens em um processo no qual eles aprendam a não ter medo de dar tudo, inclusive a vida, por Jesus.”
A nota tônica do ministério de Jiwan Moon pode ser de nida com as seguintes palavras: mentoreamento de jovens. Filho de pastor, Moon nasceu na Coreia do Sul e cresceu no campo missionário. Após ter se graduado em Teologia na Universidade Adventista das Filipinas, iniciou seu ministério como pastor de jovens em uma Igreja Adventista coreana na Califórnia. Ele trabalhou nos Estados Unidos e no Canadá e, durante esse período, obteve seu mestrado e doutorado em Ministério Jovem, ambos na Universidade Andrews. Casado desde 2006 com Jessica, o casal tem três lhas: Hannah, Rebecca e Isabella. Atualmente, Jiwan Moon é diretor associado do Ministério de Capelania Adventista da Associação Geral, responsável por promover e apoiar as iniciativas destinadas a atender as necessidades espirituais, intelectuais e sociais dos estudantes adventistas nos campi de instituições não adventistas e públicas de ensino.
Você tem mestrado e doutorado em ministério para jovens. O que você pesquisou e quais foram suas principais conclusões?
Pesquisei sobre os estágios de desenvolvimento dos jovens e como isso os afeta. Os resultados de meus estudos mostram que, se eles receberem orientação intencional e forem discipulados, serão capazes de se tornar cristãos proativos, automotivados e dispostos a servir a Deus e a viver para a missão. Descobri também que a orientação e o modelo de discipulado que Jesus escolheu começou a partir de um círculo interno de um, depois três, 12, 70 e 120 pessoas. Ele desenvolveu uma relação de mestre e aprendiz com jovens que foram chamados a segui-Lo e a ser como Ele.
Você trabalhou com jovens de diferentes culturas. O que há em comum entre eles? O que há de diferente?
Após trabalhar em vários países, descobri que os jovens demonstram as mesmas características essenciais, independentemente da cultura a que pertençam. Eles estão em busca de sua verdadeira identidade, muitas vezes fazendo a pergunta: “Qual é o propósito da vida?” Além disso, necessitam de um modelo/mentor, não apenas para instruí-los, mas para inspirá-los e transformá-los por meio de um autêntico estilo de vida cristão. Por outro lado, percebi como diferença que algumas culturas são mais restritivas, fazendo escolhas pelos jovens, ao passo que outras desa am seus jovens a fazer as próprias escolhas.
Que papel os jovens estão desempenhando e vão desempenhar nos eventos nais e na pregação do evangelho a todo o mundo? É importante para a igreja, tanto em nível mundial quanto local, levar isso em consideração? Por quê?
Tenho testemunhado uma juventude em chamas para Cristo em vários países. Vejo jovens espiritualmente engajados que estão inspirando os mais velhos. Eles são uma luz em suas universidades, ministrando uns aos outros e evangelizando os colegas de maneira poderosa. Descobri que eles desempenham um papel importante em grandes movimentos mundiais. Os jovens têm um sentido muito apurado de justiça social, energia e paixão para fazer o que acreditam ser a coisa certa. O adventismo também é um movimento liderado por jovens.
Nós os vemos mudando o mundo à medida que são transformados pelo espírito de Cristo, participando de diversos projetos missionários, como Missão Calebe, Um Ano em Missão, etc. Os discípulos de Jesus foram capazes de abalar o mundo por meio da orientação que receberam do Mestre. Acredito que antes da vinda de Cristo, conforme os jovens forem orientados a se tornar cristãos proativos, que ministram em suas universidades e seus arredores, eles apressarão a vinda do Senhor. Haverá um verdadeiro reavivamento da piedade entre o povo de Deus, liderado por jovens.
De que forma o mundo pós-moderno, com seu uxo constante de novas tecnologias e de informações, afeta a maneira pela qual os jovens se relacionam com a religião e a igreja?
O relativismo pós-moderno criou a noção de que não há verdade absoluta; tudo é relativo. Atualmente, observo que existem muitas pessoas contrariando essa cosmovisão, dizendo que, de fato, a verdade não é subjetiva, mas objetiva. O conceito de verdade relativa, como retratado nas mídias sociais, desa a os jovens na medida em que eles são bombardeados com pontos de vista contrários às Escrituras. É dever dos pais, líderes da igreja, pastores e mentores ajudá-los a saber o que é verdade e o que não é, e isso exige tempo, presença, orientação intencional e discipulado.
Quais são os principais desa os enfrentados pela igreja para alcançar o coração da juventude?
Conheço muitos jovens que frequentavam a igreja, mas que hoje não mais a frequentam. Quando questionados sobre isso, muitos respondem dizendo que não tiveram alguém a quem poderiam considerar como mentor. Muitas vezes eles se sentiram julgados e criticados, como se as pessoas apenas estivessem dispostas a apontar os erros deles, em vez apoiá-los e ampará-los. Contudo, a necessidade que sentiam era de encontrar relacionamentos autênticos e afetuosos com pessoas dispostas a sofrer com eles e a permitir que experimentassem a graça de Deus.
Reconheço que, por vezes, os jovens usam isso como desculpa para sua decisão de deixar a igreja. No entanto, estudos apontam que congregações que possuem uma cultura de acolhimento e orientação têm uma forte representação da juventude. Nossos jovens precisam saber que não há nada que possam fazer para que a igreja pare de cuidar deles e de compartilhar a graça divina com eles. Em outras palavras, nossa igreja precisa ser conhecida como um lugar em que os jovens podem experimentar amor incondicional, graça e aceitação de Deus. Assim eles poderão ser desa ados a ser verdadeiros seguidores de Cristo, tornando-se missionários e embaixadores dele.
Há alguns anos tem-se observado um aumento no número de jovens sem religião ou sem igreja. Quais são as razões desse fenômeno e o que a igreja local pode fazer para contê-lo?
Infelizmente, muitos jovens creem que a religião não mais seja relevante. Eles julgam que as vantagens que podem obter na igreja, podem conseguir em outro lugar, e isso inclui amizades, inspiração para viver de forma altruísta, e até mesmo um senso de valor que acreditam poder obter além de sua identidade como cristãos. No entanto, creio que uma das coisas mais importantes que esteja faltando na vida da igreja é a a rmação de que eles não podem se considerar cristãos a menos que estejam prontos para viver a vida de Jesus, ou seja, a vida de autossacrifício. Chamo isso de espírito missionário. Na verdade, o ministério jovem era conhecido como Missionários Voluntários (MV), conforme Ellen G. White o chamou, prevendo que ele seria um movimento no qual nossos jovens se tornariam missionários voluntários para Jesus. Contudo, com a mudança de nome para Sociedade dos Jovens Adventistas e, agora, Ministério Jovem Adventista, não existe uma identidade clara no próprio nome que mostre que esse é um ministério que visa inspirar, educar, equipar e capacitar nossa juventude a se tornar missionária. Tive o privilégio de servir a uma igreja por mais de 11 anos. Lançamos ali um projeto chamado ROCMM (Reachout & Care Missionary Movement). A partir dos 13 anos, nossos jovens eram encorajados a doar duas semanas de suas férias para o trabalho missionário. Após oito anos de missões bem-sucedidas da ROCMM, a igreja foi recompensada com mais de 90% de taxa de retenção entre jovens. Creio que isso se deve ao incentivo ao zelo e à vivência missionária.
Com a intenção de atrair mais jovens, alguns pastores seguem certas metodologias duvidosas para ser bem sucedidos. Esse é o melhor caminho?
Certa vez ouvi de um dos meus mentoreados que temos muitos animadores e líderes que querem se autopromover em nossas igrejas. Eu não concordo
com essa a rmação. No entanto, tenho que admitir que algumas pessoas envolvidas em ministérios voltados para jovens fazem programações para atraí-los, por exemplo, escolhendo certos estilos diferentes de adoração, introduzindo sofás e cadeiras confortáveis, iluminação, e programas sociais em suas igrejas.
Podemos atrair alguns jovens por meio desses métodos; porém, o que os mantém na igreja não são assentos confortáveis nem oradores eloquentes, mas o ensino de que seguir Jesus não signica receber, e sim doar. O ministério para jovens não é, e não deve ser, orientado por eventos, mas por processos. Isso signi ca inserir os jovens em um processo no qual eles aprendam a não ter medo de dar tudo, inclusive a vida, por Jesus. Eles precisam saber que seguir a Cristo não é sempre uma experiência agradável. Às vezes, pode ser algo incômodo e desafiador. Temos que analisar seriamente nossa metodologia para ter certeza de que não queremos fazê-los se sentirem confortáveis, mas capacitá-los a brilhar em situações desa adoras, semelhantes àquelas vividas por Daniel e seus amigos. Isso não é entretenimento, mas a experiência de se tornar uma testemunha (martyr) de Cristo.
Qual é o limite entre a manutenção da identidade cristã e a adoção de novas abordagens litúrgicas para alcançar os jovens?
Como eu disse, a verdadeira identidade cristã está relacionada com o exemplo de vida autossacri cial de Jesus. A ideia bíblica de adoração é muito maior e mais ampla do que pensamos. No Antigo Testamento, a palavra hebraica avodah é comumente usada e, muitas vezes traduzida, como “adoração”. Isso não se refere estritamente àquilo que comumente consideramos adoração como, por exemplo, cantar em um conjunto ou adotar determinado estilo de adoração.
O termo demonstra um forte senso de serviço. Em outras palavras, adoramos o que servimos e servimos o que adoramos. A adoração não é uma experiência na qual exclusivamente recebemos, mas uma experiência que nos dá oportunidade de servir a Deus e aos outros. Quando vemos a adoração sob esse ângulo, entendemos a questão de outra maneira.
Quais medidas o pastor local pode adotar para motivar os jovens a um compromisso pleno com Cristo?
Envolver os jovens na missão. Eles não precisam ir a outro país, mas podem ter uma experiência missionária em sua própria região, ou até mesmo dentro de sua comunidade. Ao incentivá-los na prática do serviço cristão, eles incorporarão o estilo de vida missionário. O pastor também pode envolver os jovens na igreja local, capacitando-os a se tornarem diáconos e diaconisas juniores, e até mesmo permitindo-lhes assumir responsabilidades como líderes. Além disso, pode lançar um projeto missionário simples e sustentável, estabelecer parcerias com outras igrejas e fazer uma viagem missionária anual que não exija muitos recursos financeiros. Os jovens podem estabelecer parcerias com a prefeitura local e prestar serviços voluntários para a comunidade. Ao fazer isso, eles
não só terão orgulho de sua identidade como missionários, mas também terão bom relacionamento com a comunidade na qual testemunharão posteriormente. A ideia é tirá-los da zona de conforto e torná-los proativos, permitindo-lhes viver de maneira altruísta.
De que forma o mentoreamento de jovens contribui para o fortalecimento e o engajamento deles em relação às questões espirituais? Como o pastor local pode desenvolver uma estratégia de mentoreamento e caz?
O ministério para jovens é de presença. Na verdade, todos os ministérios são assim. Você não pode in uenciar os outros se não estiver presente. Gosto de uma citação sobre o ministério de Jesus extraída de Atos dos Apóstolos (p. 10) que se relaciona com essa realidade: “Por três anos e meio, os discípulos estiveram sob a direção do maior Professor que o mundo já conheceu. Por associação e contato pessoal, Cristo os preparou para Seu serviço.” Se o pastor local estiver presente sicamente, emocionalmente e espiritualmente, sendo um modelo positivo, estendendo graça aos jovens quando falham, expressando encorajamento quando experimentam o sucesso, e compartilhando com eles suas próprias experiências espirituais, ele criará uma estratégia de mentoreamento eficaz para sua juventude.