Ministério Essencial

Ministério Essencial

Ministério Essencial

A importância da visitação, da adoração e da mobilização para a igreja hoje

Pr. Davi França

 

A pandemia da COVID-19 tem sido encarada por muitos como uma ameaça contra a igreja. Cultos vazios, templos fechados e famílias isoladas são cenas de um filme que se repete nos últimos meses. Contudo, o que é visto como ameaça pode também ser um alerta. O papel essencial da igreja não deve ser apenas um tema de decretos e leis, e sim do mais alto interesse para o ministério pastoral.

Entre muitas decisões tomadas nesse período, a Igreja Adventista na América do Sul definiu três ações principais no chamado período pós-quarentena: visitação, adoração e mobilização. O objetivo é maior que apenas apresentar palavras que soem harmônicas. As palavras destacam as prioridades no retorno às atividades presenciais e reforçam a necessidade de cuidado dos membros e amigos da igreja.

Ao refletirmos sobre essas ações, nos damos conta que elas ultrapassam as barreiras da crise momentânea e sintetizam o que poderíamos chamar de “ministério essencial”. Em qualquer época, o pastor é responsável por visitar o rebanho, promover a adoração bíblica e mobilizar os membros da igreja para o cumprimento da missão na comunidade que os cerca. Contudo, nesses tempos de isolamento, nos quais a influência da igreja diminuiu de maneira considerável, essa responsabilidade se torna ainda maior.

 

Visitação – a igreja vai até o membro

Por mais que nos esforcemos, não podemos enfatizar devidamente a importância da visitação para o êxito no ministério pastoral. A presença do pastor comunica ao membro a sua relevância para a igreja. Mostra que ele é parte da família. Fortalece o senso de pertencimento. Cria vínculos que vão além da mera formalidade. Um membro que recebe a visita do seu pastor sente que a igreja está mais perto dele.

Ellen G. White chega a chamar de “infiel” o pastor que negligencia a visitação. Ela afirma: “Cumpre educar-vos e exercitar-vos a vós mesmos no visitar toda família a que vos seja possível obter acesso. Os resultados dessa obra testificarão de que é a obra mais proveitosa que um ministro evangélico possa realizar. Caso ele negligencie esse trabalho – visitar o povo em suas casas – é um pastor infiel e está sob a repreensão de Deus. Seu trabalho não está nem metade feito. Houvesse ele feito trabalho pessoal, e teria sido efetuada uma grande obra, e muitas almas haveriam sido recolhidas. Deus não aceitará desculpas por negligenciar-se assim a parte mais importante do ministério” (Ev 440).

Precisamos fazer da visitação uma prioridade no ministério. Mensagens de texto, telefonemas, e chamadas de vídeo têm o seu lugar, mas não substituem a presença do pastor. É verdade que nem sempre ele consegue visitar todos os membros. É aí que entra um dos mais destacados papeis dos líderes locais, principalmente os anciãos e diretores de grupo. Eles podem partilhar da alegria do pastor, mostrando o cuidado da igreja com as pessoas, participando do ministério pastoral na visitação.

Nesse contexto, escrevendo aos líderes da igreja em seu tempo, Ellen G. White mostra que, além da pregação, o trabalho em favor dos membros é uma forma essencial de pastoreio. Ela diz: “Apascentai o rebanho de Deus pregando a eles Sua palavra, dedicando-lhes fervoroso trabalho pessoal e dando-lhes um bom exemplo” (Carta 108, 1902, tradução livre). Hoje, a necessidade é ainda maior. Os pastores precisam se lembrar que se o membro for importante para a igreja, a igreja será importante para o membro.

 

 

Adoração – o membro vai à igreja

Se por meio da visitação a igreja marca presença na vida do membro, pela adoração na igreja, ele se coloca na presença de Deus de forma singular. A migração para os cultos online tem mostrado que assistir a igreja em casa e adorar a Deus no templo são atividades completamente diferentes.

A experiência virtual possibilita o acesso à informação, a experiência real possibilita o acesso ao coração. Algo acontece quando os crentes se reúnem. Talvez por isso, o conselho de Paulo aos Hebreus seja hoje ainda mais pertinente: “Não deixemos de nos congregar, como é costume de alguns. Pelo contrário, façamos admoestações, ainda mais agora que vocês veem que o Dia se aproxima” (Hebreus 10:25, NAA).

Ellen G. White associa o declínio espiritual à diminuição na frequência à igreja. Ela afirma: “É para nosso prejuízo que nos privamos do privilégio de nos reunir uns com os outros para nos fortalecer e animar mutuamente ao serviço do Senhor. As verdades de Sua Palavra perdem seu vigor e importância para o nosso espírito. O coração deixa de ser iluminado e comovido por sua santificadora influência, e declinamos na espiritualidade” (CC, 101).

A queda nos índices de presença na igreja se acentuou com a pandemia. Contudo, a igreja precisa trabalhar para que o distanciamento social não acabe levando ao distanciamento espiritual. O pastor é o principal responsável para que a adoração seja uma experiência profunda e significativa para os membros. Embora seja dirigido a Deus, o culto deve ser atrativo para as pessoas, bem organizado, espiritual e fundamentado na Palavra.

A pregação bíblica deve ser o clímax, levando os participantes à reflexão e provocando decisões. O foco não deve estar no entretenimento e na excitação, mas no arrependimento e no perdão. Para que as pessoas saiam com a certeza que estiveram na presença de Deus, elas devem ser confrontadas com a voz de Deus. Nesse particular, o pastor, além de se preparar, deve preparar o ancião, para que ele também “pregue a palavra, insista, quer seja oportuno, quer não, corrija, repreenda, exorte com toda a paciência e doutrina” (2 Timóteo 4:2, NAA).

O retorno da igreja à Palavra resultará no retorno dos membros à igreja. As pessoas estão sedentas e famintas. A adoração no templo deve saciá-las. Como Adventistas, sempre levamos esse tema a sério. Agora, mais do que nunca, precisamos ser o povo da Bíblia, para que nossa igreja atraia as multidões que estão em busca de esperança.

 

Mobilização – a igreja vai à comunidade

Por mais que a prática da visitação e o cuidado na adoração tenham fundamental relevância para a igreja, a mobilização dos membros para o cumprimento da missão é a prova final do ministério essencial. O pastor é um líder espiritual. Como tal, deve liderar a igreja em sua resposta à “grande comissão” de Mateus 28:18-20. Deve organizar, motivar e capacitar os membros para testemunhar e ensinar.

A importância do envolvimento dos membros na missão é um tema recorrente nos escritos de Ellen G. White. Ela chega a dizer que a “obra de Deus na Terra jamais poderá ser terminada a não ser que os homens e as mulheres que constituem a igreja concorram ao trabalho e unam os seus esforços aos dos pastores e oficiais da igreja” (TI, Vol. 9, pg. 116).

Uma igreja onde uma pequena parte trabalha e uma grande parte assiste nunca fez parte dos planos de Deus. Seu sonho é que todos estejam envolvidos na missão. É bem conhecida a declaração “todo verdadeiro discípulo nasce no reino de Deus como um missionário” (CBV, 102). Os discípulos receberam a ordem de fazer discípulos. Então, não seria exagero afirmar que quem não está fazendo discípulos para Jesus, não é discípulo de Jesus.

A pergunta natural é: como fazer discípulos? Como envolver os membros no cumprimento da missão? Embora existam inúmeros projetos diferentes, há um método que permite o envolvimento de todos. “Unicamente os métodos de Cristo trarão verdadeiro êxito no aproximar-se do povo. O Salvador misturava-Se com os homens como uma pessoa que lhes desejava o bem. Manifestava simpatia por eles, ministrava-lhes às necessidades e granjeava-lhes a confiança. Ordenava então: ‘Segue-Me’” (CBV, p 143).

Por meio dos pequenos grupos, unidades de ação da Escola Sabatina e nas interações sociais cotidianas, os membros da igreja podem ser uma poderosa influência na comunidade. Cabe ao pastor levá-los ao compromisso pessoal com a missão, ensiná-los a despertar o interesse dos amigos e fornecer materiais e oportunidades para que esses amigos se tornem irmãos.

 

Um chamado ao ministério essencial

A pandemia desfez alguns planos, atrasou alguns sonhos, mas não tirou o foco da igreja. Ao contrário, podemos afirmar que o foco foi reajustado. A visitação, a adoração e a mobilização sempre foram importantes. Agora, contudo, se tornaram ferramentas  indispensáveis para que o ministério e a igreja voltem a ser essenciais.

Ellen G. White assim descreve a postura do pastor cujo ministério é consagrado: “O coração do verdadeiro ministro está cheio do intenso desejo de salvar. O Espírito de Cristo repousa sobre ele. Ele se preocupa com os perdidos como quem deve dar conta deles. Com os olhos fixos na cruz do Calvário, contemplando o Salvador suspenso, confiando em Sua graça, crendo que Ele estará com ele até o fim, como sua proteção, sua fortaleza, sua eficiência, ele trabalha para Deus. Com rogos e convites, misturados com a segurança do amor de Deus, ele busca conquistar almas para Jesus, e no Céu é contado entre os que são ‘chamados, e eleitos, e fiéis’. Apocalipse 17:14”. (AA, 206).

Como pastores, fazemos muitas coisas, mas precisamos resgatar o ministério essencial: visitar as famílias, promover a adoração inspiradora e mobilizar a igreja para a missão. Pela graça de Deus, a eternidade mostrará os frutos do nosso penoso trabalho e, com o nosso Salvador, ficaremos satisfeitos!

 

 

Download em PDF