Não Somos Profissionais

Como vibramos com notícias do crescimento da igreja, do aumento do número de membros, de novos distritos sendo abertos, de novas missões sendo inauguradas; de como nossas escolas têm crescido e o número de alunos tem aumentado. Vibramos com todas as bênçãos que temos recebido como igreja, como instituição e como servidores.

Em seu livro, “Irmãos, nós não somos profissionais”, John Piper diz: “Os objetivos de nosso ministério são eternos e espirituais. Eles não são compartilhados por nenhuma profissão”.

Junto com o crescimento da igreja, temos o desafio de harmonizar nosso chamado ao serviço com nossa função profissional. Muitas vezes, isso leva o servidor a imaginar que, cumprindo sua função profissional, terá também cumprido seu chamado ao serviço. Em muitos lugares do mundo, temos visto uma profissionalização daquilo que é um chamado intencionado por Deus ao serviço integral e holístico dos servidores não apenas do ministério, mas também da igreja. Em muitos casos, isso tem gerado uma mecanização do ministério e, consequentemente, a uma insatisfação com a carreira profissional. Por quê? Simples! Deus nos chama para uma vida de dedicação integral. Deus nos chama a colocar nosso tempo, nossos dons e nossos recursos a serviço do que foi o ministério de Cristo na Terra: servir e salvar. Ele nos chama a termos uma missão, e não um emprego. Quando temos uma missão, buscamos o bem do próximo e tesouros no Céu. Quando temos um emprego, lutamos por nossos direitos e queremos um reino na Terra. Quando nossa preocupação está na performance e em impressionar os outros, deixamos de desfrutar o profundo significado e a realização do que o ministério reserva ao que se entrega de coração ao serviço.

Paulo deixa isso claro ao escrever em sua carta aos Filipenses: “Mas o que para mim era lucro, passei a considerar perda, por causa de Cristo”. Aqui ele fala da realização pessoal de seu chamado; da alegria de servir a Deus, apesar de todas as lutas, oposição e privações. Fala da convicção de que aquilo que recebeu ao entregar-se ao serviço e à missão era muito melhor, mais gratificante e duradouro do que o que acumulara em toda a vida ao ter um emprego; e o mais incrível é que ele escreve essa carta de uma prisão fria e úmida.

Ao longo de meus anos de ministério, tenho visto como às vezes, com o passar do tempo, diminui o brilho nos olhos de alguns colegas. Muitas vezes, eu me pergunto qual é a razão disso e creio que algumas podem ser legítimas, mas tenho a convicção de que quando entendemos que fomos chamados a servir humildemente buscando aproximar pessoas de Jesus, aliviando o sofrimento humano, buscando a justiça e a paz e exaltando a verdade, nosso ministério toma um rumo totalmente diferente. Sentiremos na largura e na profundidade a realização de servir a Deus e ao próximo. Deus não nos chama para sermos um sucesso; Ele nos chama para sermos obedientes. Ele não nos chama para o brilho, mas para O fazermos brilhar.

Uma das melhores maneiras de encontrar essa razão de viver o ministério na plenitude é dedicando tempo para o Serviço Voluntário além do horário de trabalho e com recursos de nosso próprio bolso. Não como um programa de escritório, com as despesas pagas, conforto e segurança, mas abrindo o coração dando o tempo e os recursos próprios para levar amor, conforto e esperança às mais variadas classes de pessoas nos mais variados lugares.

Cito aqui exemplos de servidores que dedicam tempo e recurso ao serviço voluntário e que hoje encontraram o “porquê” de trabalhar para a igreja.

Luiza, servidora da ARM, seguradora da igreja, dedica há alguns anos parte de suas férias para ajudar o próximo e falar do amor de Jesus. Já foi ao Amazonas, à Mongólia e a São Tomé e Príncipe, e sente que sua vida espiritual se solidificou e seu trabalho teve uma razão de ser depois que decidiu dedicar a vida à missão voluntária.

Gerardo Tomasini, tesoureiro assistente da DSA, sua esposa, Sonia, e os filhos, Gianni, 7 anos, e Giulia, 4 anos, pagaram todas as despesas e doaram as férias para ir servir por 10 dias na África. “Precisamos mostrar a nossos filhos a verdadeira missão da igreja. Somos tão abençoados que muitas vezes nossos filhos não têm a real noção e a dimensão do que é o sofrimento humano e as dificuldades e necessidades da vida”.

Lucas Nunes, pastor distrital, sempre teve um sonho de ser missionário. Este sonho não se realizou da forma tradicional indo como obreiro interdivisão, mas há três anos, Lucas e sua esposa, Hevelyn, têm ido, com um grupo de jovens modernos e bem-sucedidos, de seu distrito a Guiné Bissau para servir e salvar pessoas. O sonho de estar como missionário se realizou por essa iniciativa simples, mas com um grande alcance espiritual em sua vida. “Meu ministério tem tido cada vez mais sentido depois que decidi tomar minha missão pessoal.”

“Se minhas filhas não se envolverem em alguma atividade significativa em prol do semelhante, temo que não as verei no céu.” Ouvi essa afirmação preocupante ao visitar um médico alguns meses atrás. Isso não me desanimou; pelo contrário, deixou-me mais motivado a fazer o melhor para que cada dia mais tenhamos um exército de famílias ministeriais e servidores da igreja, fazendo missão juntos e anunciando a esperança em todos os lugares da Divisão Sul-Americana e nos quatro cantos da terra.

A alegria ministerial e de trabalhar para a igreja nunca esteve e nunca estará na profissionalização do ministério. O mundo estabelece a agenda do homem profissional; Deus estabelece a agenda do homem espiritual. Faço a você o convite para experimentar esta aventura. Planeje com sua família umas férias diferentes. Convide sua igreja a fazer um projeto missionário em algum lugar, e tenho certeza de que haverá uma alegria e uma sensação de realização incríveis, pois muitas prioridades serão realinhadas no ministério e na família. Vale a pena.

Elbert Kuhn nasceu em Taquara, RS, no dia 19 de julho de 1969. Cursou o ensino fundamental no Colégio Adventista Pr. Ivo Souza, em Rolante, e o ensino médio no Instituto Adventista Cruzeiro do Sul (IACS), em Taquara. Começou a faculdade de Teologia em 1988. Trabalhou em Bento Goncalves, por dois anos, depois Sarandi, em Porto Alegre, por três anos, e em Camaquã, também em Porto Alegre, por quase três anos. Foi pastor na Igreja Central de Curitiba, PR, e concluiu o mestrado em Teologia em 2004. Trabalhou durante uma década como missionário na Mongólia. Seu último cargo foi como Coordenador do Serviço Voluntário Adventista para toda Divisão Sul-Americana. Atualmente é secretário associada na Associação Geral. Também gosta de viajar, conhecer lugares, pessoas e culturas. É casado há 20 anos com Cleidi Kuhn, formada em Pedagogia com pós-graduação em Terapia Familiar.