“Ah, esses jovens…” Já ouvi essa expressão algumas vezes e, na maioria delas, em tom depreciativo e normalmente acompanhada por um balançar negativo da cabeça em sinal de desaprovação ou condenação. Se por um lado os jovens são propensos a erros e falhas, por outro, que geração é imune a isso? Contudo, parece haver uma vigilância exagerada sobre o que os jovens fazem ou deixam de fazer. Quando um jovem cai em pecado, corre-se o risco de pensar ou dizer algo parecido com a frase do início do texto, sem primeiro vir em mente o sentimento de compreensão e a contrapartida da compreensão, apoio e auxílio.
A Igreja Adventista do Sétimo Dia no Brasil ainda é jovem. Uma pesquisa realizada em 2013 na região Centro-Oeste do país constatou que se, por um lado, a maior parte dos que se tornavam fiéis adventistas tinham até 12 anos (37%), por outro, a perda mais significativa envolvia o público com idade entre 16 e 19 anos (22,6%). Justamente no período em que o jovem geralmente conclui o ensino médio e ingressa no ensino superior ou no mercado de trabalho, seu interesse pela igreja parece diminuir, chegando, em alguns casos, à apostasia. Por que isso acontece? O que pode ser feito para reverter esse quadro? Qual o papel da igreja nesse processo?
Não podemos resumir todo o problema a um único fator, mas dá pra ter uma ideia da situação levando-se em conta os seguintes fatos:
Incoerência familiar – Muitos pais cristãos têm um estilo de vida na igreja e outra totalmente diferente em casa e na comunidade. Essa incoerência afeta negativamente a vida espiritual dos filhos que tendem a ser muito sensíveis a isso. Somando a esse problema vem o fato de que muitas famílias não terem hábito de buscar a Deus juntos através da oração e da leitura da Bíblia.
Tradição morta – Em muitos contextos a igreja está tão embrulhada pela tradição religiosa que a essência do culto de adoração a Deus tem ficado de lado, juntamente com o atendimento às reais necessidades das pessoas. A consequência é que quando o jovem crescer e começar a tomar as suas próprias decisões sem intercessão familiar ele só permanecerá na igreja se ela for relevante, se a congregação coloca em prática a essência da vida cristã no dia-a-dia e se ele conhecer o que significa adorar a Deus.
Falta de engajamento na missão – Em algumas igrejas é possível notar que não existe muito espaço aberto para a participação ativa dos jovens. Em contrapartida, muitos jovens acabam não se envolvendo por falta de interesse próprio. Esses dois problemas, juntos ou isoladamente, acabam fazendo o eles irem ao culto sem uma motivação, o que leva ao chamado esfriamento espiritual.
Falta de comunhão pessoal – Nada substitui o contato diário com Deus. Alguns jovens, por confiar apenas na influência positiva da família e não terem desenvolvido o hábito diário de buscar a Deus, correm o risco de negar a fé quando se encontram em situações que fogem do contexto da qual foram criados.
Pressão do grupo – Amizades não cristãs, namoro com pessoas que não compartilham a mesma fé e ambientes extremamente secularizados exercem influências negativas sobre a vida espiritual do jovem. O que leva ele a ser influenciado pelos costumes não cristãos.
São muitos os fatores que podem levar um jovem a se distanciar de Deus. No entanto, se a família, juntamente com a igreja, cuidar para que os problemas mencionados acima sejam superados, o índice de apostasia entre as moças e os rapazes tem uma grande chance de cair vertiginosamente. Todo jovem sente uma enorme necessidade de pertencer, de fazer parte, de ser aceito e de ser relevante em uma comunidade. Se a igreja entender essas necessidades e buscar supri-las dando espaço, atenção, apoio e amor à vida espiritual deles será diferente.
Engajar os jovens no serviço de apoio à comunidade também será uma forma bastante interessante de manter seu interesse pela vida espiritual e pela igreja. Acima de tudo, que o amor sincero e desinteressado seja a cola capaz de unir as novas gerações às gerações mais maduras. Pois, em Cristo, somos todos um só corpo.