Resumo: Este artigo analisa a compreensão escatológica de Ellen G. White acerca da pessoa e obra do Espírito Santo nos últimos dias da história da Igreja. O autor, num primeiro momento, aborda a evidência textual que demonstra que Ellen G. White cria na pessoalidade e divindade do Espírito Santo, sem a necessidade de evidência sensorial. A seguir, discorre sobre o processo de reavivamento e reforma a ocorrer no tempo do fim sob a “ministração do Espírito Santo”, comparando tipologicamente a “chuva serôdia”, prometida para a última proclamação do evangelho, no fechamento da era cristã, com a “chuva temporã”, derramada nos tempos apostólicos. O autor também chama a atenção para a contrafação da Trindade, predita no livro do Apocalipse como um dos últimos enganos de Satanás, e que, ao mesmo tempo, é uma evidência da Trindade verdadeira.
Introdução
Ellen G. White escreveu sobre uma enorme variedade de tópicos, como refletido em seus livros, artigos, cartas e testemunhos. Contudo, os temas escatológicos,1 como era de se esperar, pela própria natureza do movimento adventista, são uma de suas maiores ênfases. O foco do despertamento adventista, deve-se lembrar, tanto antes como depois de 1844, foi nas profecias do fim do tempo, de Daniel e Apocalipse. Foi desta perspectiva que os adventistas desenvolveram sua identidade teológica, na história do cristianismo.2 Crendo que constituíam um movimento profético com missão especial para o tempo do fim, eles passaram a aplicar a si mesmos a designação de “Igreja remanescente”, “o povo remanescente de Deus”, ou, simplesmente, “o remanescente”.3 Por meio destas designações os adventistas indicaram que se viam como o último segmento da igreja, previsto no capítulo 12 de Apocalipse.
Este trabalho, de forma abreviada, concentra-se na pessoa e função do Espírito Santo em aspectos específicos da escatologia de Ellen G. White, especialmente naqueles ligados ao grande movimento de reavivamento, reforma e seus desdobramentos esperados na vida da Igreja remanescente no tempo do fim. Inicialmente, como introdução, trataremos, de forma geral, do Espírito Santo na compreensão de Ellen G. White. A intenção aqui é sublinhar aspectos gerais de sua pneumatologia como fundamentação necessária para a construção deste artigo. As passagens dos escritos de Ellen G. White utilizadas devem ser vistas como representativas, uma vez que seria impossível esgotar a riqueza do tópico naquilo que ela escreveu. Contudo, tais referências quanto ao Espírito Santo, são suficientes para estabelecer que, para a voz profética aos adventistas, o Espírito Santo é inequivocamente uma pessoa, de quem a Igreja dependerá para o cumprimento de sua missão. O Espírito Santo, em cumprimento da promessa de Cristo relacionada à pessoa e obra do Consolador,4 é visto pela sra. White, como o “o Ministro” das mudanças a serem testemunhadas na vida da Igreja na consumação da obra do evangelho. Qualquer tentativa de suprimir tal ênfase, sob qualquer alegação, não pode ser vista, senão, como parte de uma exagerada má compreensão, senão algo pior, para confundir a Igreja militante de Cristo, precisamente quando o Espírito Santo é da maior urgência e importância.5
O Espírito Santo nos escritos de Ellen G. White
O Index dos Escritos de Ellen White, produzido em Cd-Rom,6 apresenta sob headings como“Holy Spirit” e “Holy Ghost”, além de “Third Person of the Godhead”, nada menos que 10.434 referências na totalidade dos seus escritos disponíveis (aqui não se incluem as referências ao termo “Espírito”, centenas delas relacionadas com a terceira pessoa da Divindade). Evidentemente estaria não apenas fora de propósito, mas de possibilidade, analisar esta enorme variedade de contextos. Entretanto, por si mesmo tal volume de referências deveria servir de advertência à mentalidade simplista dos que, em tempos recentes, acusam a igreja e seus líderes de “adulterarem” os escritos de Ellen G. White quanto ao Espírito Santo e à Trindade.7 Tal sugestão revela uma exacerbada superficialidade. Seria absolutamente impossível adulterar tópico tão central e difuso na teologia de Ellen G. White, sem desfigurar, mutilar e tornar desconexo muito daquilo que ela escreveu. Uma simples análise dos argumentos utilizados na “tese da adulteração”, seria suficiente para desacreditar esta precária ideia, articulada sem lucidez pelos opositores da Segunda Crença Fundamental.8
Além das passagens clássicas do livro Evangelismo e O Desejado de Todas as Nações9 quanto ao Espírito Santo e à Trindade, o livro Atos dos Apóstolos, num poderoso capítulo intitulado “O dom do Espírito”,10 introduz, em projeção tipológica, o papel do Espírito Santo nos últimos eventos descritos na escatologia de Ellen G. White. Essa seção trata da presença e atividade do Espírito Santo no início da história da Igreja Cristã, notoriamente no Pentecostes, considerado pela Sra. White como a “chuva temporã” e como uma antecipação da gloriosa ação do Espírito no fechamento da obra da Evangelho, vista como a “chuva serôdia”.11 Para ela, o grande arco histórico da Igreja é aberto e se fecha com a pessoa e a ação do Espírito Santo.
É óbvio que Ellen G. White, em vários textos, conecta a pessoa do Espírito Santo com a promessa do Consolador do Evangelho joanino, onde o Parákletos é claramente introduzido por Jesus em seu famoso “discurso de despedida” (Jo 13-17) como o “outro Parákletos”, que o substituiria na vida da Igreja.12 “O Salvador”, diz a voz profética ao povo do advento, “estava apontando para o futuro, ao tempo em que o Espírito Santo deveria vir para fazer sua obra como o representante de Cristo. O mal que se tinha acumulado por séculos devia ser resistido pelo divino poder do Espírito Santo.”13 Ellen G. White não se refere ao Espírito Santo como um poder, mas fala do poder do Espírito Santo. De fato, para ela, “o Espírito concede a força que sustenta a alma que se esforça e luta em todas as emergências. (…) Em tristezas e aflições, quando as perspectivas se afiguram negras e o futuro aterrador, e nos sentimos desamparados e sós – é tempo de o Espírito Santo, em resposta à oração da fé, conceder conforto ao coração.”14 Além do óbvio em confirmar as palavras de Cristo quanto à indispensável ação do Espírito (cf. Jo 14:15-17, 26; 15:26-27; 16:7-11, 12-14), é desnecessário indicar que a linguagem, a menos que realmente não se queira ver, não deixa margem para dúvida quanto a estar ela tratando de uma pessoa. Negar tal realidade não é apenas demonstração de falta de percepção teológica, mas basicamente falta de análise literária. Falta de percepção da qualidade dos textos que antitrinitarianos dizem ler. Tais críticos não apenas demonstram inabilidade para ler as entrelinhas de Ellen G. White quanto ao Espírito Santo; eles parecem incapazes de ler corretamente as próprias linhas.
Os textos se multiplicariam, porém Ellen G. White sublinha uma severa advertência aos antitrinitarianos que buscam confirmação sensorial e empírica para a pessoa do Espírito Santo, e tentam reduzir um mistério da revelação a uma precária equação matemática: “Não é essencial que sejamos capazes de definir exatamente o que seja o Espírito Santo.”15 A Sra. White sugere aqui que, se os mistérios divinos precisassem ser entendidos completamente pela falha lógica humana, antes de os podermos aceitar, então seríamos forçados, por tal lógica, a eliminar das Escrituras uma enorme quantidade dos seus ensinos fundamentais: criação especial, dilúvio, êxodo, os dez mandamentos, o sábado, encarnação, nascimento virginal, ressurreição, o segundo advento, e certamente todos os relatos de milagres, simplesmente porque nenhum deles pode ser objeto de verificação dos sentidos. Friedrich Schleiermacher, o conhecido “pai da teologia liberal”, então estaria correto em rejeitar a Trindade, simplesmente porque ele não “podia sentir” tal realidade. “Como poderia alguém sentir três pessoas [na Divindade]?”, arrazoava ele.16 Mas antes de celebrar com Schleiermacher, os antitrinitariamos devem ser informados de que ele também, pela mesma razão e com mais coerência, rejeitou o Segundo Advento, a doutrina do pecado, e outros ensinos do Novo Testamento.17 Schleiermacher, como tantos outros que seguem a ênfase no que eles sentem/entendem, substituiu a transcendência pela imanência. A verdade para Schleiermacher, não vem de cima, da revelação; emerge de dentro, do homem. Para descobrir as doutrinas, ele olhou para dentro da natureza humana, em lugar de depender da Palavra de Deus.
Citando João 15:26 e 16:13, para Ellen G. White é suficiente saber que “Cristo nos diz que o Espírito é o Consolador, o Espírito de Verdade que procede do Pai”, acrescentando: “Declara-se positivamente a respeito do Espírito Santo, que, em sua obra de guiar os homens em toda a verdade, ‘não falará de si mesmo.’”18 Ainda na página seguinte, a Sra. White reverentemente rejeita intrometer-se na intimidade essencial de Deus e daquilo que não foi revelado: “A natureza do Espírito Santo é um mistério. Os homens não a podem explicar, porque o Senhor não no-la revelou.”19 O que mais é necessário, além da clareza inconfundível desta declaração? Que a Divindade fizesse uma petição, solicitando a permissão de uma meia dúzia de “especialistas” para que Ele exista em Trindade, como revelado em sua Palavra infalível? A resposta é óbvia e exige apenas bom senso!
Então, na sequência imediata da citação mencionada acima, na qual Ellen G. White afirma que a natureza do Espírito Santo é um mistério, temos uma forte repreensão aos que pretendem enclausurar Deus no castelo mal construído das suas especulações e arrazoados débeis: “Com fantasiosos pontos de vista, podem-se reunir passagens da Escritura e dar-lhe um significado humano [a respeito do Espírito Santo]; mas a aceitação desses pontos de vista não fortalecerá a Igreja.” Sua compreensão, é, então, levada à conclusão lógica: “Com relação a tais mistérios – demasiado profundos para o entendimento humano – o silêncio é ouro.”20 Ellen G. White parece estar aqui diretamente se dirigindo ao charlatanismo da “teologia” antitrinitariana contemporânea, expressa e defendida com muito zelo mas, deploravelmente, sem qualquer entendimento.21
Ninguém é chamado para explicar aquilo que Deus, em sua sabedoria resolveu não elucidar em todos os detalhes. Devemos lembrar que os cristãos não arrogam possuirem conhecimento absolutode Deus. Dispomos a respeito de Deus apenas de conhecimento necessário. Dispomos somente daquilo que Ele decidiu revelar. Como Lutero22 enfatizava, ao contrário do homem, que usa máscara para se esconder, Deus usa máscara para se revelar. Assim, mesmo quando Ele se revela (Deus Revelatus), Ele continua velado e misterioso (Deus Absconditus) em sua essência infinita. Isto pode ser um duro golpe para a arrogância humana, que gosta de ditar o que Deus pode ou não pode ser e fazer. Mas aqui, a verdade transcende a ficção: sabemos dos mistérios de Deus apenas aquilo que foi revelado, e o que foi revelado é suficiente! O escárnio, as caricaturizações e as irreverências grotescas do antitrinitarianismo devem ser fortemente enfrentados com a convicção de que não pretendemos conhecer, como os velhos escolásticos medievais pensavam, Deus em sua essência, ou o quid sobre Ele. Cremos, como Lutero e Calvino, que Deus em sua essência deve ser deixado de lado, porque realmente são os seus atributos (o qualis) que nos interessam.23 Dizer, “ouvi falar de três mas vejo apenas um”, poderia ser cômico, se não fosse trágico. Tal atitude simplesmente revela uma extraordinária indigência espiritual, para não se falar de outras deficiências, e deixa transparecer nas entrelinhas algo da psicologia do atual antitrinitarianismo da periferia: Eles querem ver! E se este é o caso, deveriam então descartar a Divindade completamente, porque, afinal, eles simplesmente não podem ver. Ponto final! Nem um, dois ou três.
A lógica antitrinitariana indica ainda uma extraordinária confusão entre verdade e realidade, como percebida pelos fracos sentidos e má compreensão humanos. A verdade da revelação se eleva acima da realidade, no nível das nossas limitadíssimas percepções. Esta mentalidade do “ver/entender para crer” foi, ao longo da era cristã, o útero no qual um grande número das heresias foi concebido. Foi porque Ário,24 influenciado pela filosofia grega, não podia “ver/entender” como Deus, sendo imutável, poderia encarnar-se (o que equivaleria, para Ário, a uma mudança, além de uma negação da natureza imaterial de Deus e de sua unidade), que ele “concluiu”, então, que Jesus não podia ser pleno Deus, mas apenas um ser criado! Os docetistas,25 porque não podiam “ver/entender” como a matéria, que é má, e o espírito, que é bom, podiam se unir numa pessoa real, “concluíram” que Jesus não podia ter realidade concreta. Assim, Ele apenas tinha a aparência (do verbo grego dokéo, daí, docetismo), mas não era um ser humano real. Os ebionitas,26 por outro lado, influenciados pelo monoteísmo absoluto dos judeus, porque também não podiam “ver/ entender” como Jesus podia ser Deus, sendo que há apenas um Deus, concluíram que Jesus era apenas um homem, um profeta, no máximo, “adotado” por Deus em seu batismo.
Aqui, entretanto, os antigos ebionitas, como Ário (para não falar das modernas testemunhas de Jeová), eram mais consistentes que os antitrinitarianos mal-informados dos nossos tempos, os quais não passariam num teste de lógica básica. Aqueles (os ebionitas), ao menos afirmavam o monoteísmo absoluto, sem nenhuma concessão a uma segunda pessoa na Divindade, em igualdade com o único Deus que eles defendiam na sua formulação equivocada de unidade. A versão piorada e confusa dos antitrinitarianos recentes, recita com fervor zelote o shema judaico como entendido por eles mesmos, dentro da ideia de unidade matemática (ignorando o significado bíblico de unidade composta), mas, ao mesmo tempo, subvertem todo argumento deles, aceitando na Divindade a segunda pessoa da Trindade bíblica. Afinal, pode-se devolver a eles uma outra versão de sua fórmula: “Falam de um, mas vemos dois!” Isto é, uma curiosa “bindade”, ou uma “trindade” de “dois terços.” Aqui encontramos aquele tipo de inconsistência comum entre evangélicos em oposição aos Dez Mandamentos: para eliminarem o quarto mandamento da lei, ora argumentam que a “lei foi abolida”, ora que hoje “vivemos debaixo da graça”, ou, ainda, que “Jesus cumpriu a lei”. Contudo, como tal discurso não pode ser sustentado sem contradição à luz do ensino bíblico (que continua condenando o adultério, furto, idolatria, falso testemunho, etc), eles dão uma volta, e reaparecem com um “decálogo” de “nove mandamentos”, por mais incoerente que isto pareça. Assim, ao mesmo tempo que fazem infundadas acusações aos que aceitam os Dez Mandamentos, completos, na íntegra, dez, preto no branco, eles mesmos, na prática aceitam “nove ávos” da lei que a retórica deles diz ter sido “abolida por Cristo”, “cravada na cruz”, e “desnecessária sob o novo concerto”. Francamente!
No século 16, o teólogo calvinista Jerônimo Zanchi, para provar a doutrina da predestinação, arrazoou que Deus é onipotente e onisciente – isto quer dizer: pode tudo e sabe tudo. Portanto, Deus sabe e determina tudo o que há de acontecer e, assim, não existe tal coisa como liberdade humana. O que Zanchi fez com tal argumento foi pretender que Deus tenha que se ajustar à nossa compreensão da onisciência e da onipotência. Mas o certo é que, se Deus é de verdade onipotente, Ele não tem por que se moldar aos argumentos de Zanchi ou de qualquer outro. Se Deus é verdadeiramente onisciente, Ele saberá como permitir que exista a liberdade humana, ainda quando o sistema de Zanchi não der lugar a ela.27 Da mesma forma, as aparentes “contradições” atribuídas ao ensino bíblico da Trindade não passam de invenções humanas criadas pela rebelião contra o que está revelado. Em todas estas situações, como no caso dos antitrinitarianos que “vêem apenas uma pessoa”, observa-se o triunfo da idolatria humana, pretendendo engessar Deus nas ideias e conceitos que eles mesmos articularam, e às quais, eles pensam, Deus é obrigado a submeter-se.
Ainda na sequência do texto mencionado acima, Ellen G. White, indica que “o Espírito é dado como agente de regeneração, para tornar efetiva a salvação operada pelo nosso Redentor”.28 Ele busca “atrair os homens para a grande oferta feita na cruz do Calvário”.29 É Ele quem “afasta as afeições das coisas desta terra e enche a alma com o desejo de santidade”.30 E ainda: “É o Espírito Santo quem tomará as coisas de Deus e lhas gravará na alma. Por seu poder o caminho da vida se tornará tão claro que ninguém o errará.”31 Tal linguagem não pode estar se referindo a mera “influência”, “força”, “fôlego” ou, como em algumas versões antitrinitarianas ainda mais confusas, a “um anjo”. A Sra. White está em harmonia aqui com o pensamento teológico clássico, que entende o Espírito Santo no papel de Santificador, ao lado do Pai, como criador, e de Cristo como redentor, ideia comum nos compêndios de teologia sistemática.
Ellen G. White expressa a sua percepção tipológica da ação do Espírito Santo no início da história da Igreja em correlação com sua poderosa atividade e presença na consumação da obra do evangelho. “O derramamento do Espírito nos dias dos apóstolos foi o começo da primeira chuva, ou temporã, e glorioso foi o resultado. Até ao fim do tempo, a presença do Espírito deve ser encontrada na verdadeira igreja.”32 Ao aproximar-se “o fim da ceifa da Terra”, ela observa, “uma concessão especial de graça espiritual é prometida a fim de preparar a igreja para a vinda do Filho do homem. Esse derramamento do Espírito é comparado com a queda da chuva serôdia.”33 E a todo discípulo consagrado o Senhor “concederá a presença do seu Espírito, com seu poder vivificante e santificador”.34 Para Ellen G. White, o último capítulo da atuação do Espírito Santo não foi escrito com o segundo capítulo do livro de Atos, ou com a morte do grupo original dos apóstolos de Cristo.
Ellen G. White observa que no Pentecostes o “Espírito Santo, assumindo a forma de línguas de fogo, repousou sobre a assembleia. Isto era um emblema do dom então outorgado aos discípulos, o qual os capacitava a falar.”35 “O Espírito Santo”, ela afirma, “fez por eles [os discípulos] o que não teriam podido fazer por si mesmos em toda a existência”.36 De fato, em uma única hora, o Espírito Santo operou nos discípulos a transformação, o “reavivamento e reforma” que três anos de comunhão com Jesus não tinham completado. Mediante a instrução do Espírito, eles receberam a habilitação final para o cumprimento da grande comissão evangélica. Não é de admirar a surpresa da Sra. White face à indiferença geral da Igreja quanto ao precioso dom objeto da promessa de Cristo, como seu divino substituto: “Uma vez que este [o Espírito Santo] é o meio pelo qual havemos de receber poder, por que não sentimos fome e sede pelo dom do Espírito? Por que não falamos sobre Ele, não oramos por Ele, e não pregamos a seu respeito?”37 Ellen G. White ficaria muito mais surpresa, contudo, se além da indiferença, ela vivesse para presenciar a aberta rejeição e descrença no Espírito Santo em alguns círculos adventistas de hoje, embora já em seus dias ela advertisse: “Cumpre-nos ser muito cuidadosos de não ofender o Espírito de Deus.”38 Precisamente porque, para ela, “o inimigo opera com todas as suas enganadoras energias para anular o efeito da profunda operação do Espírito de Deus no ser humano”.39
O Espírito Santo no tempo do fim
Gerhard Pfandl40 observa que o paradigma escatológico de Ellen G. White, construído sobre o fundamento do método historicista de interpretação profética, organiza-se em três segmentos sequenciais, cada um deles com eventos distintos: (1) o tempo de juízo investigativo ou pré-advento, que termina com o fechamento da porta da graça; (2) o grande tempo de angústia, que toma lugar após o esgotar-se do tempo de graça, e que culmina com o segundo advento de Cristo; e, finalmente, (3) o milênio, que tem seu início após a parousia, e envolve os últimos eventos do drama das eras com a ressurreição dos ímpios, a destruição final deles, e a plena restauração do paraíso perdido.
Como indicado anteriormente, depois de breve consideração sobre a visão de Ellen G. White quanto à pessoa do Espírito Santo e sua ação nas origens da Igreja Cristã, voltamos a atenção agora para sua percepção quanto ao papel do Espírito Santo nos eventos finais, que tomam lugar dentro do primeiro período de sua estrutura escatológica. Novamente, seria impossível aqui dar detalhado tratamento à extensa amplitude do tema, com desdobramentos que se estendem deste o início da obra do juízo pré-advento, em 1844, com o término da grande cadeia profética de Daniel 8:14, até o fechamento da porta da graça (Ap 22:11). Portanto, limitamos a atenção nesta seção aos temas relacionados com o reavivamento e à reforma na Igreja, a chuva serôdia, ao alto clamor e à sacudidura, todos eles intimamente relacionados com a pessoa do Espírito Santo.
Sem pretender exaurir o tema deste estudo, em sua convergência com incontáveis referências difusas e assistemáticas sobre a terceira pessoa da Trindade, as citações utilizadas aqui são suficientes para se estabelecerem dois fatos: (1) a teoria da falsificação de textos de Ellen G. White para provar a pessoa do Espírito Santo, é absolutamente insustentável; (2) para o dom profético manifesto em Ellen G. White, Espírito Santo não pode ser outra coisa senão uma pessoa, poderosamente ativa na proporção em que a cortina desce sobre as últimas cenas da história humana e sobre a vida da Igreja. Como descrito em O Grande Conflito: “A obra será semelhante àquela do dia do Pentecostes. Como a ‘chuva temporã’ foi dada no derramamento do Espírito Santo na abertura do evangelho, para causar a germinação do precioso grão, a ‘chuva serôdia’ será dada no seu fechamento, para o amadurecimento da colheita.”41 Como afirmado em outro contexto, para a Sra. White, “o derramamento do Espírito Santo no dia do Pentecostes foi a chuva temporã, porém a chuva serôdia será mais copiosa”.42
Reavivamento e reforma, sob a ministração do Espírito Santo
Qual poderia ser considerada a maior necessidade da Igreja, vivendo no tempo do fim? Contrariamente ao que muitos – dominados por noções pragmáticas ou pelas ideias de “gestão empresarial”, e que entendem tal necessidade em termos de mais recursos, membros influentes, melhores instalações, mais acesso aos meios de comunicação – poderiam pensar, Ellen G. White apresenta outro quadro, de compreensão puramente espiritual: “Um reavivamento da verdadeira piedade entre nós, eis a maior e a mais urgente de todas as nossas necessidades. Buscá-lo deve ser a nossa primeira ocupação.”43 Todo o parágrafo, devemos observar, sugere que tal reavivamento está conectado com a pessoa e obra do Espírito Santo, o substituto de Cristo, prometido para guiar a Igreja. Não é de admirar que a Sra. White, depois de afirmar que a busca de tal experiência deve ser prioridade na vida dos discípulos de Cristo, indica que “nosso Pai celeste está mais disposto a conceder o seu Espírito Santo àqueles que lho peçam, do que pais terrenos o estão a dar boas dádivas ao seus filhos”.44
Tal experiência é vista como algo tão vital que ela chega a afirmar que “o povo de Deus não suportará o teste a menos que haja um reavivamento e reforma”. De fato, ela continua: “O Senhor não admitirá nas mansões celestiais que Ele está preparando para os justos, uma alma que seja auto-suficiente.”45 Ellen G. White, contudo, considerando a importância do reavivamento/reforma na experiência da Igreja no final de sua história, não deixa a noção aberta, para que isto se torne uma questão de opinião; e informa precisamente como isso deve se realizar: “Um reavivamento e reforma devem acontecer sob a ministração do Espírito Santo.”46 Um pouco mais no final do parágrafo do livro Serviço Cristão, onde ocorre este texto revelador, depois de definir o significado da reforma como uma renovação espiritual, Ellen G. White acrescenta: “Reforma não trará qualquer bom fruto de justiça, a menos que ela esteja conectada com o reavivamento do Espírito.”47
No mesmo capítulo em que discute o reavivamento/reforma, no livro Mensagens Escolhidas (vol. 1), ela coloca o indicador em alguns aspectos fundamentais quanto à maior necessidade na vida da Igreja: (1) “Enquanto o povo se acha tão destituído do Espírito Santo de Deus, não pode apreciar a pregação da Palavra.”48 Ellen G. White aqui conecta o Espírito Santo com o poder transformador da Palavra que Ele próprio inspirou (2Pe 1:21). Lutar contra o Espírito Santo é equivalente a permanecer insensível aos apelos da Palavra, pois é o Espírito Santo quem elucida e interpreta a Palavra (1Co 2:10). (2) No mesmo contexto, ela faz uma outra conexão vital: “Só podemos esperar um reavivamento em resposta à oração.”49 Assim, a Palavra e a oração, ambos vistos nas Escrituras como instrumentos do Espírito Santo (Ef 6: 17,18; cf. Jo 14:26; Rm 8:27), não podem ser apreciados por aqueles que, de uma forma ou de outra, rejeitam o Espírito Santo. (3) Ellen G. White estabelece ainda uma ligação entre o reavivamento e o arrependimento: “Levante-se a igreja e arrependa-se de suas prevaricações diante de Deus. Deve haver diligente exame do coração.”50 Mas novamente devemos observar que o arrependimento (metanoia, literalmente mudança de mente), não é algo natural ao homem. Para Jesus e o Novo Testamento, o arrependimento é também resultado da ação do Espírito Santo, iluminando a mente e o coração (Jo 16:8). Assim, a Palavra, a oração e o arrependimento, não estão apenas conectados entre si no cenário dos últimos eventos, mas sobretudo intimamente conectados com a ação do Espírito Santo.
Outro aspecto a ser cuidadosamente observado é o de que no mesmo capítulo, poucas páginas depois da passagem crucial quanto à prioridade do reavivamento/reforma na Igreja, como antecipação da poderosa proclamação que preparará a colheita da terra sob a ministração do Espírito Santo, a Sra. White observa que tal reavivamento/reforma e seus desdobramentos não virão sem obstáculos:
Não há coisa alguma que Satanás tema tanto quanto que o povo de Deus desimpeça o caminho mediante a remoção de todo impedimento, de modo que o Senhor possa derramar seu Espírito sobre uma languescente Igreja e uma congregação impenitente. Se Satanás pudesse fazer o que ele queria, nunca haveria outro despertamento, grande ou pequeno, até o fim do tempo.51
Assim, se colocarmos todas estas ideias juntas, o quadro não poderia ser mais claro:
A igreja de Cristo aguarda um segundo Pentencostes, o qual, à semelhança do primeiro descrito no livro de Atos, deve acompanhar a poderosa proclamação final do evangelho eterno. A obra de renovação espiritual, que há de preparar a Igreja para os últimos eventos de sua história, está intimamente ligada à Palavra, à oração e ao arrependimento. Estes, por sua vez, devemos observar, são precisamente os meios pelos quais o Espírito Santo opera, como apresentado pelo Novo Testamento. Não é de surpreender que tal movimento de reforma e reavivamento deva acontecer sob “a ministração do Espírito Santo”, utilizando os seus canais regulares de operação. Por outro lado, Ellen G. White desmascara a intenção do inimigo em sabotar tal movimento na Igreja. Não precisaríamos de muita imaginação para entender que tal estratagema não poderia ser melhor sucedido em um plano de ataque, do que ser dirigido precisamente contra o divino agente do esperado reavivamento/reforma: o Espírito Santo. Tentar confundir a compreensão da Igreja neste aspecto crucial, com heresias e ideias falsas a respeito do Espírito Santo, fere o âmago da questão e fatalmente teria um desastroso efeito sobre a Igreja.
Ellen G. White não deixou sem advertência os perigos de ensinos contrários à revelação.
Homens e mulheres se levantarão professando possuírem nova luz ou uma nova revelação, cuja tendência é perturbar a fé nos antigos marcos. A doutrina deles não apresenta o teste da Palavra de Deus e, contudo, almas serão enganadas.52
E ainda: “Ele [Deus] não dá a um homem nova luz contrária à fé estabelecida do corpo.”53 Além disto, “Deus não abandonou seu povo escolhendo um aqui e outro acolá, como os únicos dignos de serem os depositários de sua verdade.”54 A dissidência antitrinitaniana, com seu deboche e irreverência, cumpre um papel no plano do dragão, em sua luta contra o remanescente (Ap 12).
Pentecostes II A chuva serôdia
O Espírito Santo, a terceira pessoa da Trindade, como o enviado e representante pessoal de Deus e de Jesus (“Espírito de Deus” e “Espírito de Jesus” enfatizam primariamente não posse, mas procedência, porque Ele seria o enviado do Pai e de Jesus, como o próprio Cristo havia prometido em seus ditos relacionados ao Parákletos), supera todos os outros dons divinos. No Novo Testamento, o Espírito Santo não apenas é designado por características que claramente indicam sua personalidade – Ele tem conhecimento das coisas divinas (1Co 2:1); perscruta (1Co 2:10); convence (Jo 16:8); tem mente (Rm 8:27); conhece, sonda, assiste, intercede (Rm 8:16, 14, 26); pode ser entristecido (Ef 4:30); é resistido e tentado (At 5:9; 7:51); pode ser difamado e blasfemado (Mt 12:31; 32); é nomeado entre outras pessoas (como em Mt 28:19,20; 2Co 13:14, 1Ped 1:2) –, mas é apresentado também com uma enorme variedade de funções relacionadas com a proclamação do Evangelho e a conversão – o Espírito Santo ensina (Lc 12:12, Jo 14:26); Ele guia na pregação do Evangelho (At 8:29; 13:2; 16:6,7); ilumina a mente no estudo da Palavra (Jo 14:26; 16:13); habilita com dons indispensáveis para a proclamação da salvação (At 2:3 e 4); administra e distribui dons (1Co 12:11); comissiona (At 13:2, 4; 20:28); testemunha (Jo 15:26); intercede (Rm 8:26); anuncia (Jo 16:14 e 15); habilita os filhos de Deus a proclamarem o evangelho com sucesso e poder (At 1:8); relembra as verdades das Escrituras em momentos de necessidade (Jo 14:26, Mc 13:11); convida (Ap 22:17). Um estudo de todas estas passagens leva à conclusão inescapável de que sem o Espírito Santo não há pregação efetiva e muito menos conversão.
Por que Deus enviou o Espírito Santo? Tal pergunta permite mais do que uma única resposta. Das páginas do Novo Testamento, fica absolutamente claro, em primeiro lugar, que o Espírito veio aos cristãos individualmente, para criar neles uma qualidade de vida que, de outra forma, estaria completamente fora do poder humano. Em segundo lugar, o Espírito Santo foi enviado à comunidade cristã, a Igreja, para unir os cristãos em um tipo de comunhão desconhecida e sem paralelo em qualquer outro grupo. Mas, como Michael Green, em seu extraordinário livro I Believe in the Holy Spirit (Creio no Espírito Santo), observa:
De um cândido exame dos registros do Novo Testamento, não pode haver qualquer dúvida de que o propósito primário da vinda do Espírito Santo sobre os discípulos foi equipá-los para a missão. O Confortador não vem para que os homens se tornem confortáveis, mas para torná-los missionários.55
Em dois capítulos, Green faz uma cuidadosa análise dos Evangelhos, do livro de Atos e das Epístolas em geral, concluindo que “the Holy Spirit is for mission” (o Espírito Santo é para a missão).56 O próprio livro bíblico de Atos dos Apóstolos poderia corretamente ser entitulado “Atos do Espírito Santo”, porque no livro de Atos, o Espírito Santo é o grande agente da missão da Igreja.57Deve-se notar que a ascensão (At 1:6-11), não é apresentada como se a cortina estivesse caindo sobre a vida de Jesus. Ao contrário, aqui a cortina se levanta para deixar o Espírito Santo no centro da cena. Como prometida, a era do Espírito tem início precisamente nesse ponto (Jo 7:39). Assim como o próprio Jesus fora ungido com o Espírito no início do seu ministério (Mt 3:16; Lc 3:22, cf. At. 10:38), a Igreja é ungida em seu início com o Espírito Santo, para o cumprimento de sua missão, como poderosamente testemunhado no capítulo 2 de Atos, e nos seus desdobramentos.
Ellen G. White vê na concessão do Espírito Santo aos discípulos originais para a grande obra de pregação do Evangelho, um cumprimento do que fora prometido pelos profetas hebreus no Antigo Testamento: “O derramamento do Espírito nos dias dos apóstolos foi o início da chuva temporã, e glorioso foi o resultado”58 (cf. Jl 2:28,29). Realmente, o Pentecostes I foi aquilo que fora prefigurado em sua tipologia: a dedicação dos primeiros frutos a Deus.59 Tal cumprimento não deve ser visto apenas em termos do número dos batizados (At 2:41), mas na própria amplitude geográfica das etnias representadas em Jerusalém, “vindos de todas as nações de debaixo do céu” (At 2:5). Além disso, sob a ação do Espírito Santo, cada um dos obstáculos começou a cair. O próprio obstáculo da língua foi vencido sob a poderosa manifestação do dom de línguas, que ungiu o início da pregação do evangelho.60 Lucas não diz que foram os apóstolos que iniciaram a missão. Eles apenas aguardaram em Jerusalém até que o Espírito viesse sobre eles. Não foram os apóstolos que cumpriram a ordem de Cristo de “pregar a todas as nações”. Ao contrário, foi um ex-fariseu convertido que iniciou a gigantesca obra missionária sob a direção do Espírito Santo. Não foram os apóstolos em Jerusalém que jamais sonharam em alcançar eunucos ou samaritanos, mas foi o Espírito quem os guiou em tal missão. A lista pode continuar e, em cada caso, a inciativa da pregação das boas novas está com o Espírito Santo. Não é por acaso que para Ellen G. White, “ até o fim do tempo, a presença do Espírito Santo deve permanecer com a Igreja verdadeira”.61
Ellen G. White ainda indica que o Espírito Santo não apenas assistirá a Igreja na derradeira proclamação do evangelho. Para ela, a “chuva serôdia”, sob a ação do Espírito, também “dará poder para a grande voz do terceiro anjo e preparará os santos para estarem de pé no período quando as sete últimas pragas serão derramadas”.62 Em outro contexto ela continua: “É a chuva serôdia que revive [os discípulos de Cristo] e os fortalece a passarem pelo tempo de angústia. Suas faces brilharão com a glória desta luz como acompanha o terceiro anjo.”63 Segundo Ellen G. White, no tempo do fim,
a obra será semelhante àquela do dia do Pentecostes. Quando a ‘chuva temporã’ foi dada, com o derramamento do Espírito Santo na abertura do evangelho para causar o crescimento da preciosa semente, assim ‘a chuva serôdia’ será dada no final, para o amadurecimento da colheita.64
Portanto, assim como seria inimaginável o Pentecostes de Atos sem a Pessoa do Espírito Santo, da mesma forma é inconcebível imaginar o fechamento da obra do evangelho, independente da direção e atuação do Espírito Santo, a poderosa terceira pessoa da Trindade.
Ellen White insiste que o Pai está desejoso de “conceder o Espírito Santo”.65 A vinda do Espírito Santo sobre a Igreja, segundo a voz profética ao remanescente, pode ser uma experiência atual: “É privilégio da Igreja ter [tal experiência] agora.”66 A promessa é para todos, e o tempo é hoje: “Nesta mesma hora seu Espírito e sua graça se acham à disposição de todos quantos deles necessitam…”67 Em O Desejado de Todas as Nações, Ellen G. White observa que “Cristo prometeu o dom do Espírito Santo à sua Igreja, e a promessa pertence tanto a nós quanto aos primeiros discípulos.”68 Mas há, por outro lado, condições para isto: “O Espírito trabalha no coração do homem de acordo com seu desejo e consentimento…”69 Para a voz profética ao remanescente, sem qualquer dúvida,
antes da última visitação dos julgamentos divinos sobre a terra, haverá entre o seu povo tal reavivamento da primitiva piedade que não foi testemunhada desde os tempos apostólicos.
Mas ela acrescenta:
A menos que diariamente estejamos progredindo na exemplificação das ativas virtudes cristãs, não reconheceremos as manifestações do Espírito Santo na chuva temporã. Ela pode estar caindo nos corações ao nosso redor, e não a discernirmos ou a recebermos…70
Ellen G. White, em vários dos seus escritos, indica condições para recebermos o Espírito Santo no tempo do fim, como ter a disposição para recebê-lo71 e desejarmos sua plenitude: “Quando a necessidade do Espírito Santo é uma questão de pouca atenção, há na igreja aridez e trevas espirituais, declínio e morte.”72 Assim, ironicamente, por negligência podemos sofrer a falta daquilo que nos é oferecido em infinita plenitude. Contudo, “o Espírito Santo virá a todos quantos pedem o pão da vida para o dar aos semelhantes”, partilhando-o no testemunho missionário.73
O grande derramamento do Espírito de Deus, o qual ilumina a Terra com sua glória, não ocorrerá sem que tenhamos um povo esclarecido, que conheça por experiência o que representa ser cooperador de Deus. Quando tivermos uma consagração completa, de todo coração ao serviço de Cristo, Deus reconhecerá este fato por um derramamento sem medida do seu Espírito.”74
Apenas “aos que que esperam humildemente em Deus, que estão atentos à sua guia e graça, é concedido o Espírito.”75 O mesmo texto indica que não é suficiente falar sobre o Espírito Santo, mas se deixar guiar pelas agências divinas. Segundo Ellen G. White, não haverá limite para aquele que abandonando a idolatria do eu, “abre margem para a operação do Espírito Santo em seu coração, e vive uma vida inteiramente consagrada a Deus”.76
Tais referências, por sua diversidade e variedade de contextos, indicam claramente como a Sra. White entendeu a pessoa e obra do Espírito Santo no esforço final da Igreja para o cumprimento da comissão evangélica. Por outro lado, esta diversidade e variedade de contextos subverte completamente a tese de “adulteração” dos ensinos de Ellen G. White quanto ao Espírito Santo, expondo sua fragilidade e precariedade.
Talvez esta seção possa ser concluída com duas claras citações, indicando a maneira como o dom profético aos adventistas entendeu o Espírito Santo. Primeiro, no contexto em que discute a pregação do evangelho a todas as nações, ela declara que “a verdade armada com a onipotência do Santo Espírito seria vitoriosa na batalha contra o mal”.77 Qualquer pessoa com um treino básico em teologia entende que onipotência é um dos atributos incomunicáveis da Divindade. Falando do Espírito Santo como onipotente, Ellen G. White não pode estar falando de outra coisa senão que Ele, o Espírito Santo, é Deus, partilhando de um atributo verificado apenas na Divindade. Segundo, discutindo a promessa de Cristo quanto ao dom do Espírito Santo, ela indica: “Nós não podemos usar o Espírito Santo. O Espírito Santo é que deve nos usar.”78 Este foi o engano básico de Simão, o mágico, confundindo a pessoa do Espírito Santo com um mero poder que pudesse ser adquirido e manipulado (cf. At 8:17-20). Por ser o Espírito Santo um ser pessoal é Ele quem dispõe daqueles com quem pode contar, nunca o contrário!
A Trindade contrafeita
É surpreendente que, enquanto o judaísmo oficial dos dias de Jesus não reconheceu a sua verdadeira identidade, como o esperado Messias e Deus encarnado, o diabo e seus anjos nunca falharam em distinguir Jesus como o Filho de Deus, o Santo do Altíssimo. Em algumas circunstâncias os demônios chegam a declarar: “Sei quem tu és” (oida se tis ei). Ou como em Lucas 4:41: “Também de muitos saíam demônios, gritando e dizendo: Tu és o Filho de Deus! Ele, porém, os repreendia para que não falassem, pois sabiam ser Ele o Cristo.” Esta passagem, como Valtair Miranda observa em seu interessante artigo “A cristologia dos demônios”, possibilita fazermos a leitura inversa, e pensar sobre o conhecimento que Jesus tinha dos demônios: “Desse texto podemos extrair que Jesus sabia que os demônios sabiam quem ele era.”79
Da mesma forma, no livro do Apocalipse o próprio demônio reconhece a veracidade da Trindade, a ponto de buscar contrafazê-la em uma reencenação dos seus personagens. O capítulo 12 do Apocalipse descreve o cenário do fim em termos de uma controvérsia cósmica: o dragão vermelho, com sete cabeças e dez chifres e sobre as cabeças sete diademas. Viu-se também a mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça (v. 1-2). A guerra movida pelo dragão focaliza em particular “aqueles que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus” (v. 17). Deve-se observar, contudo, que neste conflito o diabo não está sozinho. Ele entra em campo com toda a sua artilharia pesada. Nos desdobramentos dos capítulos que seguem, descobrimos que neste conflito final, o inimigo, grande colecionador de derrotas, reúne os seus aliados: a besta que subiu do mar e a besta que subiu da terra (Ap 13:1-18).
O quadro aqui é de uma trindade: o dragão, a besta que subiu do mar e a besta que subiu da terra. Da mesma forma como as Escrituras descrevem Deus em Trindade (o Pai, o Filho e o Espírito Santo), o Apocalipse pinta o quadro do último conflito descrevendo os oponentes em termos de uma contrafação da verdadeira Trindade. O primeiro personagem, o dragão, é Satanás, que pretende ser uma contrafação de Deus, o Pai. Ele buscou ser igual a Deus no início (Is 14:12-14). Em sua tentativa de ser uma alternativa a Deus, ele tornou-se o deus deste século (2Co 4:4).
O segundo personagem da trindade demoníaca é introduzido em Apocalipse 13:1 com a besta que emerge do mar.
E eu pus-me sobre a areia do mar e vi subir do mar uma besta que tinha sete cabeças e dez chifes e sobre os crifres dez diademas, e sobre as cabeças um nome de blasfêmia. E a besta que vi era semelhante ao leopardo e os seus pés como os de urso e a sua boca como a de leão. E o dragão deu-lhe o seu poder e o seu trono e grande poderio.
É curioso que esta besta que surge do mar seja uma imagem perfeita do dragão. Como o dragão, ela também tem sete cabeças e dez chifres. Nos evangelhos, Jesus é a imagem do Pai (Jo 14:9). Em outros textos do Novo Testamento, “Ele [Jesus] é a imagem de Deus” (2Co 4:4, cf. Fp 2:6).
Na trindade falsa o segundo personagem é uma contrafação de Jesus Cristo. Como tal poder é identificado? Na história do Cristianismo apenas uma entidade se ajusta a esta descrição, pretendendo ser Cristo, perdoando pecados, arrogando ter em suas mãos as chaves do reino, por meio do sistema sacramental. Este poder instituiu na terra uma paródia do verdadeiro santuário, onde a obra da redenção é levada a efeito pela mediação de Cristo. Não é por acaso que esta besta tinha um nome de blasfêmia. Blasfêmia na linguagem bíblica é aplicada à pretenção de igualdade com Deus, em poder para perdoar pecados (cf. Mc 2:7). A besta que surge das muitas águas, é o mesmo chifre pequeno de Daniel 8. Ela é uma composição de outros animais, o leão, o urso e o leopardo, descritos em Daniel 7, porque incorpora aspectos dos inimigos do povo de Deus, em todos os tempos.
Apocalipse 13 oferece outros detalhes da semelhança entre a segunda pessoa da trindade contrafeita, e a segunda pessoa da verdadeira Trindade. Ela também sofre uma ferida mortal, da qual é restaurada. Assim, ela também reencena a morte e ressurreição de Jesus. Seu poder, ou “ministério”, em contrafação ao ministério de Cristo, à semelhança da segunda pessoa da verdadeira Trindade, teve também uma duração de “três anos e meio”, ou 1260 anos, ou ainda 42 meses proféticos (v. 5). O simbolismo bíblico não poderia ser mais explícito. O que vemos aqui é uma contrafação de Cristo, descrita não apenas em termos da posição de Jesus dentro da Trindade, como a “imagem do Pai”, mas também em termos da duração do seu ministério, de sua morte e ressurreição.
Se o dragão é a contrafação de Deus, o Pai, e se a besta que sobe do mar é a contrafação de Deus, o Filho, então a seqüência lógica é a de que a besta que subiu da terra no verso 11 de Apocalipse 13 é a contrafação do Espírito Santo. “E vi subir da terra outra besta e tinha dois chifres semelhantes aos de um cordeiro e falava como dragão.” A palavra “cordeiro” aparece 29 vezes no Apocalipse, 28 das quais são referências a Cristo. A outra referência aparece aqui (Ap 13:11). Esta besta também é parecida com Cristo. No quarto evangelho, o Espírito Santo é chamado de Parákletos, o Consolador. Em João 14:16, O Espírito Santo é chamado de “outro Consolador”. A obra do Espírito Santo é continuar a obra de Cristo na vida dos seus discípulos. No Apocalipse, esta besta que surge da terra, é semelhante a um cordeiro. “Ela exerce todo o poder da primeira besta na sua presença e faz que a terra e os que nela habitam adorem a primeira besta, cuja chaga mortal foi curada” (v. 12).
Assim, como o Espírito Santo não fala de si, mas de Cristo (Jo 16:13), esta segunda besta, a contrafação do Espírito Santo, promove a primeira besta, age sob o seu poder e pelos seus interesses. É evidente que o dragão, a besta do mar e a besta da terra juntas são retratadas de maneira deliberada como uma contrafação à Trindade verdadeira. Ainda em Apocalipse 13:13 lemos desta besta que surgiu da terra: “Também opera grandes sinais, de maneira que até fogo do céu faz descer à terra, diante dos homens.” Foi o Espírito Santo quem trouxe fogo do Céu à terra, ungindo os discípulos no Pentecostes (At 2). O que vemos aqui, não é apenas uma contrafação do Espírito Santo, mas uma reencenação do próprio Pentecostes.
Os textos indicados neste pequeno sumário sugerem que haverá no final uma megaobra de contrafação e engano, que envergonha nossas ideias paroquiais sobre o que está para sobrevir ao mundo. O verso 14 acrescenta palavras descritivas desse poder que simula o Espírito Santo:
E engana os que habitam na terra com sinais que lhe foi permitido que fizesse em presença da besta, dizendo aos que habitam na terra, que fizessem uma imagem à besta que recebera a ferida de espada e vivia. (…) E foi concedido que desse espírito à imagem da besta para que também a imagem da besta falasse e fizesse que fossem mortos todos os que não adorassem a imagem da besta.
Para os adventistas do sétimo dia, com um conhecimento básico do livro do Apocalipse, enquanto a primeira besta, que simula a segunda pessoa da Trindade, tem sido tradicionalmente identificada como a Igreja de Roma, a segunda, simulando o Espírito Santo, a terceira pessoa da Trindade bíblica, tem sido interpretada como o protestantismo moderno, com sua extraordinária ênfase em milagres, prodígios e dom de línguas, precisamente marcas da operação do Espírito Santo e do Pentecostes. O quadro deste grande conflito final é completo, e ganha cores ainda mais vivas em Apocalipse 16:13 a 16:
E vi sair da boca do dragão, da boca da besta e da boca do falso profeta, três espíritos imundos, semelhantes a rãs, porque eles são espíritos de demônios operadores de sinais, e se dirigem aos reis do mundo inteiro com o fim de ajuntá-los para a peleja do grande Dia do Deus Todo-Poderoso.
Aqui encontramos a mesma contrafação da trindade do Apocalipse 12 e 13. Os mesmos personagens, agora armados com três espíritos imundos, a contrapartida diabólica dos três anjos do Apocalipse 14. Deve-se lembrar que no Apocalipse 14:6-9, temos o relato das três mensagens angélicas. Em outras palavras, no final, o conflito cósmico será uma Trindade contra outra trindade, cada uma delas armada com três anjos, cada uma empenhada em sua proclamação final. Cada grupo de anjos tem uma missão que envolve o mundo todo (Ap 14:6 e 16:14). O primeiro trio convoca o mundo todo a adorar ao Deus verdadeiro, o outro reúne multidões para o serviço da trindade falsa.
O espaço não permite elaboração mais ampliada do quadro apocalíptico da crise dos séculos. Mas as lições são óbvias: como no caso dos demônios dos dias de Cristo, que nunca falharam em reconhecer sua verdadeira identidade, Satanás, como descrito no Apocalipse 13 a 16, reconhece Deus como uma Trindade, e é assim que organiza o seu último ataque para enganar a todo o mundo, se possível “até os escolhidos”, antes do fechamento da porta da graça. O surpreendente é que como os fariseus dos dias de Cristo, que não o reconheceram, os antitrinitarianos adventistas, ao contrário dos próprios demônios, não vêem o ensino claro da Trindade, aquilo que até o inimigo reconhece, e busca imitar. Como sabemos, o falso existe apenas em contrafação ao verdadeiro. Em outras palavras, não existe a falsificação daquilo que não existe. Assim, o falso, a contrafação, apenas dão testemunho em favor da existência do verdadeiro e genuíno.
Conclusão
Tentamos neste artigo sugerir, de forma abreviada, a amplitude e alcance da compreensão de Ellen G. White quanto ao Espírito Santo e à Trindade. Tal complexidade de referências e contextos, por si mesma, levanta uma séria advertência aos proponentes da noção da “adulteração” dos seus escritos quanto a estes tópicos. A própria forma difusa e assistemática das referências com relação ao Espírito Santo, desacredita a falácia de que as citações claras foram “temperadas” pela Igreja e sua liderança em período posterior. Por outro lado, vimos que Ellen G. White rejeita qualquer tentativa de comprovação sensorial para uma verdade da revelação. Para a voz profética ao remanescente, o Espírito Santo, como a própria Divindade, envolve mistérios não revelados, e isto não deveria vir como surpresa ao estudante humilde e despreconceituoso das Escrituras.
Além disso, este artigo focalizou alguns aspectos da escatologia de Ellen G. White, em particular aqueles ligados à sua compreensão do reavivamento, reforma e derramamento do Espírito Santo, que bem podemos classificar de Pentecostes II, eventos tipificados no Pentecostes registrado no livro de Atos. Em outras palavras, aquilo que foi testemunhado nas origens do Cristianismo, quando, à semelhança do próprio ministério de Jesus, a igreja foi ungida com o Espírito Santo, será duplicado em escala infinitamente maior, no fechamento da obra do evangelho. Segundo Ellen G. White, “é a união do Espírito Santo com o testemunho humano que haverá de advertir o mundo”.80 Para ela, na proclamação do evangelho eterno é o “Espírito Santo quem dá autoridade à palavra da verdade”.81Abrindo e fechando o arco de toda a história cristã, sob a ministração do Espírito Santo, ela observa:
Aqueles que creram em Cristo foram selados pelo Espírito Santo… Mais foram convertidos por um sermão no dia do Pentecostes do que os que foram convertidos durante todos os anos do ministério de Cristo. Poderosamente Deus trabalhará quando os homens e mulheres se entregarem sob o controle do Espírito.
Desta maneira, “na obra que foi realizada no dia do Pentecostes, podemos ver o que será feito pelo exercício da fé”.82 Portanto, como advertido pela pena profética, não deveria ser uma surpresa a resistência ao Espírito Santo verificada hoje em alguns círculos de pretensos adventistas, pois Ele, o Espírito Santo, é precisamente o grande agente, ministro e mestre na conclusão da obra do Evangelho.
Na visão de Ellen G. White, o Espírito Santo é essencial para a consumação da obra da pregação.
A pregação da Palavra não será de nenhum proveito sem a contínua presença e ajuda do Espírito Santo. Este é o único mestre eficaz da verdade divina… A menos que o Espírito Santo impressione o coração com a verdade, alma alguma cairá sobre a Rocha e se despedaçará.83
A voz profética ao povo do advento extrai então uma poderosa lição da manifestação do Espírito nos primórdios da Igreja, com implicações para a finalização de sua missão no tempo do fim: “Antes de ser escrito um livro do Novo Testamento, antes de ser pregado qualquer sermão depois da ascensão de Cristo, o Espírito Santo desceu sobre os apóstolos em oração.”84 O resultado, ela indica, veio dos próprios inimigos: “Enchestes Jerusalém desta vossa doutrina”(At 5:28). Discutindo então as condições para a manifestação do Espírito Santo no fechamento da obra do evangelho, ela fala da necessidade da entrega da vida à direção e influência do Espírito. Contudo, com palavras imersas em uma aura de tristeza ela conclui: “Mas muitos não se submeterão. Querem-se dirigir a si mesmos. E por isto não recebem o celeste dom.”85
Finalmente, podemos, como indicado, concluir a existência da verdade divina de duas formas: Primeiro aceitando suas evidências diretas, disponíveis por meio da revelação, ou, em segundo lugar, pela observação da própria simulação e do falso, porque a contrafação é um testemunho eloquente em favor do verdadeiro. Em outras palavras, a existência do falso claramente assinala a existência do genuíno. Podemos crer na existência do verdadeiro dom de profecia no final dos tempos, porque segundo Jesus, viriam falsos profetas. Falsos cristos testemunham em favor do verdadeiro Cristo. Não houvesse o verdadeiro, não haveria o falso! Isto é verdade no reino das coisas práticas da vida. Jamais ouviu-se falar de uma cédula falsa de quinze reais, simplesmente porque não existe a verdadeira cédula de quinze reais, mas a cédula falsa de cinquenta reais testifica da realidade da equivalente verdadeira. Com a Trindade bíblica verificamos o mesmo quadro.
Curiosamente, contudo, como indicado, ao mesmo tempo em que o diabo tenta estabelecer uma contrafação travesti da Trindade bíblica e sua obra (Ap 14-16), confundindo as pessoas, duplicando, precisamente aquilo que nas Escrituras são os instrumentos do Espírito Santo: seus sinais e milagres. Ironicamente, mesmo fazendo descer “fogo do céu”, símbolo do Pentecostes e do dom de línguas, esta mesma tentativa se converte, para os que querem ver, num claro testemunho em favor da verdadeira Trindade e do Espírito Santo.
Referências
1 Todo o livro O Grande Conflito, a despeito de seus aspectos históricos, converge para temas de caráter escatológico, no que consiste a ênfase básica do volume. Ellen G. White, O Grande Conflito (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1958).
2 Para uma boa introdução ao tópico, veja P. Gerard Damsteegt, Foudations of the Seventh-day Adventist Message and Mission (Grand Rapids, MI: William B. Eerdmans Publishing Company, 1977), 103-292.
3 Veja por exemplo, Tiago White, Day Star, June, 1845, 17; Ellen G. White [Ellen G. Harmon], To The Remanent Scattered Abroad, 23, Early Writings of Ellen G. White, 32, 47; Tiago White, Present Truth, Julho 1849, 1.Tiago White escreveu, que os adventistas “devem ser a última igreja; aqueles que vivem na última geração antes que Cristo venha. Os guardadores do sábado entenderão quando eles forem perseguidos. O dragão deverá fazer guerra contra o remanescente [Ap 12:17], Signs, 75-115, veja Damsteegt, 243. “Os adventistas do sétimo dia”, observa Ellen G. White, “foram escohidos por Deus como um povo peculiar…. [foram feitos] representantes seus e chamados para serem embaixadores seus na derradeira obra de salvação.” Ellen G. White, Testemunhos Seletos (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira,1956), 3: 140. Para os pioneiros adventistas, outros motivos escatológicos encontravam cumprimento no remanescente. Tais como Elias, o profeta do Antigo Testamento, cuja missão de restauração, em tempo de apostasia geral deveria encontrar uma missão paralela nos adventistas. “Elias teve uma mensagem para o povo do seu tempo, muito semelhante à mensagem do terceiro anjo, a qual é dirigida à última geração da terra.” Roswell F. Cottrel, “Elijah the Tishbite”, Review and Herald, 1 Outubro, 1861, 141. Ellen G. White também chamou a atenção para o paralelo entre a missão de João Batista como um “reformador”, preparando o caminho para o primeiro advento, com a missão dos adventistas do sétimo dia. De João Batista afirma a voz profética: “Era ele um representante daqueles que estariam vivendo nos últimos dias, aos quais Deus confiara sagradas verdades para serem apresentadas perante o povo, a fim de preparar o caminho para o segundo aparecimento de Cristo.” Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja,(Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2002), 3:62. Deve-se obervar que tanto Elias como João Bartista foram profetas do Espírito.
4 Para Ellen White, “o Espírito Santo não é limitado a algum século ou era. Cristo declarou que a divina influência do seu Espírito estaria com seus seguidores até o fim. Desde o dia do Pentecostes até o presente, o Confortador tem sido enviado a todos os que se rendem inteiramente ao Senhor e a seu serviço. A todos os que aceitam a Cristo como um Salvador pessoal, o Espírito Santo vem como consolador, santificador, guia e testemunha.” Ellen G. White, Atos dos Apóstolos (Santo André, SP: Casa Publicdora Brasileira, 1965), 49.
5 Ellen G. White, em outro contexto, observa que “…o inimigo opera com todas as suas enganadoras energias para anular o efeito da profunda operação do Espírito de Deus no ser humano.” Ellen G. White, Mensagens Escolhidas (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1966), 1:133. Para Ellen G. White, estes são os temas do nosso estudo: “Cristo crucificado pelos nossos pecados, Cristo ressuscitado dentre os mortos, Cristo nossos intercessor perante Deus, e intimamente relacionado com estes asssuntos acha-se a obra do Espírito Santo, o representante de Cristo, enviado com poder divino e dons para os homens” (Ellen G. White, Carta 86, 1895, citada em Evangelismo [Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1959], 187).
6 Legacy of Light, CD-ROM (Silver Spring, Maryland: The White Estate Inc.). De fato, para Ellen G. White, “a operação do Espírito Santo”, ao lado da encarnação de Cristo, sua divindade, seu sacrifício e intercessão no Céu, são temas vitais do Cristianismo, “revelados desde o Gênesis até o Apocalipse”. Ellen G. White, Fundamentos da Educação Cristã (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1996), 385.
7 Veja nesta edição de Parousia Tim Poirier, “As declarações trinitarianas de Ellen G. White: o que Ela realmente escreveu?” Com evidências além da dúvida razoável, Poirier desmantela a precária teoria da “adulteração” dos textos cruciais de Ellen G. White quanto ao Espírito Santo.
8 Veja as sofríveis idéias e argumentos de Jairo Carvalho analisadas em Alberto Timm, “Resenha Crítica do Livro ‘A Divindade’”, nesta edição de Parousia.
9 Veja Poirier, Ibid.
10 Ellen G. White, “O dom do Espírito”, em Atos dos Apóstolos, 47-56.
11 White, Atos dos Apóstolos, 54. A metáfora das chuvas temporã e serôdia, representado dois distintos momentos do derramamento do Espírito Santo sobre sua Igreja, é extraída do Antigo Testamento. O livro de Deuteronômio (Dt 11:13-14), introduz o ano agricultural da Palestina, dividido em dois segmentos: o tempo da semeadura, quando a primeira, a chuva temporã, era vital para semente germinar e crescer e, posteriormeente, a vinda da segunda, a chuva serôdia, que enchia os grãos, preparando-os para a colheita. A aplicação espiritual destes dois períodos de chuvas, identificados como dom do Espírito Santo, é mais tarde encontrado principalmente nos profetas menores (cf. Os 6:3, Zc 10:1). Veja o capítulo “Early and Latter Rain” George Rice e Neal C. Wilson em The Power of the Spirit (Hagerstown, MD: Review and Herald Publishing Association, Hagerston, 1991), 22-29.
12 Para detalhada discussão sobre o Paracletos no evangelho joanino, veja Amin A. Rodor, “O Espírito-Parákletos no quarto evangelho”, em Parousia, ano 4, nº 2 (2o Semestre de 2005), 53-68. Como claramente indicado no evangelho segundo João, o Espírito não é o Pai, pois é o Pai quem o envia, e ninguém envia-se a si mesmo. O parákletos, por outro lado, não é Jesus, pois é Jesus quem roga ao Pai que envie o “outro (allos) parákleto”, além do fato de que o parákletos dá testemunho a respeito de Jesus e relembra o que Ele ensinou.
13 White, Atos dos Apóstolos, 47.
14 Ibid, 51.
15 Ibidem.
16 Friedrich D. Schleiermacher, The Christian Faith (T & T Clark, Edinburgh, 1889), 144.
17 Ibid., 529. Para Schleiermarcher, o ponto de partida da dogmática é a auto-consciência do indivíduo (p. 501). A dogmática, em outras palavras, é um exame e articulação na esfera da vida interior, da piedade cristã (Ibid., 428, 485). Neste aspecto, contudo, como reconhecido pelo próprio Barth, Schleiermacher, foi absolutamente coerente com o seu sistema; Veja K. Barth, Theology and Church (Londres: SCM, 1962), 181.
18 White, Atos dos Apóstolos, 51.
19 Ibid., 52
20 Ibidem.
21 Este charlatanismo na área da teologia, seria inaceitável em qualquer outra ciência. E aqui cabe uma palavra de desmistificação. Os “curiosos” em teologia e seus patéticos defensores, como prática comum de seus arremedos, em verdadeiras apologias da ignorância, tentam desqualificar os teólogos. Como na célebre fábula da raposa e das uvas, que são caracterizadas de “verdes”, precisamente por estarem fora do alcance, estes “aprendizes de feiticeiro” sugerem que o estudo de teologia é praticamente desnecessário, senão até mesmo um obstáculo na busca da verdade. Desta maneira eles buscam eliminar o que deveria testar suas barafundas teológicas. E como, em geral, os teólogos não fazem uma defesa própria, o embuste passa sem ser desafiado. Da mesma forma que ninguém precisa ser médico para viver com saúde, é evidente que ninguém precisa ser teólogo para conhecer a vontade de Deus para a salvação. Contudo, como para praticar a medicina é necessário treino formal em anatomia, biologia, patologias, e uma infinidade de áreas correlatas; da mesma forma, para se discutir teologia como uma ciência, é necessário mais que mero entusiasmo. É certo que, muitas vezes, os teólogos são responsáveis pela fama que ganharam, de discutirem abstrações. Mas, a resposta à má teologia, não é a não-teologia, ou abrir-se as portas para charlatães despreparados, discutirem o que não entendem e chegarem a conclusões estapafúrdias. O pior é que mesmo quando seus erros são claramente indicados, como no caso de Ricardo Nicotra (veja Alberto Timm, avaliação de Ricardo Nicotra, “Resenha Critica do Livro Eu e o Pai Somos Um, Parousia, ano 4, nº 2 (2o Semestre de 2005), 69-93, eles continuam buscando cortinas de fumaça para “explicar” o que continua sem qualquer explicação. Se na medicina, a charlatanice trata de perigos evidentes – e por isto mesmo é que deve ser seriamente combatida –, em teologia a questão é muito mais crucial, por tratar de questões eternas. Teologia é algo muito sério para ser deixado ao critério de curiosos, que se aventuram a divulgar incoerências, barafundas mal elaboradas e inconsistentemente defendidas, sob uma capa de falsa piedade.
22 Martin Luther, Bondage of the Will, Selection from his Early Writings, editado por John Dillenberger (Doubleday & Company, New York, NY, 1961), 191.
23 João Calvino, Institutas da Religião Cristã, I.iii.3. Para Calvino é totalmente desnecessário preocupar-se com o quid (quem é Deus em sua essência), quando o nosso interesse prático é no qualis (seus atributos). Calvino insiste que Deus não pode ser conhecido perfeitamente. Embora possamos conhecer algo do seu ser, para o homen endurecido, corrompido por ignorância e malícia, este conhecimento será sempre a posteriori, ou sempre posterior à revelação (ibid., I.iv).
24 Para uma introdução ao pensamento de Ário, veja Justo L. González, A History of Christian Thought (Abingdon Press, Nashville, TN: 1970), 268-278. Ário iniciava com um monoteísmo absoluto, de acordo com o qual o Filho não podia ser uma parte da substância do Pai. Ele não podia também ser sem início, pois isto o faria irmão do Pai, não um Filho. Portanto, o Filho foi criado pelo Pai. Veja também Aloys Grillmeier, Christ in Christian Tradition (New York, NY: Sheed & Ward, 1965), 189-192. Assim como tantos outros, Ário, a partir de suas idéias, “decidiu” o que Deus pode ou não ser.
25 Veja Gonzalez, Ibid., 133.
26 Para uma discussão sobre os ebionitas, veja também Gonzalez, Ibid., 125-128.
27 Veja Justo L. González e Zaida M. Pérez, Introdução à Teologia Cristã (Santo André, SP: Editora Academia Cristã Ltda. 2006), 18 e 19.
28 White, Atos dos Apóstolos , 52.
29 Ibidem.
30 Ibid., 52 e 53.
31 Ibid., 53.
32 Ibid., 55.
33 Ibidem.
34 Ibid., 56.
35 Ibid., 39. Para Ellen G. White, “a aparência de fogo significa o zêlo fervente com que os apóstolos trabalhariam, e o poder que assistiria sua obra”. Ibid. Nas Escrituras, o fogo é associado com a presença de Deus. Assim, um perfeito símbolo do Espírito Santo, que ilumina, aquece, purifica e transforma.
36 White, Atos dos Apóstolos, 40.
37 Ibid., 50.
38 Ellen G. White, Mensagens Escolhidas (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1966), 1: 130.
39 Ibid., 131.
40 Gerhard Pfandl, “A escatologia de Ellen White” em O Futuro, Alberto R. Timm, Amin A. Rodor, Vanderlei Dorneles, eds. (Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, Centro Universitário Adventista de São Paulo, 2004), 311-326
41 Ellen G. White, O Grande Conflito, 611
42 Ellen G. White, Parábolas de Jesus (Tatuí, SP: Casa Publicdora Brasileira, 2000), 121.
43 Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, 1:121. Ellen White coloca tal antecipação do despertamente da igreja no terreno da revelação especial. “Em visões da noite, passsaram perante mim representações de um grande movimento de reforma entre o povo de Deus… Um espírito de intercessão tal como se manifestou antes do grande dia de Pentecostes… Corações foram convencidos pelo poder do Espírito Santo, e manifestava-se um espírito de genuína conversão.” Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja, (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2006), 9: 126.
44 White, Mensagens Escolhidas, 1: 121.
45 Ibid.; veja também Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira), 7: 285.
46 White, Serviço Cristão, 42. A mesma idéia é repetida em Mensagens Escolhidas, 1: 128: “Precisa haver um reavivamento e uma reforma sob a ministração do Espírito Santo.”
47 White, Serviço Cristão, 42.
48 White, Mensagens Escolhidas, 1: 121.
49 Ibidem. Ela observa: “É chegado o tempo para que uma reforma completa aconteça. Quando esta reforma iniciar, o espírito de oração atuará em cada crente e banirá da Igreja o espírito de discórdia e conflito” (Testemunhos Para a Igreja, 8: 251; Serviço Cristão, 142).
50 White, Mensagens Escolhidas, 1: 126.
51 Ibid., 124.
52 White, Testemunhos Para a Igreja, 5: 292; também 2: 103.
53 Ibid., 5: 291 e 2: 103. Em outro contexto White observa: “Quando o poder de Deus testifica daquilo que é a verdade, essa verdade deve permanecer para sempre como a verdade. Não devem ser agasalhadas nenhumas suposições posteriores contrárias ao esclarecimento que Deus proporcionou. Surgirão homens com interpretações das Escrituras que para eles são verdade, mas que não são de Deus. Deu-nos Deus a verdade para este tempo como um fundamento para nossa fé. Ele próprio nos ensinou o que é a verdade. Aparecerá um e ainda outro com a nova iluminação que contradiz aquela que foi dada por Deus sob a demonstração de Seu Santo Espírito.” White, Mensagens Escolhidas, 1: 161.
54 White, Testemunhos Para a Igreja, 5: 291.
55 Michel Green, I Believe in the Holy Spirit (Grand Rapids, MI: William B. Eerdmans Publishing Co., 1977), 58.
56 Ibid., 59.
57 O Espírito Santo no livro de Atos representa um dos mais fortes obstáculos às idéias antitrinitarianas. Além de suas manifestações nos capítulos iniciais, em Atos 5:3-4, num paralelismo sinônimo direto, o Espírito Santo é Deus. Pode-se tentar o Espírito Santo: “Mentistes ao Espírito Santo… mentistes a Deus” (At 5:3,4). Pessoas são ditas estarem sob sua influência (At 9:17); Ele oferece consolação (At 9:31); as pessoas recebem o Espírito Santo (At 8:17; 10:47); Ele fala (At 8:29); Ele arrebata (At 8:39). Em Atos 16:6, o Espírito Santo impede Paulo e seus acompanhantes de “anunciar a palavra na Ásia”, ou ir para a “Bitínia”(v. 7), porque o plano era outro (cf. v. 9-12). Em Atos 19:2, a ignorância dos discípulos de Éfeso quanto ao Espírito Santo: “Nós nem ainda ouvimos que haja Espírito Santo”, fortemente sugere sua existência pessoal. Ellen G. White comenta a ignorância dos cristãos de Éfeso com uma aplicação pertinente: “Há muitos hoje em dia tão ignorantes da obra do Espírito Santo sobre o coração quanto o eram os crentes de Éfeso; não há, entretanto, verdade mais claramente ensinada na Palavra de Deus” (Atos dos Apóstolos, 284). Ela passa então a indicar que além dos ensinos dos profetas e apóstolos quanto ao Espírito Santo, “Cristo mesmo chama a nossa atenção para o crescimento do mundo vegetal, como uma ilustração da operação do seu Espírito no suster a vida espiritual…” Ela acrescenta: “o poder vitalizante do Espírito Santo… permeia a alma, renova os motivos e afeições e leva os próprios pensamentos à obediência da vontade de Deus, capacitando o que recebe a produzir os preciosos frutos de obras santas. O Autor desta vida espiritual é invisível, e o método exato pelo qual é esta vida repartida e mantida está além da capacidade da filosofia humana explicar”( Ibid.).
58 White, Atos dos Apóstolos, 54, 55; cf. Joel 2:28,29.
59 Para uma valiosa discussão sobre a pessoa e ações do Espírito Santo no Pentecostes, veja F.F. Bruce, The New International Commentary on the New Testament: The Book of the Acts (Grand Rapids, MI: William Eerdmans Publishing Companhy, 1980), 28-94; veja ainda Hendrikus Berkhof, The Doctrine of the Holy Espirit (Atlanta, GA: John Knox Press, 1977), 30-65.
60 Como em geral observado, as nações aqui descritas, sugerem a presença em Jerusalém de representantes dos quatro pontos cardeais, um símbolo da amplitude do avanço e alcance do Evangelho (F.F. Bruce, ibid., 56-64).
61 White, Atos dos Apóstolos, 54, 55.
62 White, Primeiros Escritos (Tatuí, SP, 2003), 86.
63 Ellen G. White, Seventh-day Adventist Commentary (Hagerstown, MD., Review and Herald Publishing Association, 1980), 7: 984.
64 White, O Grande Conflito, 611.
65 White, Atos dos Apóstolos, 50.
66 Ellen G. White, Evangelismo, 701. Ver também Testemunhos Para a Igreja, (Tatuí, SP.:Casa Publicadora Brasileira, 2006), 8:20; ver também Serviço Cristão, 250.
67 White, Testemunhos, 8: 20; Serviço Cristão, 250.
68 Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1995), 396.
69 Ellen G. White, Parábolas de Jesus, 411.
70 Ellen G. White, Testemunho para Ministros, 508. Em seu Parábolas de Jesus, 121, Ellen White observa que “o Espírito aguarda nosso pedido e recepção.”
71 White, Testemunhos Para Ministros, 507-508.
72 White, Atos dos Apóstolos, 50.
73 White, Serviço Cristão (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004) 252. Iniciando com a página 250, Ellen G. White dedica todo um capítulo de Serviço Cristão, para tratar do Espírito Santo.
74 Ibid., 253.
75 Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, 396.
76 White, Serviço Cristão, 254. Nesta mesma página ela oberva que Deus poderosamente pode “operar quando os homens se entregam à direção do seu Espírito.” Com antecipação profética ela observa: “Logo ocorrerão mudanças peculiares e rápidas, e o povo de Deus será revestido do Espírito Santo, de forma que, com sabedoria celeste, enfrente as emergências desta época e neutralize ao máximo possível a influência desmoralizadora do mundo.
77 White, Atos dos Apóstolos, 21.
78 White, O Desejado de Todas as Nações, 61.
79 Valtair A. Miranda, “A cristologia dos demônios.” Em Vox Scripturaae, Volume X; Número 1, Dezembro de 2000, 3-18.
80 White, em Seventh-day Adventist Commen-tary, 6: 1053.
81 Ibid., 1055.
82 Ibidem.
83 White, O Desejado de Todas as Nações, 396.
84 Ibidem.
85 Ibidem.