O propósito da visitação pastoral: Uma análise à partir das Escrituras

O propósito da visitação pastoral: Uma análise à partir das Escrituras

RESUMO

PDF

“O propósito da visitação pastoral: Uma análise à partir das Escrituras” – A visitação tem um papel importante para os membros da igreja e para o pastor. Por essa razão, o presente artigo procura o significado bíblico para o termo visitação no Antigo e Novo Testamentos, e apresentará como esse termo é usado pelos escritores bíblicos. Além disso, avalia como os pastores e os membros da igreja fazem a visitação atualmente, e desenvolvem o propósito da visitação pastoral que a Bíblia apresenta.

Palavra chaves: Visitação pastoral, visitação, membros da igreja, pastor

 

“The purpose of pastoral visitation: A look at the scriptures” – Visitation plays an important role in church members and the pastor. Therefore, this article seeks the biblical meaning of visitation in the Old and New Testaments and present how this term is used by the biblical writers. It also assesses how the pastors and church members perform the visitation today and develops the purpose of the pastoral visitation that the Bible presents.

Keywords: Pastoral visiting, visiting, church members, pastor

O propósito da visitação pastoral: 

Uma análise à partir das Escrituras

_______________________________________________________________________

 

Cristian S. Gonzales

Alejandro Ramos

Faculdade de Teologia

Universidade Peruana Unión

 

Introdução

No El Pastor, sus calificaciones y deberes, Harvey destaca que

[…] a visitação pastoral – o cuidado das almas1 –é uma parte essencial da obra do pastor. Nenhum pastor cumpre com a responsabilidade da função sagrada se for negligente em realizar contatos pessoais com os membros de seu rebanho2.

Embora seja verdade que parece não haver regras universais para cumprir esse propósito, porque as igrejas são diferentes nas circunstâncias e estilo de vida, o ideal é que o pastor tenha comunhão pessoal com os membros de sua igreja3.

Por isso, o presente artigo (1) procura o significado bíblico do termo visitação no Antigo e Novo Testamentos e apresenta como esse termo é usado pelos escritores bíblicos; (2) aplica a ferramenta cuja metodologia é a abordagem quantitativa, tipo descritiva, desenho não experimental e transacional para avaliar como os pastores e membros da igreja realizam a visitação atualmente e; (3) desenvolve o propósito da visitação pastoral que a Bíblia apresenta.

 

O termo visitação nas Escrituras

 

A palavra “visitação” significa supervisão e inspeção4. Nas Escrituras são usadas duas palavras, as quais são traduzidas como “visitação”. Paqad, em hebraico5; e episkeptomai, em grego6.

O termo paqad aparece 37 vezes no Antigo Testamento, para os quais três usos notáveis foram encontrados.

  1. Paqad, traduzido como visitação, aparece 13 vezes, e é usado pelos escritores bíblicos para mostrar uma dinâmica divino-humana, de como Deus se aproxima do seu povo por meio de instrumentos humanos para anunciar uma promessa relacionada diretamente com uma bênção ou castigo para o Seu povo. 

É a exposição da palavra profética para cumprir os propósitos divinos. Essa visitação apresenta a maneira que Deus alimenta, cuida, e atende as aflições do Seu povo, e com misericórdia, perdoa a iniquidade, a rebelião, e o pecado, além de não considerar inocente um culpado por sua maldade até a terceira e quarta geração.

De acordo com 1 Samuel 2:21, a visita de Deus à Ana foi para agir de maneira milagrosa sobre seu ventre, permitindo que Ana tivesse Samuel, profeta e sacerdote de Deus. Por outro lado, de acordo com Jó 34:13, Jó faz a pergunta: “Quem lhe entregou o governo da terra? E quem dispôs a todo o mundo?” Jó apresenta a primeira visita feita por Deus à terra, que foi durante a sua criação. Deus colocou em ordem todas as coisas que existem neste mundo. Essa visitação corresponde ao planejamento divino, com o objetivo de intervir no mundo, e começar a criar todos os seres vivos, incluindo o ser humano.

  1. Paqad, traduzido como contar, usado 15 vezes, está relacionado à contagem dos itens do tabernáculo do testemunho, dos filhos de Levi (Coate, Gerson e Merari), dos primogênitos, das famílias do povo de Israel, dos que têm cargo, de todo o povo de Israel, e dos reinos da terra.
  2. Paqad, traduzido como castigar, foi usado 9 vezes para mostrar a consequência para aqueles que fazem o mal, que questionam com rigor, aos pastores que dispersaram, assustaram e descuidaram das ovelhas que Deus lhes havia dado. É usado também para mencionar o castigo para os reis da Babilônia e Assíria.

Portanto, o termo paqad foi usado de três maneira diferentes, as quais indicam: visitação, contagem e castigo. O uso dessa palavra nos deixa entender que nos três casos Deus tem uma agenda divina, a qual mostra sua programação e cumprimento desde a criação deste mundo, de acordo com Jó 34:13. Além disso, é possível entender que mesmo depois do pecado na terra, Deus continua com uma programação exata ao conduzir e guiar os seus filhos, até alcançar a sua salvação. Nessa agenda divina, Deus ouve o clamor de seus filhos, ajudando-os de maneira misericordiosa, apesar de sua iniquidade, rebelião e pecado. Ao mesmo tempo, o termo permite entender que aqueles pastores ou líderes que Deus colocou para pastorear Seu povo, em vez de ouvir a Sua palavra, ficaram contra o seu cumprimento de apascentar, alimentar e cuidar delas, as espalhando, assustando e negligenciando. A visitação de Deus foi para castigar a maldade e rebelião criada por eles e pelos seus filhos, e por aqueles que abusaram de sua misericórdia, como as nações da Babilônica e Assíria.

O segundo termo mais usado pelos escritores bíblicos foi episkeptomai. Esse foi usado 11 vezes no Novo Testamento por Mateus, Lucas, Paulo e Tiago. 

Em seu livro, Mateus usa o termo episkeptomai duas vezes em 25:36 e 25:43. Ele deixou por escrito a forma prática de como Jesus apresenta o ensino da visitação, a qual inclui pessoas de baixo status ou menos favorecidas pelos homens. Além disso, o termo implica que quem não os ajudar, cuidar, cobrir e/ou se preocupar com eles por meio de uma visita ou atenção, ao não mostrar solidariedade e misericórdia com os que mais precisam, nus, doentes, pessoas que estão na prisão e estrangeiros, é considerado como não fazendo isso ao seu Criador-Jesus.

Por outro lado, Lucas usou o termo episkeptomai sete vezes em 1:68, 1:78. 7:16; e Atos 6:3, 7:23, 15:14, 15:36. O uso da palavra foi para identificar que a visitação de Jesus foi para mostrar misericórdia, redimir o Seu povo, identificar o Messias, libertar o Seu povo da escravidão, e para oferecer Seu plano de salvação aos gentios. Lucas também usou o termo em relação aos homens de bom testemunho e cheios do Espírito de Deus e, além disso, para destacar a atitude de Paulo ao voltar a visitar seus irmãos onde a Palavra do Senhor havia sido anunciada7.

Além do mais, o apóstolo Paulo8 usou o termo episkeptomai somente uma vez em Hebreus 2:6, se referindo ao Salmo 8:4, que diz: “que é o homem mortal para que te lembres dele? E o filho do homem, para que o visites?”9. Essa referência mostra a atitude misericordiosa e redentora de Deus ao permitir que Seu filho viesse a essa terra para morrer em favor do ser humano, que pelos atos de maldade e de pecado estavam separados de Deus10.

E, finalmente, Tiago usou o termo episkeptomai somente uma vez em seu livro, em 1:27, extraído de um discurso de Jesus para mostrar que a religião pura e sem mácula diante de Deus é visitar os órfãos e as viúvas durante as suas tribulações, e, além disso, indica que as pessoas devem permanecer sem mancha do mundo.

Concluindo, o termo episkeptomai, usado pelos escritores do Novo Testamento, está relacionado a uma ação divina: “A visitação de Deus a Seu povo”, a qual é apontada por Jesus em duas dimensões: (1) considerada como o verdadeiro evangelho, tem a ver com mostrar misericórdia aqueles que mais precisam; os nus, os doentes, os encarcerados, os estrangeiros, os órfãos e as viúvas em suas tribulações, ou seja, os que mais precisam; e (2) envolve a redenção de Seu povo, identificando o Messias (Salvador), libertando Seu povo da escravidão, e oferecendo Seu plano de salvação aos  gentios, ou seja, seus filhos devem permanecer imaculados do mundo e cheios do Espírito Santo. Portanto, a visitação é uma ação divina que mostra a misericórdia de Deus para com Seus filhos para redimir, restaurar e salvar Seu povo, e de Seus filhos para os mais necessitados.

Nesse contexto, Deus deu aos ministros a responsabilidade de pastorear seu rebanho. Enquanto por um lado Paulo diz, em Atos 20:28: “Olhai, pois, por vós e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue”, por outro, Pedro repete isso ao observar: “Apascentai o rebanho de Deus que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente” (1Pd 5:1-3). 

Além do mais, Paulo menciona que os pastores prestarão contas a Deus pelo cuidado de cada alma que Deus lhes entregou para apascentar. “Obedecei a vossos pastores e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossa alma, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil” (Hb 13:17). A visitação pastoral, de fato, faz parte da responsabilidade do pastor11.

Existem outras palavras em hebraico e grego que são traduzidas como visitação, mas neste artigo foi considerado somente a palavra grega episkopes. Além de significar visitação, significa também bispado (a palavra aparece em Lc 19:44, At 1:20, 1Tm 1:3 e 1Pd 2:12), a qual se refere a investigação, inspeção e agenda de visitas12. A palavra usada como bispo vem de duas raízes gregas: episkopos/presbuteros, que foram usadas pelo apóstolo indistintamente13. No entanto, Paulo apresenta igualdade entre a visitação e o bispado, ou seja, não pode existir bispado sem visitação e vice-versa. O bispo é uma figura de Cristo, o verdadeiro Pastor, de acordo com João 10:14, 15: “Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido. Assim como o Pai me conhece a mim, também eu conheço o Pai e dou a minha vida pelas ovelhas”.