Pão de cada dia

“De manhã, Senhor, ouves a minha voz; de manhã Te apresento a minha oração e fico esperando” (Davi)

O objetivo do Seminário de Enriquecimento Espiritual, promovido pelo departamento de Mordomia Cristã da Divisão Sul-Americana, é desenvolver e consolidar o hábito de começarmos o dia na presença de Deus. Porém, a última das quatro versões do seminário enfatiza não apenas a importância de começar, mas continuar na presença de Deus durante todo o dia. Isso está em harmonia com a Palavra de Deus: “Por isso, não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia” (2Co 4:16).

Ao escrever essas palavras, o apóstolo Paulo reconheceu que só existe um modo de enfrentarmos provas e desafios, com possibilidade de êxito: permanecendo em Deus. Sem isso, não pode haver vida espiritual sadia. “Assim como as necessidades do corpo devem ser supridas diariamente, também a Palavra de Deus deve ser diariamente estudada – comida, digerida e praticada. Isso mantém a nutrição, a fim de que a mente seja conservada com saúde. A negligência da Palavra significa inanição para mente. A Palavra descreve como bem-aventurado alguém que medita dia e noite sobre as verdades da Palavra de Deus. Todos nós devemos nos dirigir ao banquete da Palavra divina. A relação entre a Palavra e o crente é de vital importância. O apropriarmo-nos da Palavra para nossas necessidades espirituais é comer das folhas da árvore da vida que são para a saúde das nações” (Ellen G. White, Conselhos Sobre a Escola Sabatina, p. 43, 44).

Paulo afirma que “o nosso homem interior se renova de dia em dia” (2Co 4:16). Essa é uma referência à natureza espiritual do ser humano, regenerada pelo Espírito Santo. A vida espiritual não pode nem deve ser estática; ela precisa ser construída através da comunhão exercida diariamente, momento a momento, sem intervalos. Portanto, essa regeneração da qual Paulo fala é fruto de nossa permanência em Deus.

Permanência

Disse Jesus: “Permanecei em Mim, e Eu permanecerei em vós… Quem permanece em Mim, e Eu, nEle, esse dá muito fruto; porque sem Mim nada podeis fazer” (Jo 15:4, 5). Mudando a segunda cláusula de reciprocidade, o Mestre deixou clara a maneira pela qual Ele permanece em nós: “Se permanecerdes em Mim, e as Minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes e vos será feito” (Jo 15:7). Podemos concluir que a permanência de Jesus

em nós ocorre por meio da Palavra. Nesse caso, fica fácil entender as palavras de Jeremias: “Achadas as Tuas palavras, logo as comi; as Tuas palavras me foram gozo e alegria para o coração…” (Jr 15:16).

A Bíblia deve ser nosso alimento espiritual diário. É impossível abrir mão da Palavra sem sofrer alguma perda para a vida espiritual. Segundo uma lenda, um jovem procurou o melhor cortador de lenha da região, um homem idoso e sábio, e pediu para ser seu discípulo, a fim de aperfeiçoar o conhecimento. O mestre concordou e começou a lhe ensinar. Depois de algum tempo, o aluno, sentindo-se mais apto que o professor, o desafiou para uma competição. O mestre aceitou o desafio para ver quem conseguia cortar mais árvores durante um dia. O jovem trabalhava sem parar, desferindo vários golpes nas árvores que não resistiam à fúria do machado. Às vezes, ele parava para ver o desempenho do mestre e o via descansando. Isso fortalecia o jovem em sua determinação e o levava a desdenhar do professor, afirmando que ele era demasiadamente velho para suportar o ritmo da prova.

Terminada a competição, para surpresa do rapaz, o mestre o havia superado no número de árvores cortadas. Incrédulo, ele disse: “Não posso acreditar! Não parei de cortar lenha o dia inteiro, mantive a energia concentrada nisso, enquanto o senhor parou várias vezes para descansar.” Serenamente, o mestre respondeu: “Enquanto descansava, eu amolava o machado. Você estava tão empolgado em cortar lenha, que se esqueceu desse pequeno, porém importante, detalhe” (Lair Ribeiro, Comunicação Global).

Muitas vezes, queremos desfrutar vida espiritual sadia, mas negligenciamos o que, para uns, é um detalhe insignificante, mas, para o Mestre, é de fundamental importância: comunhão pessoal e diária com Ele. À época do êxodo, pela experiência do maná, Deus tentou

reeducar os judeus, que por muito tempo se haviam esquecido da importância de se manter unidos a Ele. Cada dia, antes do alvorecer, eles deviam colher o suficiente para as necessidades diárias. Se tentassem acumular para o dia seguinte, o maná apodrecia e cheirava mal. Ele era uma confirmação de que Deus é nosso provedor; e que devemos diariamente depender dEle.

No ritmo frenético da vida moderna, as pessoas vivem espremidas entre incontáveis reuniões, compromissos pessoais, familiares e da igreja. Talvez reste pouco, ou nenhum tempo para a vida devocional relevante. O que fazer? Trabalhar dessa maneira é como tentar cortar madeira com um machado sem fio. Impressionamo-nos com o volume de atividades diárias e acabamos justificando nossa indiferença espiritual com a velha e conhecida desculpa: “Não tenho tempo”. Ao observarmos a vida de Cristo, surpreende-nos a quantidade de trabalho que Ele realizava, sem deixar em segundo plano a comunhão com o Pai.

Renovação indispensável

Se você deseja começar a priorizar o relacionamento pessoal com Deus, mas não sabe como fazê-lo, aqui estão duas sugestões: Para começar, se não puder dedicar uma hora diária, comece com meia hora, ou quinze minutos; depois, vá adicionando mais tempo à sua devoção, até atingir o tempo que Deus considera ideal. Utilize alguns minutos na hora do almoço para refletir no que você aprendeu na respectiva manhã.

Há um pensamento, atribuído a Miguel Ângelo, que diz o seguinte: “Quanto mais se gasta o mármore, tanto mais cresce a estátua” (Russel N. Champlin, O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, v. 4, p. 330). Gastar o mármore pode ser interpretado como o tempo investido em comunhão, o que exige uma reordenação de prioridades, esforço permanente e contínuo para permanecer ligados ao Senhor. Embora isso

requeira disciplina e perseverança, o resultado compensa, ou seja, quanto maior for o investimento, tanto maior será o dividendo. O crescimento da estátua pode ser entendido como o desenvolvimento da vida espiritual.

Todos necessitamos dessa renovação diária. Ela é tão indispensável à saúde espiritual como o alimento é indispensável à saúde física. Aqueles que negligenciam o cuidado com o próprio crescimento espiritual correm risco de experimentar o que foi predito pelo profeta Amós: “Eis que vêm dias, diz o Senhor Deus, em que enviarei fome sobre a Terra, não de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras do Senhor. Andarão de mar a mar e do norte até ao oriente; correrão por toda parte, procurando a Palavra do Senhor, e não a acharão” (Am 8:11, 12).

“Os que não apreciam, não estudam nem prezam ternamente a Palavra de Deus proferida por Seus servos terão razão para se lamentar amargamente no futuro. Vi que, no fim do tempo, o Senhor, em juízo, andará pela Terra; as terríveis pragas começarão a cair. Então, os que desprezaram a Palavra de Deus, os que a tiveram em pouca conta, ‘andarão de mar a mar, e do norte até o oriente; correrão por toda parte, procurando a Palavra do Senhor, e não a acharão’” (Ellen G. White, Eventos Finais, p. 234, 235).

Uma pergunta que muitas pessoas fazem é a seguinte: Quais são os recursos que devem ser utilizados na busca de renovação espiritual? Estes são os principais: Oração, estudo da Bíblia, estudo da Lição da Escola Sabatina e testemunho. Quando priorizarmos nosso relacionamento com o Senhor, e nos organizarmos de tal maneira que dediquemos a Ele a primeira hora do dia; quando nossa vida for colocada em sintonia com a soberana vontade dEle, então se cumprirá a promessa de Jesus Cristo: “Buscar-Me-eis e Me achareis quando Me buscardes de todo o vosso coração” (Jr 29:13).