Pastor e ancião fazendo discípulos
Algumas pessoas se surpreendem ao descobrir que a palavra “cristão” é utilizada apenas três vezes no Novo Testamento (At 11:26; At 26:28; 1Pe 4:15-16). O termo mais usado para se referir aos seguidores de Jesus é
“discípulo”. Essa é uma palavra/conceito muito importante no contexto bíblico, pois guarda em si o mais profundo sentido do que significa seguir a Cristo. Ser discípulo é aprender do Mestre e levar outros a adquirir o mesmo conhecimento. Paulo entendia bem isso ao dizer: “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo” (1Co 11:1). Portanto, antes de fazer discípulos é necessário ser um discípulo.
John Stott diz que “ambas as palavras (cristão e discípulo) implicam relacionamento com Jesus. Porém, ‘discípulo’ talvez seja mais forte, pois inevitavelmente
implica relacionamento aluno e professor ”. Assim, o discipulado nada mais é que uma grande cadeia de alunos que se tornam professores de outros que, por sua vez, também se tornarão professores.
O apóstolo Paulo viveu esse processo com Timóteo. Isso fica evidente ao lermos sua carta ao jovem pastor: “A Timóteo meu verdadeiro filho na fé: graça, misericórdia e paz da parte de Deus nosso Pai, e da de Cristo Jesus, nosso Senhor. Como te roguei, quando parti para a macedônia, que ficasses em Éfeso, para advertires a alguns, que não ensinem outra doutrina” (1Tm 1:2, 3, ARC).
Outro episódio neotestamentário que caracteriza esse processo divino está explícito na ocasião em que os discípulos de João Batista conheceram Jesus: “Era André, irmão de Simão Pedro, um dos dois que tinham ouvido o testemunho de João, e seguido a Jesus. Ele achou primeiro seu próprio irmão Simão, a quem disse: Achamos o Messias (que quer dizer Cristo), e o levou a Jesus. Olhando Jesus para ele, disse: Tu és Simão, […]; tu serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro). No dia imediato resolveu Jesus partir para a Galileia e encontrou a Filipe, a quem disse: Segue-me. Ora, Filipe era de Betsaida, cidade de André e de Pedro. Filipe encontrou a Natanael e disse-lhe: Achamos Aquele de quem Moisés escreveu na lei,
e a quem se referiram os profetas: Jesus, o Nazareno, Filho de José” (Jo 1:40-45).
Essa cadeia discipuladora está presente em muitas partes das Escrituras e é o método de Deus para o avanço do evangelho. Ele foi confirmado pelo Mestre ao dizer: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que Eu vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt 28:19, 20).
Um processo de discipulado eficaz, portanto, deve partir da liderança da igreja em direção aos membros. O pastor, sendo discípulo do Mestre, trabalha com seus anciãos, que por sua vez trabalharão com os demais líderes da igreja e esse processo chegará até o mais simples dos membros.
Seguindo esse raciocínio divino evitaríamos muitos dos problemas que hoje existem na igreja. Um deles, talvez um dos mais graves, é a sobrecarga de trabalho que pastores e anciãos muitas vezes precisam administrar. Muitas funções, datas, relatórios e eventos que, se colocados sobre um grupo pequeno de pessoas, vai causar um cansaço desanimador. No entanto, se o método de Deus for seguido, a obra acontece e ninguém se sobrecarrega.
Pedi a um dos meus anciãos que escrevesse seu testemunho relacionado ao método bíblico de trabalho missionário. Acompanhe a seguir as palavras do professor José Antônio Aguiar*.
DISCIPULADO NA PRÁTICA
Em minha experiência, percebi que, quando pastores e anciãos se dedicam ao treinamento e acompanhamento espiritual de sua equipe, os frutos se multiplicam e muitos milagres acontecem na igreja.
Tive a oportunidade de ser o primeiro ancião de uma igreja no litoral de Santa Catarina. Na casa em que residi com minha família funcionou um pequeno grupo que se reunia toda terça-feira para orar.
Juntamente com os demais anciãos daquela comunidade, percebi que só conseguiríamos atingir os objetivos missionários se todos estivessem unidos num só ideal. Decidimos, então, fazer reuniões periódicas que ocorriam a cada mês, nos sábados à tarde. A presença de todos os anciãos foi fundamental. Ali organizávamos a escala de pregação e planejávamos as atividades missionárias. Éramos sete anciãos e contávamos com a presença do pastor, do diretor e do capelão da escola adventista.
Decidimos que iríamos fazer de tudo para não sobrecarregar o pastor distrital. Assim, estabelecemos um plano para realizar duas séries de conferências do Apocalipse por ano. Com isso, poderíamos fortalecer os pequenos grupos, especialmente os que precisavam de maior apoio. Preparamos os panfletos e colocamos a igreja para distribuir e convidar as pessoas para os encontros, aos quais decidimos chamar de Quartas de Poder.
Com muita oração e treinamento conseguimos manter 12 pequenos grupos em funcionamento e passamos a visitar periodicamente os membros da igreja. As reuniões sociais na casa do pastor e também dos anciãos eram fundamentais para fortalecer os laços de apoio mútuo e amizade.
Como resultado, após o evangelismo de colheita, tivemos o privilégio de ver 51 pessoas batizadas. Foi emocionante ver o fruto do trabalho, árduo, mas prazeroso.
A principal lição que tiramos dessa experiência foi que, quando os pastores e anciãos se unem em torno do propósito maior, que é o avanço do reino de Deus, a diversidade de opiniões é benéfica para a causa. Daqueles que foram batizados, hoje temos homens e mulheres que servem como anciãos e professores da Escola Sabatina nas igrejas da região.
Quando a igreja vê seus líderes empenhados no trabalho em favor das pessoas, os membros seguem o exemplo e o que vemos é a atuação miraculosa do poder do Espírito Santo sendo derramado, dotando de forças que vêm do alto cada um de Seus filhos. Servos salvos e com poder. Esse é o grande efeito das ações missionárias dos pastores e anciãos que sabem delegar responsabilidades e saem ao campo à frente de seu povo, dando exemplo de abnegação e amor ao próximo.
EFICÁCIA COMPROVADA
A experiência vivenciada pelo Prof. Aguiar pode se repetir em qualquer outro lugar em que pastores e anciãos estejam dispostos a seguir o método de trabalho estabelecido por Cristo. O objetivo
sempre é de que a maior parte da igreja esteja envolvida. Só assim a plenitude do poder do Espírito Santo estará disponível. Como diz Ellen White: “Quando tivermos uma consagração plena, de todo o
coração, ao serviço de Cristo, Deus reconhecerá esse fato derramando Seu Espírito sem medida; mas isso não acontecerá enquanto a maior parte da igreja não se transformar em coobreiros de Deus” (Conselho sobre Mordomia, p. 52).
Portanto, una-se ao seu pastor e motive os demais anciãos e líderes para que, como verdadeiros discípulos, façam o evangelho avançar em seu campo missionário.
*José Antônio Aguiar é ancião da igreja do Instituto Adventista de Ensino de Santa Catarina, onde também atua como professor de História e Geografia.