Como pregar de tal maneira que os ouvintes sejam atraídos a Cristo e O aceitem como Salvador
Alguém perguntou: “O que é um sermão?” E a resposta de Ruskin foi: “São trinta minutos capazes de ressuscitar mortos”.[1] Gostaríamos que fosse assim; porém, muito frequentemente não há despertamento algum. Agostinho, grande teólogo do século 5, foi renomado professor de retórica, antes de sua conversão. Ele definiu a tarefa do orador como docere, deletare, flectere, ou seja, ensinar, deleitar e influenciar. Acredito no valor de cada um desses elementos, porém, no campo espiritual, o mais importante é ter a mensagem.
A tarefa do pregador não é divertir o povo nem apenas educá-lo, mas levá-lo a Cristo. Cada sermão pregado deve ter esse propósito. Por isso, necessitamos atentar para três qualidades essenciais da pregação evangelística eficaz.
Conteúdo bíblico
Em primeiro lugar, a mensagem precisa ser bíblica. As pessoas não esperam ouvir nossas opiniões pessoais. Mesmo as pessoas mais secularizadas estão interessadas em conhecer o que Jesus proclamou e ensinou. O pregador não pode preparar qualquer sermão, apresentá-lo a uma multidão de descrentes e chamar isso de evangelismo. Ellen G. White exortou os pregadores a expor o conteúdo de Palavra de Deus, de maneira cristocêntrica, com convicção:
“Existe um poder vivo na verdade, e o Espírito Santo é o instrumento que abre o entendimento humano para a verdade. Os pastores e obreiros que a proclamam devem, porém, manifestar certeza e determinação. Devem avançar pela fé, e apresentar a Palavra como nela crendo de fato. Façam com que as pessoas por quem vocês trabalham entendam que se trata da verdade divina. Preguem a Jesus Cristo e Ele crucificado. Isso fará frente às mentiras de Satanás… Preguem de tal maneira que as pessoas possam apreender as grandes ideias e extraiam o minério precioso contido nas Escrituras.”[2]
Ao prepararmos o sermão evangelístico, precisamos ter em mente os seguintes pontos:
- A necessidade do pecador: o natural anseio por algo melhor neste mundo.
- A expiação do Salvador: como Cristo providenciou uma saída para cada ser humano.
- Passos para Cristo: ponto a ponto, leve o pecador a responder à sua necessidade.
- Apelo: muitas pessoas não atenderão, sem um apelo específico e urgente.
Há cinco pilares da verdade ao redor dos quais a pessoa convertida a Cristo deve construir o edifício da fé. Estes são os principais pontos a ser cobertos pelo pregador adventista: Segunda vinda de Jesus; reivindicações do sábado; mensagem dos três anjos (justificação pela fé e não pelas obras); ministério de Cristo no santuário celestial; mortalidade da alma. Outra característica distintiva dos adventistas é o fato de sermos um povo profético. Por isso, somos advertidos a chamar a atenção do povo para as profecias da Palavra de Deus.[3]
Evangelistas bem-sucedidos têm aprendido que a abordagem mais eficaz da pregação evangelística não é a exposição verso por verso, mas o sermão tópico, em que são apresentados os grandes temas das necessidades humanas e o correspondente remédio na Palavra de Deus. Usando títulos interessantes, cada sermão pode ter algo semelhante ao seguinte esboço: (1) Formule a condição. Se estiver falando sobre saúde, mostre a condição de um mundo cheio de crime, pobreza e sofrimento; (2) exponha a causa. No item anterior, as causas são o pecado e a desobediência às leis de saúde; finalmente, (3) mostre a cura.
No tema sobre saúde, a solução está em observar as leis bíblicas de saúde. Quanto à desobediência, a solução é aceitar Cristo e guardar Seus mandamentos. O discurso deve terminar com o apelo para que os ouvintes aceitem a solução apresentada.
Acrescente o elemento emoção. As pessoas podem conhecer o dever; mas necessitam de estímulo para decidir. O evangelismo bíblico equilibrado requer cuidadoso relacionamento entre instrução e persuasão. Problemas espirituais surgem quando uma instrução inadequada é oferecida apressadamente em meio à impaciente persuasão. Uma resposta emotiva pode causar o mesmo problema. A parábola do semeador (Mt 13:20, 21) indica que as sementes caídas sobre o solo rochoso representam as pessoas que recebem o evangelho com alegria, mas logo se escandalizam. Qual é a fonte dessa alegria? Seria o conteúdo do evangelho ou a atmosfera da ocasião em que ele foi apresentado? Se o evangelho for apresentado num contexto de entretenimento, em que a arte supera a apresentação da verdade, não será surpresa se o resultado for um número de crentes temporários.[4]
Mensagem contextualizada
Em segundo lugar, a pregação evangelística precisa ser relevante. Ela deve começar com a agenda das pessoas, seus problemas sociais e crises. Uma simples mudança na maneira de apresentar a verdade, sem afetar o conteúdo dela, tem o poder de atrair 45% mais pessoas para igreja.
Ellen White destaca o valor da contextualização: “Alguns dos que se empenham na obra de salvar pessoas deixam de obter os melhores resultados, porque não executam cabalmente a obra que iniciaram com muito entusiasmo. Outros se apegam tenazmente a ideias preconcebidas, dando-lhes preeminência, deixando por isso de conformar seus ensinos com as necessidades reais do povo. Muitos não compreendem a necessidade de se adaptarem às circunstâncias, e ir ao encontro do povo. Não se identificam com aqueles a quem desejam auxiliar em atingir a norma bíblica do cristianismo.”
Ron Gladen[5] menciona o fato de que, há alguns anos, a Coca-Cola Company experimentou uma nova garrafa com forma diferente. Quase que da noite para o dia as vendas em todo o mundo pularam de 5% para 50%, mesmo em mercados onde os consumidores nunca tinham visto a garrafa original e, especialmente, entre o público mais jovem, acostumado com a garrafa sem contornos.
Mas, aprendemos também o que a Coca-Cola fez de errado. Gladen afirma que, em 1985, quando eles mudaram o sabor da fórmula de 90 anos para outro sabor, a companhia amargou um prejuízo de 35 milhões de dólares. Qual é a lição para a igreja? Não mude o produto. Jamais comprometa a verdade, ainda que supostamente isso atraia mais pessoas. Jesus descreveu as boas-novas como “água viva” por uma razão: a água pode tomar qualquer forma. Não é rígida nem há um modelo único de copo. Se não comprometermos a pureza da água, qualquer recipiente será apropriado.
A mensagem permanece a mesma, porém precisa ser apresentada de modo atual e relevante. Adapte-a aos valores do tempo, localidade e nacionalidade, mostrando como o evangelho de Cristo pode atender a essas necessidades. A mensagem de Pedro, em Atos 2:16-36, é significativa para ilustrar esse ponto. Pedro fez quatro coisas em seu sermão: (1) Elaborou o discurso para responder a uma questão imediata da multidão: explicar o estranho comportamento daqueles oradores que falavam a língua nativa da própria multidão. (2) Extraiu argumentos de uma fonte que os ouvintes consideravam autorizada: o Antigo Testamento. (3) Usou sua experiência e testemunho pessoal para reforçar os argumentos. (4) Declarou a mensagem básica do evangelho: Jesus é o Cristo.[6]
O evangelista necessita contextualizar a mensagem para diferentes audiências. Quando encontrou a mulher junto à fonte, Jesus iniciou o diálogo falando da água. Na casa do coletor de impostos, o tema inicial foi o dinheiro. Uma comparação entre o sermão de Paulo aos judeus e interessados, que se reuniam nas sinagogas em Antioquia (At 13:13-47), e os dois sermões que ele pregou a gentios da classe média intelectual em Atenas e da classe agropastoril em Listra (At 18:8-20; 17:16-34) ilustra esse ponto. Em Antioquia, o conteúdo é um sumário da história israelita contida no Antigo Testamento, com aplicação profética. As mensagens aos gentios têm diferentes abordagens. Em Listra e Atenas, Paulo não usou citações da Bíblia, embora o conteúdo fosse bíblico. Em Listra, ele usou ilustrações tiradas do campo (chuvas, estações frutíferas) e, em Atenas, Ele citou um poeta grego.[7]
Apresentação da mensagem
Em terceiro lugar, a mensagem precisa ser apresentada com eficiência. Mark Galli[8] relatou uma conversa que teve com um marxista que nunca tinha ouvido explicação sobre os princípios básicos do evangelho. O homem ouviu maravilhado e surpreso. Então, num impulso, afirmou: “Vocês possuem a verdade; o que falta é saber como apresentá-la”. Ellen White se preocupou tanto com nossa maneira de pregar quanto pelo que pregamos. Para ela, são preferíveis lições breves e repetidas a usar excesso de material. O evangelista deve pregar de forma clara, entusiástica e afirmativa, não na forma de controvérsia.[9] Construa as sentenças de modo a causar impacto. Spurgeon assim ensinou: “O homem que não pode enunciar sentenças tão fortes e tão diretas como as varetas de aço da espingarda, melhor seria que se tornasse chapeleiro de senhoras, lidando com penas e enfeites, em vez de tentar falar em público aos seus semelhantes, sobre palavras que são espírito e vida”.[10]
Um elemento importante relacionado com a clareza é falar pouco e usar estilo que se assemelhe mais com ensino do que com pregação. Ellen White afirmou: “Preguem sermões curtos”.[11] As pessoas têm capacidade limitada de absorção. Tentar comunicar muito conteúdo em um sermão pode resultar em sobrecarga de informações. Vale a pena narrar aqui a história do evangelista que se sentou à mesa para o desjejum. Havia um corte sangrando no rosto dele. À pergunta da esposa sobre o que havia ocorrido ele respondeu que estava concentrado no sermão enquanto se barbeava e, distraidamente, se cortou. Em tom jocoso, a esposa disse: “Da próxima vez, se concentre na barba e corte seu sermão?”[12] Spurgeon aconselhou aos jovens pregadores: “Quando um homem tem bom material preparado não excederá 30 minutos; quando tem menos a dizer, irá aos 45 minutos; e quando não tem absolutamente nada, precisará de uma hora para dizê-lo”.[13]
Outro aspecto da pregação evangelística é o emprego da técnica usada por Jesus, na arte de fazer perguntas, permitindo que as respostas brotassem da mente dos discípulos (Mt 21:23-46). O uso do diálogo não é novo. Sócrates usava esse método com efeitos devastadores. Para isso, faça aos ouvintes perguntas que os levem de um ponto a outro na Bíblia. Isso fará com que eles pensem que por si mesmos estão descobrindo a verdade, na medida em que o tema se desdobra em sequência lógica. Num tempo de dúvida, os métodos de pergunta e resposta e do diálogo são as melhores estratégias para ensinar pessoas secularizadas.[14] Extraia da audiência uma manifestação de opinião: “Os que reconhecem ser verdade o que estou dizendo levantem a mão”.[15]
Olhe nos olhos da audiência. Não fixe o olhar no teto, no assoalho, janela ou algo fora do auditório. Olhe para o povo com quem você fala. Estude a expressão dos rostos, como reagem ao que você fala. Se você estiver perdendo a atenção, não aumente o tom de voz, mas diga algo interessante. Dê-lhes uma ilustração.
Faça pausa; mude a velocidade e a entonação da voz. Fale devagar, mas não muito lentamente. Uma palavra hoje e outra amanhã é uma espécie de fogo lento que só os mártires podem suportar.
Preocupar-se em ter uma mensagem bíblica, relevante e clara é importante para a pregação evangelística. Porém, não se esqueça de que há vários tipos de pessoa em cada auditório. Algumas não são convertidas nem sabem como viver. Outras são convertidas, mas precisam de luz sobre a maneira de viver. E ainda outras conhecem as normas do cristianismo, mas não tiveram uma experiência transformadora. Todos esses casos precisam ser levados em consideração no momento do preparo e apresentação da mensagem. Creio que é muito proveitoso ler sermões de evangelistas de sucesso como base para os nossos. Não se sinta constrangido em usar argumentos e material de outro evangelista mais experiente. Porém, em vez de refletir o pensamento de outro, adapte e estude o sermão até que ele passe ao seu próprio estilo e personalidade.
Referências:
1 Lewis H. Christian, Report of evangelistic council and ministerial association meetings, São Francisco, 22/05/1941.
2 Ellen G. White, Evangelismo, p. 169.
3 Roy Joslin, Urban Harvest (Inglaterra: Evangelical Press, 1982), p. 112.
4 Ellen G. White, Obreiros Evangélicos, p. 381.
5 Ron Gladden, Plant the Future (Nampa, ID: Pacific Press Publishing Association, 2000), p. 17.
6 Charles Van Engen, You Are My Witnesses (Nova York: Reformed Church Press, 1992), p. 46.
7 Roy Joslin, Op. Cit., p. 165-169.
8 Mark Galli e Craig Brian Larson, Preaching That Connects (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1994), p. 9.
9 Ellen G. White, Evangelismo, p. 152, 177, 187.
10 Roy Allan Anderson, O Pastor Evangelista (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1982), p. 218.
11 Ellen G. White, Evangelismo, p. 183.
12 Michael Hodgin, 1001 Humourous Illustrations for Public Speaking, (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1994), p. 321.
13 Charles H. Spurgeon, Lições Aos Meus Alunos, (São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1983), p. 83.
14 George Hunter III, How to Reach Secular People (Nashville: Abiongdon Press, 1992), p. 98.
15 Ellen G. White, Evangelismo, p. 197.