Ultimamente temos ouvido falar muito a palavra “resiliência”. Na igreja, nas empresas, nos consultórios médicos, sempre há alguém se referindo a ela.
Resiliência “é um conceito oriundo da física, que se refere à propriedade de que são dotados alguns materiais, de acumular energia quando exigidos ou submetidos a estresse sem ocorrer ruptura” (Wikipédia).
Para entendermos melhor basta vermos alguns exemplos. O elástico é um material resiliente, você pode esticá-lo até o seu limite e depois ele retornará à sua forma original. Outro exemplo é a vara de salto em altura usada em eventos esportivos. Ela se dobra ao peso do atleta, mas logo que passa a tensão, ela volta à sua forma original. Ela é resiliente.
A psicologia se apropriou deste conceito e o aplicou às pessoas. Alguém resiliente seria uma pessoa com capacidade de sofrer pressão ou enfrentar problemas de forma sóbria e depois retornar ao seu estado anterior.
O apóstolo Paulo sem dúvida é um bom exemplo de uma pessoa resiliente. Ele enfrentou duras provas ao longo da vida, mas não foi quebrado por nenhuma delas. Ele mesmo relata: Recebi dos judeus cinco quarentenas de açoites menos um. Três vezes fui açoitado com varas, uma vez fui apedrejado, três vezes sofri naufrágio, uma noite e um dia passei no abismo; Em viagens muitas vezes, em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos dos da minha nação, em perigos dos gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre os falsos irmãos; Em trabalhos e fadiga, em vigílias muitas vezes, em fome e sede, em jejum muitas vezes, em frio e nudez. Além das coisas exteriores, me oprime cada dia o cuidado de todas as igrejas (2 Coríntios 11:24-28).
Ele suportou muito sofrimento em favor do evangelho, porém no final da vida o percebemos sóbrio e calmo mesmo diante da morte. As cartas da prisão nos dão uma boa ideia a respeito disso. Paulo escreveu a Timóteo: Porque eu já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício, e o tempo da minha partida está próximo. Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda (2 Timóteo 4:6-8).
É até difícil imaginar alguém condenado à morte estar tão tranquilo, afirmando que não está morrendo simplesmente, mas está sendo oferecido como oferta a Deus. Não se trata de sacrifício humano. Paulo apenas está dizendo que a vida dele pertence a Deus e se for necessário morrer por Ele, isso acontecerá.
Isso é resiliência. Depois de uma vida dura e diante da morte iminente, há tranquilidade. O que fazia de Paulo um homem resiliente? Podemos encontrar a resposta nesse texto escrito a Timóteo.
Consciência tranquila
Paulo nos dá um indício de como estava sua consciência para com Deus naquele momento. “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé” (2 Timóteo 4:7). É perceptível que o apóstolo tinha uma consciência tranquila em relação aos seus deveres de cristão. Ele tinha feito tudo o que deveria fazer. Vale a pena analisarmos as três partes desta frase.
A vida cristã é um combate constante e Paulo sabia disso. Ela já havia afirmado: E todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, uma incorruptível (1 Coríntios 9:25). A própria preparação para o combate cristão é parte dele.
Somente deveis portar-vos dignamente conforme o evangelho de Cristo, para que, quer vá e vos veja, quer esteja ausente, ouça acerca de vós que estais num mesmo espírito, combatendo juntamente com o mesmo ânimo pela fé do evangelho (Filipenses 1:27). O Cristão também combate para manter a fé viva.
Encontramos ainda outro aspecto do combate mencionado por Paulo: Mas, mesmo depois de termos antes padecido, e sido agravados em Filipos, como sabeis, tornamo-nos ousados em nosso Deus, para vos falar o evangelho de Deus com grande combate (1 Tessalonicenses 2:2). É o combate da pregação do evangelho. Temos um inimigo que tenta atrapalhar a todo custo, mas não podemos desistir da luta.
A vida tem ainda outros combates que algumas vezes travamos. São lutas para manter a família, para ser fiel, para se manter saudável etc. São lutas comuns a todos e que às vezes machucam e deixa cicatrizes.
Além de combater, Paulo diz que “acabou a carreira”. Ele está falando do percurso que Deus traçou para ele e para cada cristão que se coloca sob Suas mãos. Deus tem propósitos para nossa vida e os cumprirá se nós assim o deixarmos. “Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira, e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus” (Atos 20:24). Cumprir a missão dada por Deus, foi para isso que o apóstolo dedicou a vida.
Paulo completa essa parte do pensamento dizendo: “Guardei a Fé”. Mesmo diante das dificuldades, ele não vacilou na fé. Ele estava dizendo que diante de todas as provas enfrentadas ele esteve firme aos princípios divinos. “Cada cristão guarda “a fé” quando vive pessoalmente seus princípios. A sinceridade da fé de um cristão se mede pela amplitude com a qual reflete esses princípios” (CBA – eletrônico).
Diante do percurso da vida, Paulo sabia que tinha feito tudo o que deveria fazer e por isso estava com a consciência tranquila. Esse era o primeiro segredo da resiliência paulina.
Certeza da recompensa
A segunda faceta da capacidade de Paulo de suportar as provas relaciona-se com uma certeza que ele guardava em seu coração. Ele sabia que sua “coroa da justiça está guardada (2 Timóteo 4:8). Perceba que ele usa o verbo no presente, indicando a convicção que tinha.
Durante suas horas mais difíceis de luta pela fé, o esplendor da promessa de seu Senhor lhe deu esperança. Paulo não tirava os olhos daquele lugar lindo de tal forma que ele não conseguiu descrever: “as coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, E não subiram ao coração do homem, São as que Deus preparou para os que o amam” (1 Coríntios 2:9).
Paulo sabia que a recompensa era maravilhosa e certa. Diante das adversidades e, muitas vezes, injustiças da vida, não podemos tirar os olhos da recompensa eterna. A visão da recompensa ajudava Paulo a resistir nas provas, a ser resiliente.
Amar a vinda de Cristo
Há um terceiro elemento importante no conjunto de fatores que contribuíram para a força de Paulo diante das provas. Ele escreveu que a recompensa seria dada “a todos os que amarem a sua vinda” (2 Timóteo 4:8).
O retorno de Cristo à Terra não é para ser aguardado apenas, é para ser amado. Há uma diferença significativa. Muitas vezes dizemos que aguardamos a volta de Cristo, mas vivemos como se Ele nunca fosse voltar. Quem ama a vinda dEle, espera ansioso todos os dias e trabalha para que aconteça o mais rápido possível.
Paulo sonhava com a volta de Jesus. Ele escreveu: Porque, se cremos que Jesus morreu e ressurgiu, assim também aos que dormem, Deus, mediante Jesus, os tornará a trazer juntamente com ele. Dizemo-vos, pois, isto pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, de modo algum precederemos os que já dormem. Porque o Senhor mesmo descerá do céu com grande brado, à voz do arcanjo, ao som da trombeta de Deus, e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos seremos arrebatados juntamente com eles, nas nuvens, ao encontro do Senhor nos ares, e assim estaremos para sempre com o Senhor. (I Tess. 4: 14 – 17).
A vontade de ver Jesus era tão grande que Paulo falava dela como se fosse acontecer ainda enquanto ele estivesse vivo. Ele cria que seria ainda em sua geração e pregava assim. Quando o desanimo batia à porta, Paulo olhava para o céu e sentia o frescor da esperança da volta de Cristo. Isso o fazia resiliente.
Resiliência recebida
A resiliência de Paulo era fruto da fé nas promessas de Deus. Ele se torna um precioso exemplo para nós. Diz Ellen White: “Quase vinte séculos se passaram desde que o idoso Paulo derramou seu sangue em testemunho da Palavra de Deus e para testificar de Jesus Cristo. Nenhuma mão fiel registrou para as gerações vindouras as últimas cenas da vida deste santo homem; a inspiração, porém, nos preservou seu testemunho ao morrer ele. Como o clangor de uma trombeta, sua voz tem repercutido através de todos os séculos, enrijando com sua coragem milhares de testemunhas de Cristo, e despertando em milhares de corações, feridos pela tristeza, o eco de sua alegria triunfante: “Eu já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício, e o tempo de minha partida está próximo. Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a Sua vinda.” II Tim. 4:6-8”. (Atos dos Apóstolos, 513).
Todos enfrentamos problemas. Constantemente somos dobrados pelas provas, apertados pelas aflições da vida, postos no fogo das tentações. Assim como um elástico, muitas vezes somos provados até o limite das nossas forças. É assim no mundo de pecado, infelizmente.
Aqueles, no entanto, que, como Paulo, tiverem consciência tranquila do dever cumprido, certeza da salvação em Cristo e amor por sua vinda, passarão pelos problemas e não sofrerão danos. A pressão da vida não modificará a sua fé, não diminuirá sua alegria, não moverá seus olhos do Salvador. Deus dá a quem quiser a capacidade de suportar e superar os problemas.
Talvez você esteja precisando agora de resiliência divina. O Senhor que a deu a Paulo e que na cruz nos deu o maior exemplo de resiliência da história, pode dá-la a você agora. Peça e você receberá, Ele prometeu.