Retrato de um líder

Em vez de esperar as circunstâncias certas, a fim de que possa agir, você deve mudar as circunstâncias

Uma definição simples do que seja visão é que ela envolve a capacidade que uma pessoa tem de “ver algo antes que seja visto”. Antes de qualquer grande invenção, realização ou ideia transformadora, alguém teve uma visão, ou seja, alguém viu antes.

Um dos líderes bíblicos com visão foi Jônatas, filho de Saul. O capítulo 4 do primeiro livro de Samuel focaliza uma atrativa história de implementação visionária, que tem aplicações práticas para os líderes de hoje. O incidente aconteceu quando os israelitas estavam em má condição, nas mãos dos filisteus. O povo estava desmoralizado. O rei estava perturbado, os inimigos os estavam destruindo.

Partilhe com a pessoa certa

“Certo dia, Jônatas, filho de Saul, disse ao seu jovem escudeiro: ‘Vamos ao destacamento filisteu, do outro lado’. Ele, porém, não contou isso a seu pai” (1Sm 14:1).

Caso você tivesse um plano para atacar um inimigo, não seria mais lógico compartilhá-lo com o rei? Porém, Jônatas escolheu nada dizer a seu pai, o rei. Ele partilhou o plano apenas com seu escudeiro de confiança.

Precisamos ser cuidadosos e saber com quem compartilhamos nossa visão. Algumas pessoas se oporão a nossos sonhos. Outras rirão de nós, ou questionarão nossa sabedoria. Portanto, não espere que todos sejam capazes de perceber sua visão. Outros podem não compreender sua previsão, porque não é a visão deles.

Oposição não significa que seu objetivo não seja digno de ser perseguido. Embora você não queira ser negligente nem irresponsável, deseja avançar pela fé. As maiores ideias inicialmente receberam oposição ou descaso. Assim, se você está convicto de que Deus lhe deu uma visão, não se importe com a crítica. Ela pode ajudá-lo. Pode ser a lixa com que Deus está polindo a obra de arte que você está construindo com Ele. Ao mesmo tempo, não deixe que a crítica detenha seu progresso; afinal, o maligno é contra tudo o que Deus abençoa.

Vá em frente

“Saul estava sentado debaixo de uma romãzeira na fronteira de Gibeá, em Migrom. Com ele estavam uns seiscentos soldados, entre os quais Aías, que levava o colete sacerdotal. Ele era filho de Aitube, irmão de Icabode, filho de Fineias e neto de Eli, o sacerdote do Senhor em Siló. Ninguém sabia que Jônatas havia saído” (v. 2, 3).

Três grupos estavam acampados sob uma romãzeira, e todos tinham parte na visão para derrotar o inimigo. Havia o rei Saul, que devia ter um plano para liquidar os adversários. Com ele estavam os soldados que deviam executar a visão de Saul; Aías, o líder religioso devia confirmar a visão. Todos eles tinham algo a fazer, mas nada fizeram.

Os desmoralizados líderes, sentados sob a romãzeira, sentiam tristeza por eles mesmos enquanto Jônatas, um jovem, agia. Mas “ninguém sabia que Jônatas havia saído”. Enquanto as autoridades permaneciam sentadas, ruminando a derrota prevista, a nova geração se movia.

Jônatas preferia morrer a permanecer inativo. Ele pensou que ter um plano e tentar fazer alguma coisa e falhar era melhor do que nada fazer e nada sofrer. O maior inimigo da igreja destes últimos dias não é o mundanismo, mas a indolência. Deus nos chama para fazer alguma coisa. Ação é mais importante que discursos, gráficos, ideias, opiniões, palavras e desejos. O que dizemos não é tão importante como o que fazemos. “Opiniologia” não está incluída nos dons espirituais.

Durante o tempo em que pastoreei certa igreja, tínhamos um time de futebol com o qual esperávamos interagir e fazer amigos na comunidade. Às vezes, eu conseguia jogar e, no transcorrer da partida, todo mundo na audiência tinha uma opinião. Certo dia, pensei ter ouvido alguém gritar: “Tirem o pastor! Ele é péssimo!” Durante o intervalo, muitas pessoas nos ofereceram ideias, conselhos e estratégias. Não somente eram diretas e insistentes quanto ao que devíamos fazer, mas ficavam aborrecidas se não jogássemos segundo a maneira que pediam.

Não seria isso um pouco parecido com o trabalho da igreja? Muitos observam, queixam-se, aconselham, mas poucos realmente trabalham. Algumas vezes, uns 20% da congregação fazem 80% do trabalho. Deus não espera que façamos tudo, mas espera que façamos algo. A ação inspira nossos irmãos, desenvolve nossas forças, e capta a atenção de Deus. Talvez você tenha no computador o esboço de uma grande ideia para sua igreja ou área de trabalho. O que impede você de implementá-la? Em vez de esperar as circunstâncias certas, mude suas circunstâncias. As pessoas podem não erguer uma estátua em sua homenagem, mas seu Criador sorrirá. Faça algo!

Troque o medo pela fé

“Jônatas disse a seu escudeiro: ‘Vamos ao destacamento daqueles incircuncisos. Talvez o Senhor aja em nosso favor, pois nada pode impedir o Senhor de salvar, seja com muitos ou com poucos’” (v. 6).

É natural, e até saudável, ter algum temor. Antes de agir sobre uma visão recebida de Deus, se você não ficar um pouco apreensivo, então provavelmente essa visão não tenha sido originada em Deus. Se você já soubesse o que poderia fazer, por que necessitaria de Deus? Mas, se você esperar que cesse o temor, antes de alguma grande realização, provavelmente jamais o consiga. Um visionário tentará grandes coisas, apesar do temor.

A fé motivou Jônatas à ação. Ele disse: “Vamos!” Mas, escondeu na fé uma crise de dúvida: “Talvez o Senhor aja em nosso favor.” Como parte de Seu plano, algumas vezes Deus nos permite experimentar turbulências antes de triunfar, de modo que, no fim do dia, compreendamos que nada fizemos por nós mesmos.

Cedo em meu ministério, ouvi esta declaração: “Se Deus não estiver totalmente envolvido no que você está fazendo, isso será absolutamente inútil e está destinado ao fracasso.” O que você fez neste ano, que o tirou de sua zona de conforto? Que riscos, sem precipitação, você tem proposto às pessoas que você lidera? Que ideia ousada e inovadora, fora do comum, você implementou? Use o pincel de Deus e repinte o quadro com vivas cores. Descubra a paixão pela vida em tudo o que você fizer. Você foi planejado para experimentar paixões audaciosas.

O poder de muitos

“Disse o seu escudeiro: ‘Faze tudo o que tiveres em mente; eu irei contigo.’” (v. 7).

Jônatas compreendeu que, embora julguemos ser mais fácil fazer algo sozinhos, é mais efetivo quando envolvemos outras pessoas. Há uma pequena palavra, com grande poder, e essa palavra é a conjunção “e”. Uma coisa é dizer: “Eu”. Outra coisa é dizer: “Eu e minha igreja”. O que nós falhamos em compreender algumas vezes, em nossa sociedade polarizada, é que necessitamos uns dos outros. A unidade de muitos multiplica o impacto.

Deus nos criou para comunidade. Ele partilha enfaticamente que uma visão deve ser dada primeiramente ao líder, mas não exclusivamente. Uma visão certa, partilhada com a pessoa certa, no tempo certo e com o objetivo certo será executada da melhor forma, em menos tempo. Nesta vida, necessitamos de mentores, pessoas sábias a quem possamos ouvir. Eles têm experiência e podem nos ajudar a encontrar maneiras de tratar com todas as situações. Também necessitamos de amigos, pessoas afetuosas nas quais podemos nos apoiar. Elas podem não ter todas as respostas, mas conhecendo-as, sabemos que podem fazer diferença.

A fim de cumprir a missão que o Senhor nos confiou, necessitamos de todas as pessoas. Tradicionais e contemporâneas, homens e mulheres, jovens e adultos, de primeira e segunda geração, colegas credenciados e irmãos voluntários. Somos uma igreja. Quando nos atacamos, criamos confusão nos jovens, desencorajamos os mais experientes e retardamos o progresso.

Hoje, oro pedindo que Deus conceda a você uma visão clara, ajudando-o a desenvolver um plano sustentável, e continue guiando você na liderança de um povo que precisa ver as coisas antes que elas aconteçam.