2 de dezembro de 2020

Recursos de Esperança

Recursos de Esperança

Recursos de esperança

Pr. Bruno Raso

 

“Há homens que lutam um dia e são bons. Há homens que lutam um ano e são melhores. Há aqueles que lutam muitos anos e são muito bons. Mas existem aqueles que lutam a vida toda, esses são os essenciais” (Bertold Brecht).

Não podemos nos contentar em lutar por um ano, ou muitos anos, temos que lutar a vida toda para fazer parte da gloriosa eternidade.

E como nos fortalecemos? Como lutar e vencer? Depois de pedir a orientação divina vamos analisar juntos Colossenses 3:12-17, para descobrir recursos para fortalecer e restaurar a esperança.

 

Escolhidos por Deus, consagrados e amados (Col. 3:12)

Essas três palavras eram as favoritas do povo judeu. Eles se consideravam o povo escolhido, a nação consagrada e os amados de Deus. Mas Paulo usa essas três palavras e as aplica para todos os seres humanos.

A escolha é sempre uma iniciativa divina. O ponto de partida da escolha é a soberania de Deus, a essência é o seu amor e o propósito é a santidade, separar o escolhido para viver uma vida diferente. Separados por Ele e para Ele como filhos e povo característico.

A santidade é a manifestação de uma vida em perfeita comunhão com Deus, Ellen White diz: “Como Deus é santo em Sua esfera, assim deve o homem caído, mediante fé em Cristo, ser santo na sua” (Atos dos Apóstolos, 559).

 

Vestidos de bondade e misericórdia (Col. 3:12)

A base do cristianismo é a relação mútua. A religião é comunhão com Deus e comunhão com o próximo; relação mútua é causada por elementos essenciais da graça:

  • Um coração de misericórdia. Quando Paulo escreveu isso, não se importavam com o sofrimento dos animais. Os doentes e feridos eram deixados para morrer, os loucos ou deficientes eram discriminados e abandonados. A mulher era simplesmente um objeto. Os idosos não tinham lugar na sociedade. O apóstolo desafia a ter um coração misericordioso, considerado, afetivo, carinhoso e amoroso.
  • Amabilidade, bondade. A virtude de alguém para a qual o bem do próximo é tão desejável como para si mesmo. Josefo utiliza essa palavra quando descreve a atitude de Isaque (Gen 26:16-25), que cavava poços e procurava água e então dava aos outros para que aproveitassem e desfrutassem.
  • Humildade. Não é escravidão. O ser humano é uma criatura humana. Deus é o Criador. Somos todos igualmente seus filhos, necessitados e dependentes. Não há espaço para arrogância.
  • Mansidão, cortesia. Combina a firmeza com a doçura. A pessoa é controlada porque Deus a controla. Nosso Comentário Bíblico Adventista afirma corretamente: “Mansedumbre es la ausencia de justificación propia, lo opuesto a agresividad. Es una ecuanimidad dulce y bondadosa. Nuestro Salvador fue el ejemplo perfecto de verdadera mansedumbre… [DTG 682]. El verdadero cristiano debe esforzarse por imitar ese Modelo en su vida diaria [DTG 320]” (T. 7, pág. 220).
  • Paciência. Só de pensar no modo paciente que Deus nos tratou nos compromete a ser mais pacientes com os outros. Ellen White nos diz: “O Senhor requer de nós, para com os Seus seguidores, o mesmo trato que dEle recebemos. Devemos exercer paciência, ser bondosos, mesmo quando não satisfaçam em todo particular as nossas expectativas. … Os últimos seis mandamentos especificam o dever do homem para com o homem. Cristo não disse: Tolera teu próximo, mas: ‘Amarás a teu próximo como a ti mesmo’ Tiago 2:8” (PC 176.4).

E no mesmo livro: “Daí por diante, lembrado [Pedro] de suas fraquezas e falhas, era paciente com os irmãos, em seus erros e deslizes; recordando o paciente amor de Cristo para com ele — amor que O levou a dar-lhe outra oportunidade para apresentar frutos de boas obras — manifestou ele espírito mais conciliador para com os que erravam” (PC 176.3).

 

Suportando-vos uns aos outros (Col. 3:13)

Suportando no sentido de amparo, de ser um apoio, um alicerce no qual outros podem construir e crescer. Isso é dito pelo Espírito de Profecia.

“A obra de nos animarmos uns aos outros na prática da santíssima fé é obra abençoada… Cada coração tem suas mágoas e decepções, e devemos procurar aliviar as cargas uns dos outros, manifestando o amor de Jesus aos que nos rodeiam. …Seja Jesus colocado em lugar especial do coração. Cristo é nosso exemplo. Ele andou fazendo o bem. Viveu para abençoar os outros. O amor embelezava e enobrecia todas as Suas ações, e somos ordenados a seguir Suas pisadas” (PC 183.4, 184.1 e 2).

 

Perdoar um ao outro (Col. 3:13)

O perdão de Deus por nós inspira e nos compromete a perdoar os outros. Recebemos um grande perdão. Como podemos não perdoar aqueles que nos ofendem? O modo, a quantidade, a profundidade com que perdoamos estabelece a sinceridade de nosso pedido ao Senhor: “Perdoa-nos assim como perdoamos a nossos devedores” O perdão é a ponte que nós mesmos temos que atravessar para alcançar o perdão de Deus.

Continuando no mesmo livro inspirado: “Ele é cheio de compaixão e perdão, e nos perdoa abundantemente quando em verdade nos arrependemos e confessamos nossos pecados. … Pedro, quando posto à prova, pecou grandemente. …Seu Senhor, porém, não o rejeitou; perdoou-lhe largamente. …O amor de Jesus deve fazer impressões em nossa vida. Terá uma influência suave e compassiva sobre nosso coração e caráter. Dispor-nos-á a perdoar aos nossos irmãos, mesmo que nos tenham ofendido” (PC, 176.2 e 3, 177.1).

 

Perfeitamente ligados pelo amor (Col. 3:14)

O amor é a graça que tudo coroa; é como um lindo vestido que cobre e dá brilho e valor à todas as demais virtudes. É a ligação ou vínculo que une, liga, coesa.

Vamos ver alguns pensamentos de escritores cristãos:

“Sem o cinturão do amor todas as outras virtudes são inúteis; ou seja, ficam penduradas no corpo perigosamente soltas, prestes a cair! (E. F. Scott).

“O amor é o poder motivador da fé, é a suprema graça cristã” (F. F. Bruce).

É esse amor que une, que liga, que destaca, que valoriza todas as virtudes em uma só pessoa, o mesmo amor que nos une com as outras pessoas em um mesmo corpo de crentes.

 

Governados pela paz (Col. 3:15)

Em Filipenses e Coríntios, Paulo se refere à paz como uma guardiã, uma proteção. Quando o amor e amargura lutam pela supremacia, a paz é o árbitro para definir a luta e resolver a disputa, tanto em conflitos internos como em externos, o indivíduo consigo mesmo ou em sua relação com os outros.

Estar em paz consigo mesmo é o fruto da relação vertical com Deus, viver em Deus e com Deus. Estar em paz com os outros é o fruto da relação horizontal. Governados pela paz para viver e conviver.

 

Ser gratos (Col. 3:15)

Philo, um filósofo judeu, ao escrever sobre os primeiros cristãos diz que eles passavam a noite toda cantando hinos e salmos de gratidão. Plínio, o governador de Bitínia, ao enviar um relatório dos primeiros cristãos ao imperador Trajano lhe disse: “Se reúnem ao amanhecer para cantar hinos a Cristo como Deus”.

Que bom que nos conheçam e nos identifiquem como pessoas agradecidas. A gratidão nasce em reconhecimento de quem eu sou e quem o outro é, seja Jesus ou qualquer um com quem tenhamos vínculo. Vamos ver este conselho pessoal da pena inspirada:

“O Senhor Se agradaria de que fizésseis um esforço para olvidar-vos a vós mesmos. Começai a dar graças ao Senhor por vosso lar e vossas aprazíveis cercanias, bem como pelas muitas bênçãos temporais que Ele vos concede. Dando agradecimentos ao Senhor por Sua bondade, podeis fazer algo para Aquele que tudo fez por vós. Contemplai as profundezas da compaixão que o Salvador sentiu por vós. Ele deu Sua vida por vós, sofrendo a cruel morte da cruz. Não podeis louvar ao Senhor por isso?” (EDD, 40.6).

Depois que foi para a Austrália Ellen White sofreu de reumatismo durante onze meses. Ela não podia dar um passo sem sentir muita dor. Durante esses onze meses de sofrimento seu braço direito esteve saudável a partir do cotovelo, assim ela pode usar a pena e escreveu 2.500 páginas em papel tamanho carta para ser publicado. Durante esse período ela sentiu as dores mais terríveis de sua vida. Ela mesma escreveu:

“Para tudo isso há, porém, um aspecto agradável. Meu Salvador parecia estar bem perto de mim. Senti Sua sagrada presença em meu coração, e fiquei muito grata. Esses meses de sofrimento foram os meses mais ditosos de minha vida, em virtude do companheirismo de meu Salvador. … Seu amor encheu-me o coração. No decorrer de toda a minha enfermidade, Seu amor, Sua terna compaixão, eram o meu conforto” (EDD, 41.4).

E a partir de sua própria experiência ela nos desafia: “Olhai para Jesus, vosso compassivo e amoroso Salvador. Se lançardes vossa alma desamparada sobre Cristo, Ele trará alegria e paz a vossa alma. Será vossa coroa de regozijo, vosso grandíssimo galardão” (EDD, 41.5).

 

Instruídos e aconselhados pela Palavra de Cristo (Col. 3:16)

Em Efésios Paulo diz que o Espírito habita, e em Colossenses ele diz que a Palavra habita ricamente, abundantemente. A Palavra de Cristo é o que Cristo pregou, o evangelho e tudo o que, baseado na palavra escrita, é pregado sobre Cristo.

Os judeus tinham cerca de 10.000 palavras em seu vocabulário. Para eles a palavra era mais do que apenas um som, era algo vivo. Uma unidade de energia carregada com poder. Uma bala voando em direção a um alvo. Um poder que faz as coisas. Pela palavra do Senhor foram feitos os céus. Ele falou e existiu. Ele mandou e tudo se fez.

Os gregos tinham cerca de 200.000 palavras. Para eles a palavra, o logos, era razão, sabedoria, fluxo, princípio, ordem, perfeição e poder. A PALAVRA já existia, não foi criada, Jesus era Deus, estava com Deus, esteve sempre, tudo foi criado por Ele. Com esse Jesus poderoso e criador e com sua palavra podemos e devemos ter hoje uma relação especial.

 

Fazendo tudo em nome do Senhor (Col. 3:17)

O próprio apóstolo diria: “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para a glória de Deus” (I Cor. 10:31). E Ellen White concluiria:

“Fomos comprados por um preço. Fé e obras devem tornar-nos completos em Cristo. Dessa maneira observaremos o caminho do Senhor. Quando o coração é manso e humilde, Deus pode sensibilizar a pessoa. A Palavra de Deus é nossa conselheira. Obedeçamos a seus ensinos. …Em toda nossa obra precisamos manter a glória de Deus em vista” (OA 273.2 e 3).

 

Conclusão

Analisamos esses recursos para fortalecer e restaurar. Somos escolhidos, consagrados e amados por Deus, e vestidos de amor e misericórdia para suportar e perdoar uns aos outros, para nos unir perfeitamente em amor, para sermos governados em paz, agradecidos, guiados pela Palavra de Deus, para fazer tudo em nome do Senhor.

K’naan nasceu e cresceu em terras africanas distantes, em seu idioma original, somali, seu nome significa “viajante”. Ele cresceu em meio a guerra e a fome. Hoje ele é um produtor, músico e poeta. Ele já não sofre mais em sua Somália natal, ele desfruta das terras norte-americanas “seguras” (EUA e Canadá), e seu maior sucesso foi produzir o hino oficial da Copa do Mundo de 2010 na África do Sul, titulado “Waving Flag”, Bandeira ao Vento. Hino que já foi adotado por muitos países como um hino de esperança.

Em sua mensagem, essas frases se destacam: Quando eu ficar mais velho vou ser mais forte. Me chamarão de liberdade. Com uma tendência violenta, zona de pobres. Fora da escuridão, eu vim mais longe. Entre os mais árduos sobreviventes. Não aceitar a derrota, a renúncia, o recuo. Porque seguimos em frente como Soldados. E nos perguntamos quando seremos livres. Então esperamos pacientemente esse dia fatídico como uma bandeira ao vento. (Trad. Vagalume)

Queridos, como K’naan somos viajantes, sofrendo em um mundo estragado por nossa própria escolha rebelde de pecado. Graças a Deus que Jesus levantou a bandeira manchada com seu sangue com sua própria vida e pagou o preço por nossa redenção. Hoje, em meio às dificuldades, devemos levantar a bandeira da esperança, fortalecer o vínculo de amor perfeito em nossas vidas, em nossa família, em nossa comunidade, para que em breve, quando a guerra e a pobreza terminarem, quando formos grandes e fortes, a bandeira da liberdade se mova ao vento definitivamente, para o fim do pecado, e uma vida nova e para sempre.

Não aceitamos derrotas; é impossível desistir. Lutando e batalhando em breve chegaremos ao fim da viagem, à Canaã prometida, nosso novo e definitivo lar. Um lugar onde junto cantaremos o hino oficial de inauguração do universo purificado e compartilharemos o mesmo trono com Deus. Não aceitamos derrotas; é impossível desistir. Lutando e batalhando, porque esse dia não está tão longe.

“E ao transcorrerem os anos da eternidade, trarão mais e mais abundantes e gloriosas revelações de Deus e de Cristo. Assim como o conhecimento é progressivo, também o amor, a reverência e a felicidade aumentarão. Quanto mais aprendem os homens acerca de Deus, mais Lhe admiram o caráter. …O grande conflito terminou. Pecado e pecadores não mais existem. O Universo inteiro está purificado. Uma única palpitação de harmonioso júbilo vibra por toda a vasta criação. DAquele que tudo criou emanam vida, luz e alegria por todos os domínios do espaço infinito. Desde o minúsculo átomo até ao maior dos mundos, todas as coisas, animadas e inanimadas, em sua serena beleza e perfeito gozo, declaram que Deus é amor” (GC, 678).

 

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