7 de abril de 2021

Significado, razões e importância do jejum

Significado, razões e importância do jejum

Significado, razões e importância do jejum

Pr. Adolfo S. Suárez

A crise era nacional. Toda uma nação estava em perigo iminente: o decreto ordenava a morte dos judeus. Muito aflita, a rainha Ester envia este recado a Mordecai: “Vá e reúna todos os judeus que estiverem em Susã, e jejuem por mim. Não comam nem bebam nada durante três dias, nem de noite nem de dia. Eu e as minhas servas também jejuaremos. Depois, irei falar com o rei, ainda que seja contra a lei; se eu tiver de morrer, morrerei” (Ester 4:15-17).

Diante da tensão que tirava a tranquilidade de milhares, a rainha propôs um jejum como preparativo para a resolução do conflito. O que aconteceu? Sabemos o fim dessa história: Deus poupou a vida dos judeus, transformando a angústia em paz e alegria.

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Significado do jejum

Como se pode perceber no incidente narrado acima, o jejum era considerado uma prática muito importante na vida do povo de Deus. Mas, o que ele significa? Um breve olhar nas palavras bíblicas é bastante esclarecedor. O substantivo hebraico tsom pode ser traduzido como “rápido” ou “jejum”, enquanto o verbo “jejuar” é tsum. Além disso, a expressão vétero testamentária “afligir a alma” se refere ao jejum; essa expressão ilustra o fato de que o jejum bíblico era mais um exercício espiritual do que a tentativa de punir a carne de alguma forma. Por outro lado, o jejum também enfatizava que a vida espiritual do povo de Deus era mais importante do que sua existência física.[1]

No Novo Testamento, nestis significa “ter o estômago vazio”; desta palavra derivam nesteuo, “jejuar”, e nesteia, “jejum”. Tanto em sua forma verbal e substantivada, essas palavras significavam “não comer”, “abster-se de comida”, “passar fome”.[2] Assim, o estudo das palavras bíblicas e a avaliação da prática entre o povo nos mostra que jejuar geralmente significava ficar sem comida e bebida por um período, e não apenas abster-se de certos alimentos.[3]

razões para a prática do Jejum

Não havia um mandamento específico que orientasse o jejum dos israelitas, mas a leitura da Bíblia deixa evidente que certas ocorrências privadas e públicas motivavam o jejum; vamos mencionar algumas delas.[4]

a. Guerra ou ameaça

Israel jejuou em Betel, na guerra contra os benjamitas (Jz 20:26); em Mispa na guerra filistina (1Sm 7:6); Saul não comeu durante todo o dia e toda a noite antes de sua visita à feiticeira de En-Dor (1Sm 28:7-20). O jejum poderia ser imposto sobre guerreiros numa campanha (Jz 20:26; 1Sm 7:6), embora a evidência seja insuficiente para concluir que ele sempre foi exigido. Saul lançou uma maldição sobre o homem que comesse antes da noite, a fim de se vingar de seus inimigos filisteus. A desobediência de Jônatas da ordem de seu pai lhe custaria a vida se o povo não interviesse (1Sm 14:24ss.).

b. Doença

Davi jejuou e chorou por seu filho enquanto o menino estava doente, mas quando o menino morreu, contrário às expectativas de seus servos, ele se lavou, se ungiu, entrou na casa do Senhor e então pediu pão (2Sm 12:16ss.). O sal­mista também menciona o jejum por seus amigos doentes (SI 35:13).

c. Luto

Os homens de Jabes-Gileade jejuaram sete dias por Saul (1Sm 31:13; 1Cr 10:12); Davi e o povo jejuaram por Saul e Jônatas (2Sm 1:12); e o costume do jejum no luto é considerado um comportamento normal (12:21).

d. Penitência

Calamidades eram considera­ das manifestações da ira divina. Entretanto, os atos de penitência eram uma forma de acabar com elas. Talvez neste aspecto deva ser interpretado o jejum pedido por Jezabel, no qual o destino de Nabote foi decidido (1Rs 21:9ss.). Acabe jejuou após ser ameaçado por Elias por ter tomado a vida de Nabote e sua vinha (21:27). O jejum geral por ocasião da leitura pública da lei por Esdras foi um ato de penitência (Ne 9:1).

e. Perigo iminente

Josafá jejuou quando ame­açado por Moabe e Amom (2Cr 20:3). Jeoaquim proclamou um jejum no nono mês do seu quinto ano (Jr 36:9). Esdras conduziu um jejum quando procurava obter o favor de Deus concernente ao seu retomo do exílio (Ed 8:21) — uma jornada provavelmente cheia de muitos perigos, mas para a qual ele não queria pedir guardas armados. Neemias jejuou quando soube do estado de Jerusalém (Ne 1:4). Os judeus jejuaram quando ouviram que Hamã tinha obtido o decreto contra eles (Et 4:3); Ester e Mordecai jejuaram antes que ela fosse ao rei (4:16). O ataque de uma praga de gafanhoto poderia ocasionar um jejum, no qual todos os elementos da comunidade — pessoas, anciãos, crianças e até a noiva e o noivo — participariam (J1 1:14; 2;15).

f. Seca

Durante o 1º século, o jejum foi o método preferido de apelar ao Senhor por chuva. Se a chuva não caísse no devido tempo, primeiramente indivíduos jejuavam de maneira voluntária, mas se essa ação fosse ineficaz, um jejum público de três dias era proclamado. Se a chuva não caísse, mais três dias eram proclamados e, se necessário, mais sete, num total de treze. Estes eram de severidade progressiva. No primeiro, comer e beber após o anoitecer, lavar-se, ungir-se, colocar sandálias e ter relação sexual eram permitidos. No segundo período, esses eram proibidos e no último período as lojas eram fechadas, exceto às segundas-feiras, após o anoitecer, e às quintas-feiras. O shofar era tocado. O indivíduo não poderia se desassociar da comunidade neste período e recusar-se a jejuar. Esses costumes e outras práticas dejejum judaicos são temas longamente abordados no Tratado da Mishna, Ta‘anit.

Duração do jejum

  • Normalmente um jejum tinha a duração de um dia (Jz 20:26; 1Sm 14:24; 2Sm 1:12; 3:35) do nascer ao pôr-do-sol, após o qual poderia se comer.
  • Ou o jejum poderia ser por uma noite (Dn 6:18).
  • O jejum de Ester durou três dias, dia e noite, o que parece ser um caso especial (Et 4:16).
  • Também é dito que Jesus jejuou dia e noite (Mt 4:2).
  • No enterro de Saul o jejum de Jabes-Gileade foi de sete dias (1 Sm 31:13; 1Cr 10:12).
  • Davi jejuou sete dias quando seu filho, nascido após seu caso amoroso ilícito com Bateseba, não estava bem (2Sm 12:16-18).
  • O jejum de Moisés por quarenta dias (Ex 34:28; Dt 9:9), de Elias (1Rs 19:8) e de Jesus (Mt 4:2; Lc 4:2) são os mais longos registrados na Escritura.
  • Uma forma alternativa de jejum poderia envolver abstinência de vinho, carne, comida saborosa e ungir-se por um período prolongado, tal como três semanas (Dn 10:2).[5]

 

Atitudes que devem acompanhar o jejum

É necessário destacar que a prática do jejum era acompanhada por algumas atitudes muito importantes:[6]

1. Orações e súplicas

Daniel buscou ao Senhor “com oração e súplicas, com jejum, vestido de pano de saco e sentado na cinza” (Dn 9:3).

2. Confissão de pecados

Samuel e o povo de Israel jejuaram em Mispa, “e ali disseram: Pecamos contra o Senhor” (1Sm 7:6); da mesma forma, na época de Neemias os filhos de Israel se reuniram para jejuar, e “puseram-se em pé e fizeram confissão dos seus pecados e das iniquidades de seus pais” (Ne 9:1-2).

3. Humilhação

Moisés afirma: “Fiquei prostrado diante do Senhor durante quarenta dias e quarenta noites. Não comi pão e não bebi água, por causa de todo o pecado que vocês haviam cometido, fazendo o que é mau aos olhos do Senhor, para o provocar à ira” (Dt 9:18).

4. Leitura da Sagrada Escritura

O profeta Jeremias ordenou a Baruque: “Eu estou preso; não posso entrar na Casa do Senhor. Vá você até lá e, do rolo que você escreveu, segundo o que eu ditei, leia em voz alta todas as palavras do Senhor, diante do povo, na Casa do Senhor, no dia de jejum” (Jr 36:5, 6).

Tipos de jejum

Três tipos de jejum são geralmente reconhecidos no cristianismo: normal, em que não há ingestão de alimentos por um período de tempo prescrito, embora possa haver ingestão de líquidos; parcial, em que a dieta é limitada, embora alguns alimentos sejam permitidos; e absoluto, em que há uma abstinência total de alimentos e líquidos em todas as formas.[7]

um convite especial

Neste sábado 1º de maio está ocorrendo um evento especial em todo o território da DSA: O Jejum “Restauração”; durante 10 horas estamos jejuando orando, lendo a Escritura e clamando por 10 motivos especiais: a restauração dos enfermos, das famílias enlutadas, da solidariedade, dos casamentos, do culto da família, das forças para os profissionais de saúde, da confiança em Deus, do compromisso espiritual, do estudo da Bíblia, e a restauração dos que se afastaram de Jesus.

Todos os adventistas estão convidados; por isso, participe, seja de um jejum parcial, normal ou absoluto. Vivemos tempos de crise, e o jejum pode preparar o nosso coração para a resolução de conflitos, para o recebimento de bênçãos ou para aceitar humildemente a vontade de Deus em nossa vida.

[1] Carpenter, E. E., & Comfort, P. W. (2000). In Holman treasury of key Bible words: 200 Greek and 200 Hebrew words defined and explained (p. 58). Nashville, TN: Broadman & Holman Publishers.

[2] Lothar Coenen e Colin Brown. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida, Nova, 2000, p. 1.066.

[3] Belben, H. A. G. (1996). Fasting. In D. R. W. Wood, I. H. Marshall, A. R. Millard, J. I. Packer, & D. J. Wiseman (Orgs.), New Bible dictionary (3rd ed., p. 364). Leicester, England; Downers Grove, IL: InterVarsity Press.

[4] Merrill C. Tenney, organizador. Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã, volume 3. São Paulo: Cultura Cristã, 2008, p. 397-398.

[5] Merrill C. Tenney, organizador. Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã, volume 3. São Paulo: Cultura Cristã, 2008, p. 398.

[6] Swanson, J., & Nave, O. (1994). New Nave’s Topical Bible. Oak Harbor: Logos Research Systems.

[7] Bass, C. B. (1988). Fast, Fasting. In Baker encyclopedia of the Bible (Vol. 1, p. 780). Grand Rapids, MI: Baker Book House.

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