Faz muito tempo que um texto do livro de Jeremias exerceu em mim grande impacto: “Quando pensei: não me lembrarei dele e já não falarei no seu nome, então, isso me foi no coração como fogo ardente, encerrado nos meus ossos; já desfaleço de sofrer e não posso mais” (Jr 20:9). Eu era apenas um adolescente, esperando o momento em que iniciaria meu preparo ministerial, quando li esse texto pela primeira vez. O impacto foi tão forte que ele ficou indelevelmente gravado em minha mente e em meu coração, com as mesmas palavras da versão bíblica a que tive acesso na ocasião: “Quando pensei: não me lembrarei dele e já não falarei no seu nome, então a Sua Palavra me foi no coração, como fogo ardente, encerrado nos meus ossos; fiquei cansado de suportar e não consegui deter-me.”
Essa declaração está incluída em um lamento (Jr 20:7-18), no qual o profeta, conhecido como pessoa sensível, expressa sentimentos próprios da humanidade, embora a história de sua vida e seu ministério deixe claro que esses sentimentos não prevaleceram sobre a convicção do dever profético.
No mencionado texto, encontramos Jeremias lutando com alguma dose de frustração. Diante disso, ele foi tentado a imaginar que a única saída que lhe restava era renunciar à missão de ser porta-voz de Deus. Decidiu, então, calar-se e jamais mencionar o nome de Deus para qualquer pessoa, mas isso não funcionou. A convicção do chamado é irresistível, e Jeremias a sentiu como “fogo ardente”, queimando-lhe os ossos, impulsionando-o ao cumprimento do dever. Mesmo enfrentando dificuldades, sentiu que recuar seria ainda mais difícil do que avançar contra elas. Era preciso dar a mensagem, apesar da desonra e da perseguição. Então, o Senhor Se tornou para ele aquilo que deseja Ser para nós: “um poderoso guerreiro” capaz de nos livrar “das mãos dos malfeitores” (Jr 20:11, 13).
Tenhamos em mente que o chamado divino não remove do nosso caminho as dificuldades. “Obstáculos, oposição e amargo e desolador desânimo, o obreiro tem de enfrentar… A despeito de tudo isso, porém, encontra em seu trabalho uma bendita recompensa. Todos quantos se entregam a Deus num serviço desinteressado pela humanidade estão cooperando com o Senhor da glória. Esse pensamento adoça toda fadiga, retempera a vontade, revigora o espírito para qualquer coisa que possa sobrevir. Trabalhando com coração abnegado, enobrecidos pelo fato de ser participantes dos sofrimentos de Cristo, partilhando de Sua compaixão, eles contribuem para aumentar sua alegria, e trazem honra e louvor a Seu exaltado nome. Na companhia de Deus, de Cristo e dos santos anjos, são envolvidos num ambiente celeste, ambiente que traz saúde ao corpo, vigor ao intelecto e alegria ao coração” (Ellen G. White, Obreiros Evangélicos, p. 513).